quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

É preciso Escrever. As Palavras Tem Pressa

Por Rosangela Brunet


Eu não sou escritora, sou psicóloga e coach. Esta é a minha vocação.Mas, escrevo pra desatar meus nós .Escrevo para desentalar as letras travadas, desconsertar meu português horrível, que as vezes me deixa na mão quando eu mais preciso. Sempre que estou numa situação de impasse eu troco as terminologias ,e apesar de conhecer bem o conceito esqueço o símbolo que o designa.Outro dia troquei locador por locatário.Um rubor de avermelhar . Mas sei que a intensidade dos meus pensamentos sai dos porões desconhecidos , dos lugares escondidos , das passagens proibidas, das portas de emergência de onde nascem as palavras que transbordam em mim. Lá elas não se sustentam, então elas fogem pro lado de fora para encontrar um sentido, para descobrir abrigo em algum coração que me leia. 

A Palavra é minha salvação e sempre foi uma das minhas maiores companheiras ainda que caladas. Sempre gostei muito de pensar e de falar, era boa nisso.Mas de repente fiquei muda de cansaço. Ai comecei a escrever porque não havia mais outra maneira de me expressar. O silêncio calou minha boca e a Palavra me iniciou .Foi o símbolo se encontrando com o sentido de existir.Então, nasceu a Palavra em mim

Mais ainda há muito o que dizer. E as palavras tem pressa. Por isso, não interdite sua atenção com estes sígnos. Pois, como disse Clarice Lispector :" O que não sei dizer é mais importante do que o que eu digo."

“As palavras que movem e que constituem perigo são as palavras que não podem ser ditas em nenhuma língua: as palavras dos sonhos. [...] Quando não se fecha uma estória, a multidão fica contaminada pela doença de sonhar.”
(Mia Couto. "Antes de nascer o mundo").
Por isso, é melhor continuarmos com a dúvida, insistir na pergunta que fica gritando em nossos olhos, pairar sobre ela ,se esconder com ela até a luz desvendá-la..O que importa é o inominável; o que ansiamos é o inatingível. Isso é o que nos define. Bem(dita) seja a palavra,mas "Mas preste atenção no que eu não digo -
Paul Cezanne
"Forest Interior"

diz Leminsky .Pois, é "No "não dito" que habita o silêncio fértil ,é ali no entrecorte da comunicação, que o que nos constitui se sustenta . Por trás desses "nadas" que evitamos viver que a existência passa com a palavra disfarçada.No meio de temores e pulsões extraviadas ela nos espera para ser revelada O silêncio tem uma fonte nascente de significantes mal entendidos.Por isso, o poeta José Inácio Vieira de Melo disse: "As Palavras estão Grávidas " , e Livia Garcia Roza acrescenta " Estamos sempre no limite do impronunciável. Rubem Alves continua :É preciso educar os ouvidos a ouvir, e ouvir frequentemente as coisas que não são ditas(...)Há uma voz, há alguma coisa que é dita nos interstícios"
E, é essa voz que atravessa cortando o caminho para me constituir.É essa voz que me causa estranhamento e me insiste em existir
 

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Um Duelo de Titãs

Por Rosangela Brunet

O futuro é apenas uma hipótese;existo plenamente neste instante"
Pedro Maciel

Aos poucos vou desvendando estas pétalas que me cansaram.Estou abandonando a noite que me nasceu e morreu em mim.Os dias trouxeram certezas  e me levam a lutar , ainda que não eu saiba onde ir.A manhã me conta uma nova história,reinventa outro roteiro, redefine novos parâmetros A(manhã) é outro dia e eu não vou temer.Mas só como tempo eu entendi isso.Nessa   transfiguração existencial , o tempo despertou em mim sentimentos que
me demoram,e no meio da noite, me  insistem e entorpecem meus sentidos. Entender   sobre isso , abriu-se para mim a temporada da eternidade.Lugar de passagem e de transformação. Quem se engaja neste projeto de entender sobre o tempo não pode evitar esta hora. É o chamado da vida soprando meu destino. E, mesmo amparada pela rotina a oscilação das horas anuncia que a noite chegou. Alternância de emoções , alteração de presságios, mudança de calendário, desvio de rotas, atalhos distantes dos caminhos seguros. Chegou o fim do ciclo das águas. A hora de habitar a terra é inevitável. O solo nos espera para florescer.O terra me aguarda para servir de chão. O verão se esqueceu de aquecer.O ninho se esvaziou. Não há mais pátria ou lar. O rigor das voadas pairam no
Gone in 240 seconds... Fotografia de Charlie Joe
alvorecer. E só o canto dos livres pulsa em meu coração.É hora da transição.
E,nessa passagem , é na escuridão que o tempo se revela e decide falar. Os mistérios escondidos milênios atrás ,outrora adormecidos me acordam confessando verdades.Esse tempo que andava pulsando em meu coração pra me fazer parar, entende o compasso e ,agora me desafia no olhar e resolve passar por mim e me esperar. 
Mas ele é absoluto em sua existência.Denuncia minhas fraquezas Se declara no controle.Mas descobre que fui embora um dia sem lhe contar.Isso lhe confundiu .Ele estremeceu com a minha liberdade, se surpreendeu com meu destino me assistindo impotente. Ai , eu descobri seu mistério. O tempo corre porque perdeu a eternidade. Zomba de nós porque não tem alquimia .Duvida da paixão porque não sabe amar.Nega tudo que ele não possa controlar.Ele vampiriza os amantes , e depois se ancora na tormenta. Ele é um vilão limitado porque o tempo não passa no coração. Porque lá dentro é eternidade. Tudo que se aproxima de infinito corre pra lá. O tempo se reduz a limites.Mas o coração não pode demarcar o que sente. Com as mão nos olhos o céu se nega a considerar o tempo . Ele é como um ganancioso senhor vestido de rei ,mas é destruidor de sonhos.Ele é órfão. O Amor nunca o encontrou.
Na exatidão, o tempo é invencível .Por isso o sentimento se esgota e o tempo desiste de esperar. Mas o duelo persiste. São Titãs disputando a existência. Ambos entram na arena para ganhar a eternidade .Mas apenas um vai ganhar .
Ir até o fim é o meu fraco, ou o meu forte, ainda não sei dizer. E ,mesmo sem saber, vou sempre de cabeça. Não conheço o tempo..Fui até o fim .Vivi até morrer.Experimentei toda dor pra me sentir inteira.Nada me aprisionou. Imaturidade necessária, insensatez imprescindível. Essa é a minha vingança :o amor que escolho viver venceu" .E, eu descobri que o Tempo da Existência é eternidade do Amor 

domingo, 16 de fevereiro de 2014

Perda da Espontaneidade no Mundo Moderno

Por Rosangela Brunet
Obra de Charlie Spear." Roda Gigante"

O homem moderno vive num baixo grau de vitalidade.Ele acha que o tempo para diversão ,prazer,crescimento e aprendizagem é a infância e a juventude, e abdica da vida espontânea quando atinge a maturidade. Parece haver perdido toda capacidade de sentir e de se expressar direta e criativamente. Ele é muito bom falando em problemas, mas pouco sabe lidar com eles.  Reduziu a vida a uma série de exercícios verbais e intelectuais. Pouco sabe da verdadeira vida criativa. Fritz Perls [1]
O presente artigo tem como objetivo refletir sobre essa perda de vitalidade e  espontaneidade no  homem moderno, pois este  fenômeno tem causado impacto na sua vida cotidiana, proporcionando   uma falsa noção de prazer e liberdade.
Quando falo de espontaneidade me refiro a perda de um viver no mundo que ultrapassa as vertentes da superficialidade. Espontaneidade é a capacidade de viver equilibrado e em
Charlie Spear Roda Gigante
harmonia consigo mesmo e com o mundo. 
O homem tem medo de sua espontaneidade. Seus antepassados da selva temiam o fogo: temeram o fogo até que aprenderam a acendê-lo. Do mesmo modo, o homem temerá viver apelando à sua espontaneidade até que aprenda a provocá-la e a educá-la.
Jacob Levy Moreno
Ao longo da vida, o adulto vai perdendo a capacidade de perceber o mundo na medida em que os sentidos começam a serrem comprometidos. E, essa impossibilidade de uma percepção acurada do meio externo e de si mesmo esta diretamente ligada a falta de espontaneidade . 
O individuo que foi se socializando vai tentado se equilibrar entre seus desejos,necessidades e as demandas sociais .O grande desafio do homem moderno é encontrar esse equilíbrio entre a satisfação de suas necessidade e as demandas sócias.
Carl G. Jung (1980, p.g. 20) disse: "O excesso de animalidade deforma o homem cultural; mas o excesso de cultura cria animais doentes.” 
Não podemos viver somente em função de nossos instintos,mas também  nos tornamos doente se negamos aquilo que somos em prol das demandas sociais.Precisamos funcionar de forma equilibrada para que não nos tornemos animais irracionais, e nem pessoas adoecidas e incapazes de exercer sua função no mundo
A sociedade e a  cultura são 
 variáveis que precisam ser levadas em conta neste processo de reflexão.Os hábitos adquiridos e a aprendizagem social podem servir como "hipnose cultural",  e se tornar um perigo para a auto realização ,integração e satisfação de uma pessoa. Se não estivermos atentos, seremos como robôs comandados e destituídos da capacidade de pensar. 
Levando em conta que o indivíduo existe em função do seu meio, a capacidade de fazer contato e fuga em relação a esse meio é outro fator essencial e determinante de sua  saúde mental. A modernidade afastou o indivíduo do contato consigo mesmo  e super valorizou  o contato com  o meio .E, isso infringe a lei da natureza, pois segundo Jung  o homem dever viver de forma dinâmica e harmonizada  entre o movimento de reclusão e expansão. Viver tempo demais em expansão ou em reclusão é um sinal de perigo  no que se refere a saúde mental. Por isso,  Fritz Perl diz que “Nem todo contato é saudável, e nem toda figa é doentia.” 
A fuga nem sempre é um sintoma neurótico. Há um fenômeno necessário para a saúde mental: o processo de expansão e recolhimento . A primavera chega depois que o inverno se foi . A noite existe para dar lugar ao dia.Assim também , uma pessoa precisa saber a hora de estar em contato com o meio e consigo mesmo. Este individuou deve se responsabilizar  pela busca e pela escolha  do objeto que o satisfaça ou que o afaste da dor. Se o indivíduo não consegue encontrar no meio este objeto de desejo adequado ou de alívio, se ele leva tempo para discernir o tempo adequado que deve estar em contato com o meio  , e o tempo certo de sair de perto de alguma situação que o ameace é sinal de este indivíduo esta num processo de auto-regulação comprometido.A fuga é um processo que requer três  pergunta s para se saber se ela é patológica ou não: Fuga de quê, para quê e por quanto tempo.
O contato com o meio ou com algum objeto , por si só ,não é bom nem mau.O tempo , a razão e o tipo de objeto é que vai determinar se o contato é saudável ou não.
Segundo Fritz Perls se o indivíduo “não pode decidir por si mesmo quando participar e quando fugir porque todas as suas vivências inacabadas de sua vida, todas as interrupções do processo contínuo, perturbaram seu sentido de orientação e ele não é mais capaz de distinguir entre objeto ou pessoas do meio que tenha uma catexis positiva e os que tem uma catexis negativa ;não sabe como ou do que fugir.Perdeu a liberdade de escolha, não pode selecionar meios apropriados para sues objetivos fiais porque não tem a capacidade de ver opções que lhes estão abertas.” 
Por isso, a criança é o modelo mais próximo de referência que posso utilizar, pois ela  possui  esta capacidade de reconhecer no meio o que deseja,apesar do seu pouco conhecimento,  e isso prova que conhecimento não significa que o sujeito possa ser pleno e realidade enquanto sujeito. Dizer que aquisição de conhecimento é condição para felicidade é uma lego engano, pois vemos casos em que muitos intelectuais não sabem obter satisfação e nem se sentem realizados enquanto pessoas. Isso não é uma apologia a ignorância,mas sim uma tentativa de  estimular a aquisição de outras formas de riquezas, além do conhecimento. Uma pessoa pode saber muitas coisas e não saber sobre si mesma , e consequentemente não estar habilitado a intervir no mundo de forma eficaz. Por isso, a  espontaneidade é essa harmonia, equilíbrio e liberdade de ser quem se é. É  como se o indivíduo resgatasse a criança interior esquecida pelas travessias sociais, mas agora tivesse o recurso da maturidade sábia ao seu favor. É quando os sentimentos, as percepções e as sensações mais legítimas estivesse m voltando a viver dentro do indivíduo.E nesta jornada de amadurecimento o processo de individuação é uma das riquezas que cada indivíduo deveria buscar. É quando começamos a tomar consciência de si mesmo e  reeditar os pensamento limitadores.Se torna, então ,imperativo repensar cada ação relacionada a estes pensamentos, e observar quais são os hábitos gerados por estas limitações responsáveis pelo bloqueio mental, emocional e comportamental.
Os pensamentos são construídos através da experiência e da aprendizagem ,as quais são responsáveis de moldar nossa forma de pensar, e isso se inicia com os nossos sentidos. Apreendemos o mundo pelos sentidos. E, é por esse canal que também poderemos nos comprometer. Os padrões de pensamentos são responsáveis pelos hábitos que construímos ao longo da vida. Estes hábitos, dependendo da intensidade , frequência e direção podem se tornar saudáveis ou não.
Todos nós temos o poder de dirigir o filme da nossa vida  e nos tornarmos o personagem principal. Ser Sujeito do processo. Ser condutor de nós mesmos. Quando esta película se torna indesejável e destrutiva é hora de mudar estes padrões e mexer neste cenário. 
Resgatar a espontaneidade é como uma espécie de "engenharia reversa" de todo pensamento limitador. Neste processo o indivíduo precisa refletir e rever seu perfil e suas ações responsáveis por todo bloqueio mental, emocional e comportamental relacionados com o grau de "hipnose cultural" adquirido ao longo da vida.É um despertar e uma expansão de consciência,  gerando mudança dos padrões de pensamentos, emoções e ações,as quais são responsáveis por hábitos que construímos ao longo da vida.
"Para ser autêntico e espontâneo é preciso coragem,pois vivemos em um universo onde expressões de visão individual representativa do que é subjetivo não são bem vindas .A sociedade ,embebida em pensamento egoísta e na luta pela sobrevivência procura objetivo, o tangível, o certo, o seguro”( G.Sliker,1992,p ag.111)
Há indivíduos cuja vida interior é intensa, confusa, cheia de perguntas sem respostas .Estão perdidos, não sabem o que procurar e nem mesmo sabem onde chegar. Uns perderam o dinheiro, por falta de controle desperdiçando suas oportunidades; outras ficaram no meio do caminho na jornada da vida e desistiram de amar  Muitas pessoas constroem  suas vidas em função dos outro , tentando agradá-los em troca de atenção, afeto e amor.A solidão invadiu os condomínios, e ainda que muitos se finjam felizes, são apenas personagens atuando num cenário que pode estar prestes a desabar. 
Vemos casos onde pessoas vivendo sem paixão, desanimadas e desmotivadas.Resultado de  um padrão   de vida confortável e  "seguro ,mas  sem movimento  e sem criatividade e sem prazer.O fato de se ter   dinheiro  e estabilidade não é garantia de uma vida feliz. 
“Sem a consciência (de nossos) potenciais, limitações e das(nossas)necessidades , a liberdade é um conceito ilusório. Essa é a razão de encontrarmos, nos dias de hoje, tanto falatório sobre a liberdade, e tanta compulsividade e instinto gregário e falta de liberdade, conseqüências da negligência em relação à necessidade"providencial" inata, à necessidade de "individuação", que exige nos tornarmos aquilo que somos "destinados a ser"(E. Whitmont ,In "A Busca do Símbolo")
Felicidade .liberdade e prazer estão intimamente ligados ao nosso "Eu Verdadeiro",onde habita a fonte da alegria e da paz . A felicidade legítima não esta no que compramos ou nas relações externas .A felicidade e a vida esta dentro de nós .É necessário se comprometer em resgatar  essa vida que foi sufocada  e perdida ao longo do tempo. Sempre é tempo para viver com plenitude. Sigmund Freud diz que :"quando a dor de não se estar vivendo for maior do que o medo da mudança, a pessoa muda... "
Então somos adultos.Quando isso aconteceu?!?
Como podemos parar? A gente cresce, fica alto, mais velho... Mas, na maioria dos casos, a gente ainda é um bando de crianças correndo no parquinho desesperados para entrar num grupo."Greys Anatomy
 Este trecho retrata o discurso    de quem perdeu a espontaneidade e vive desconectado de suas necessidades legítimas,  e muitas vezes não tem energia pra corresponder as demandas da sociedade. Por isso, falham em suas tentativas , e em suas buscas. 
Esta citação do seriado Grey's Anatomy  traduz  o valor de estarmos sempre em contato com nossa criança interior. O homem modernos perdeu esta capacidade de viver  de forma espontânea. Ele vive  num ritmo frenético que o impede de  desfrutar os prazeres essenciais da vida produzindo estresse, ansiedade e depressão. 
Vladimir Volegov
Os  sentimentos, as percepções e as sensações mais legítimas estão arquivadas esperando serem resgatas . É necessário lembrar que o legítimo prazer provém da Realização do Potencial interior,  e para isso e  realizar este potencial  é fundamental para ser feliz e sentir prazer.. Segundo Schutz "O prazer é o sentimento que provém da realização do nosso potencial .A realização traz ao indivíduo o sentimento de que pode defrontar-se com seu meio ambiente; o sentimento de autoconfiança, de ser uma pessoa importante,competente e amorável ,capaz de manejar as situações á medida que surgem, de usar plenamente suas próprias capacidades de ser livre para expressar seu sentimentos. O prazer requer um corpo energético e vivo,auto satisfação, relações produtivas e satisfatórias com os outros e uma relação bem sucedida com a sociedade" [2]
Os sentidos da criança são mais aguçados, e estão aberto a estímulos que promovem uma percepção do mundo mais acurada, propiciando uma maior capacidade de extrair do meio aquilo que ela necessita para se satisfazer.Tendo esta consciência de si mesma e do mundo mais aberta, ela sabe o que quer e por conseguinte pode ir ao meio e fazer escolhas mais acertadas. 
Há tanta beleza no simples. Num simples sorriso, no olhar de quem te ama. Tanta riqueza, tanto poder no que não se compra, no que é realmente teu. Sabe o que de fato te pertence? O que o amor fez brotar em ti. O resto é poeira, mesmo que tenha custado todo o teu dinheiro."Gi Stadnicki
A correria da vida, as exigências do trabalho, as necessidades de sobrevivências, o grupo em que vivemos, a cultura que nos influencia, a família que pertencemos, tudo isso vai determinar a qualidade dessa apreensão. Augusto Cury disse : Bons pais corrigem o erro, pais brilhantes ensinam seus filhos a pensar” Esse é o grande desafio da educação , tanto na escola quanto na família.
O homem moderno foi perdendo ao longo do tempo esta acuidade de percepção  e substituindo suas escolhas por objetos impostos pelo consumismo e pela praticidade. O fast-food substitui o almoço entre amigos, o celular tomou o lugar daquele bate bate papo na esquina...e por ai vai. A Expansão da consciência é uma necessidade fundamental ,pois gera mudança de padrões de pensamentos, resgata a espontaneidade e faz o indivíduo entrar em contato com suas emoções   possibilitando a  tomada de decisões com ações mais assertivas,e consequentemente,  os hábitos vão sendo reprogramados ao longo desse despertar.
O início do processo de resgate da espontaneidade é   conhecer a si mesmo: conhecer nossas potencialidade, nossas reais necessidades, nossos sonhos e desejos relacionado com as possibilidades reais de executá-los.A gente precisa aprender a ser autêntico, espontâneo; precisamos parar de querer ser o que os outros esperam de nós, se encaixar em papéis que não são nossos,mas sim exigências sociais que nem sempre nos cabe como indivíduo.Nunca podemos esquecer.Somos únicos e temos uma só digita. Nesse caminho será mais fácil de ser produtivo,pois a energia será resgatada,pois você agora a usará para uma produção espontânea e não para uma maquiagem social. Com isso, sua paixão voltará,pois você estará fazendo o que te da prazer, e o entusiasmo e vigor será parte de sua vida.
Neste processo de despertamento você poderá viver no mundo sem seguir suas "matrizes" hipnotizantes , sem mergulhar nas ilusões consumistas e alienantes da sociedade materialista,consumista e direcionada a anular a criatividade das pessoas.
É importante sinalizar que viver nesta emanação espontânea de existência não significa não ter problemas .Significa que você estará mais inteiro e mais apto a enfrentá-los.Significa que agora você esta mais livre de bloqueios que te impediam de encontrar soluções.Que agora as paredes imaginárias na sua mente caíram ao seu redor e os monstros que te assustavam diminuíram.Agora você fica com medo, mas você vai, você confia na sua capacidade e tem ânimo de estar sempre experimentando novas possibilidades.
A educação tem sido sacrificada pela correria da vida e pelas demandas financeiras. É a escola que tem que lucrar e ter mais alunos, sejam os pais que precisam trabalhar para melhor fornecer “educação” aos seus filhos. O fato é que não há tempo e disposição de pagar este preço.Com isso, a experiência que as crianças vão adquirindo ao longo de sua vida é construída á partir de padrões materialistas ,pobres e voltados ao imediatismo utilitário da cultura do excesso.Luta-se por ter, e não por ser, os padrões de pensamentos vão sendo construídos e limitando a capacidade do indivíduo de ser feliz, pleno,satisfeito e livre.
Os padrões de pensamentos são responsáveis pelos hábitos que construímos ao longo da vida. Estes hábitos, dependendo da intensidade , frequência e direção podem se tornar saudáveis ou não. Temos o poder de dirigir o filme da nossa vida também como personagem principal.Ser Sujeito do processo. Quando esta película se torna indesejável e destrutiva é hora de mudar estes padrões e mexer neste cenário.Resgatar a espontaneidade é como uma espécie de "engenharia reversa" de todo pensamento limitador. Neste processo o indivíduo precisa refletir e rever seu perfil e suas ações responsáveis por todo bloqueio mental, emocional e comportamental relacionados com o grau de "hipnose cultural" adquirido ao longo da vida..A "hipnose cultural " produz  este fenômeno de pessoas vagando como se fossem apenas cabeças automatizadas andando descoladas de seus corpos, vivendo distantes em direção às expectativas criadas por seu ideal de felicidade imposto por uma cultura voltada para o consumismo.
É importante sinalizar que viver nesta emanação espontânea de existência não significa não ter problemas .Significa que você estará mais inteiro e mais apto a enfrentá-los.Significa que agora você esta mais livre de bloqueios que te impediam de encontrar soluções.Que agora as paredes imaginárias na sua mente caíram ao seu redor e os monstros que te assustavam diminuíram.Agora você fica com medo, mas você vai, você confia na sua capacidade e tem ânimo de estar sempre experimentando novas possibilidades.
Contudo, o fato de ter paixão, dinheiro ,estabilidade não é garantia de uma vida feliz. O que realmente a gente precisa é conhecer a si mesmo, nossas potencialidade, nossas reais necessidades, nossos sonhos e desejos relacionado com as possibilidades reais de executá-los.A gente precisa aprender a ser autêntico, espontâneo; precisamos parar de quer ser o que os outros esperam de nós, se encaixar em papéis que não são nossos,mas sim exigências sociais que nem sempre nos cabe como indivíduo.Nunca podemos esquecer.Somos únicos e temos uma só digital. Nesse caminho será mais fácil de ser produtivo,pois a energia será resgatada e redirecionada para o objeto de real satisfação ,pois você agora a usará para uma produção espontânea e não para uma maquiagem social.
Com isso, sua paixão voltará,pois você estará fazendo o que te da prazer, e o entusiasmo e vigor será parte de sua vida.
Neste processo de despertamento você poderá viver no mundo sem seguir suas "matrizes" hipnotizantes , sem mergulhar nas ilusões consumistas e alienantes da sociedade materialista,consumista e direcionada a anular a criatividade das pessoas.
Bianca Pinheiro nos apresenta um projeto  chamado "Pequenas Satisfações Humanas", o qual ilustra o quanto é prazeroso viver no aqui e agora desfrutando das pequenas coisas . As pessoas que conseguem parar para apreciar a simplicidade da vida podem ser mais felizes. Bianca se  utiliza da arte em tirinhas para falar sobre esses prazeres humanos simples e bastante subjetivo que fomos perdendo ao ficarmo engessados  e distantes da nós mesmos. 

"Passar cotonete no ouvido, espirrar, sentar em cima das mãos durante os dias frios, tirar um cochilo revigorador, escutar sua música favorita quando você menos espera, estourar plástico bolha… ! São momentos que nos fazem sentir aquela pontinha de satisfação que, mesmo vindo de coisas pequenas e tidas como insignificantes por alguns, acabam fazendo com que um sorriso discreto tome lugar nas nossas faces(...)você irá se identificar com as ilustrações...” 

Em seu artigo, Luiz Carlos Garrocho que "A infância tornou-se, em determinados momentos históricos e em alguns contextos sociais, detentora da memória lúdica humana. Ela conquistou essa memória porque os adultos estavam por demais ocupados com a produção e a reprodução da vida. Além de serem depositárias de uma memória que os adultos não podem, nas sociedades industriais, exercitá-la, as crianças reinventam a história humana. Inventam o tempo em que os seres humanos se envolviam corporalmente com o mundo. A
criança fabrica o sentido e explora os sentidos antes de ficar memorizando abstrações. Entra em contato com a terra, deixando-a deslizar pelas mãos, sentindo o seu escoamento até fazer um filete comprido.Muitos artistas continuam fazendo o mesmo , e por isso eles guardam uma estranha e aparentemente secreta sensação de felicidade e liberdade."[3]
Segundo a Teoria da Análise Transacional" na infância, a "criança é livre", é aquela que faz espontaneamente aquilo que ela quer, independentemente de regras e normas. Elas são motivadas, possuem um entusiasmo espontâneo, são criativas e independente Elas possuem esta capacidade de apreciar pequenos prazeres como brincar com a água, andar descalço, sentir o pingo da chuva caindo, colocar a mão na terra sem sentir nojo, cair de rir sem sentir vergonha, elas fazem disso uma fonte de alegria e felicidade Com o passar do tempo o indivíduo vai perdendo esse hábito  espontâneo  , e se distanciando dessa criança que ainda vive dentro de,si . A criança livre que habita em cada um é a fonte de criatividade ,imaginação e alegria.A espontaneidade é justamente quando esse indivíduo resgata essa criança interior esquecida pelas travessias sociais. É quando os sentimentos, as percepções e as sensações mais legítimas estivesses voltando a viver dentro do indivíduo 
Segundo Ângela Magda, Denise de Souza e Mônica Neves “Se queremos matar uma ideia em sua nascente, basta criticá-la efusivamente ao ser apresentada, rir ou ridicularizá-la diante.dos demais; e se quem a apresentou não desenvolveu ainda características de personalidade como persistência, independência de pensamento, autonomia e coragem para assumir riscos (como acontece freqüentemente com a criança pequena, em estágio de desenvolvimento), teremos então a quase certeza de que seu pensamento criador, no nascedouro rico, espontâneo e divergente, passará por uma transformação radical, da qual restará apenas a rigidez, o conformismo, a dependência de pensamento, a cópia e reprodução das idéias. " [5]
As escolas e educadores sob a influência dessa cultura sofrem com esse tipo de determinismo limitador, e podem se tornar veículos inibidores da criatividade de muitas crianças caso não estejam consciente dessa realidade.
O fato é que se não tomarmos cuidado acabamos nos tornando robôs sociais. Sem autenticidade e  espontaneidade suficiente para obter  prazer suficiente nas coisas simples e essenciais,as quais não possuem preço,pois não estão á venda.Mas , por outro lado, é nesta simplicidade que encontraremos o prazer e a alegria dia´ria que será capaz de nos conectar ao presente  e nos libertar do passado
Atualmente, apesar de termos liberdade para se expressar, para fazer e para pensar o que quisermos , temos  que concordar com Sliker quando ele diz que " Para ser autêntico e espontâneo é preciso muita coragem, pois vivemos em um universo onde expressões de visão individual representativa do que é subjetivo não são bem vindas .A sociedade ,embebida em pensamento egoísta e na luta pela sobrevivência procura o objetivo, o tangível, o certo, o seguro”[3]
Por isso a arte é tão importante, pois ela facilita o resgate desta espontaneidade de várias formas. Em primeiro lugar, porque uma da técnicas utilizadas para resgatar esta espontaneidade é tomar consciência de si mesmo como objetivo de desenvolver o autoconhecimento e auto satisfação.A arte facilita isso porque os materiais utilizados pelos artistas podem servir, se bem direcionado, para otimizar este processo.Em segundo lugar porque a espontaneidade e a criatividade esta diretamente proporcional a capacidade de conhecer e lidar com seus próprios sentimento,impulsos e instintos . (FREUD, 1910) disse: “A natureza deu ao artista a capacidade de exprimir seus impulsos mais secretos, desconhecidos até por ele próprio, por meio do trabalho que cria; e estas obras impressionam enormemente outras pessoas estranhas ao artista e que desconhecem, elas também, a origem da emoção que sentem”.E finalmente, porque as imagens contidas no inconsciente são resgatadas no fazer artísticos.
Mas você pode estar pensando :eu não sou artista,não tenho nenhuma habilidade artística Minha intenção nesta reflexão é chamar a atenção para o fato de que todos nós possuímos um artista criativo dentro de cada um, o qual  se encontra reprimido e desconhecido , pois não fomos educados para desenvolver nosso cérebro em toda a sua dimensão .A espontaneidade foi comprometida  pela cultura ocidental , e até mesmo, em muitos casos, totalmente anulada. Mark Rothko, um artista que muito admiro disse uma vez :" Para nós, a arte é uma aventura em um mundo desconhecido, que pode ser explorado somente por aqueles dispostos a assumir os riscos. Eu não sou um abstracionista. ... Eu não estou interessado nas relações de cor ou forma ou de outra coisa. ... Estou interessado apenas em expressar as emoções humanas ... ".
Schutz nos explica que a nossa capacidade de aprender, perceber e sentir esta num nível inconsciente e diretamente ligada ao desenvolvimento emocional.Aqui é onde a nossa "criança livre precisa ser respeitada e aperfeiçoada conforme cada cultura, mas sem anular a identidade do indivíduo e mantendo sempre a capacidade de responder as demandas sociais de forma equilibrada,ou seja, saber encontrar o equilíbrio entre o que desejo e necessito e o que a sociedade me impõe e requer de mim. Relembrando o que disse Fritz Perls , " o maior desafio do homem é  encontrar este equilíbrio" , e é onde a neurose se instala nesse meio fio que vamos alinhavando ao longo na tão complexa jornada.
Enfim, o gênio  criativo que esta dentro de cada um de nós tem esta capacidade:encontrar esta palavra escondida, a imagem desconhecida, o outro que nos habita.E,  isso nos vem no fazer artístico através de imagem, de cores, de sons, ou materializada em argila ou movimento, cenas pintadas, sons e letras. Seja em qual for o tipo de arte, você poderá alcançar esta "palavra". Mia couto sabia o que estava falando quando se referiu a esta linguagem tão perigosa.Ele sabia que ela era transformadora e libertadora,pois tinha consciência de seu poder de conectar o homem com seu seu verdadeiro Self .
"A essência do prazer é a espontaneidade"Germaine Greer

Referências 
[1]Abordagem Gestaltica e Testemunha Ocular da Terapia.PERS,Fritz.Pag.38
[2] William C.S.Schutz In:"O Prazer"
[3][2 Por Luiz Carlos Garrocho,"O Brincar e Suas Linhas de Errância-Artes Cênicas e Educação(http://contruindooser.blogspot.com.br/2013/04/por-luiz-carlos-garrocho-o-brincar-e.html)
-http://exibircertificado.blogspot.com.br/2013/07/artistas-que-profetizam.html
[4]( G.Sliker,1992,p ag.111)

[5](E. Whitmont ,In "A Busca do Símbolo"
[6 ]TOC,TOC,Plin Plin
[7]Bianca Pinheiro,In:"PEQUENAS SATISFAÇÕES HUMANAS "http://lounge.obviousmag.org/venturarte/2013/08/pequenas-satisfacoes-humanas-em-formato-ilustrativo.html

sábado, 15 de fevereiro de 2014

O Processo de Criação

Por Rosangela Brunet
" O enigma da criatividade sempre me fascinou. Por que uma ideia nova em arte ou ciência, "salta" do inconsciente, num determinado momento? Qual a relação entre talento e ato criativo, e entre criatividade e morte? Por que um espetáculo de mímica ou de dança nos proporciona tanto prazer? Como conseguiu Homero transformar a violência da guerra de Tróia na poesia que orientou a ética da civilização grega(...) Rollo May
Ao pensar sobre processo de Criação, lembrei das esculturas onde o artista se utiliza de ferramentas sobre um material bruto, e poetiza uma escultura com rimas raras . Antes era uma pedra dura e esquecida, agora s uma obra prima. Por isso....Ó alma, não fuja da dor .Procure o remédio dentro dela. Porque a rosa surge do espinho,o rubi de uma pedra ( e de uma ferida surge a pérola)
Obra de Camille Claudel
"[1]
No meio dessa dor e sofrimento as "espátulas" vão nos fazendo nascer lindas e cheias de sentido. Lembrei dos materiais desperdiçados ao longo da vida , deixados pelo caminho ignorando a oportunidade de uma possível criação.
Por isso, salve os artistas que sempre estão dispostos a enxergar além , e crer no impossível da beleza futura ,aqueles que na expansão de seu pensamento faz nascer a beleza ainda que a tela esteja em branco; ainda que o papel seja um guardanapo de bar;ainda que o material seja a argila, ainda que as notas insistam em arranhar.Eles continuam sempre nomeando símbolos, colorindo novas formas e desenhando o que ainda não conhecem. Eles fazem arte porque não podem parar.Eles foram feitos para criar.Essa é a natureza do artista. 

Escrevi um texto sobre um  processo de criação especial  A Recriação de Uma Obra de      Arte Sob O Olhar de Apaixonado do Criador
"E aquela velha história reconstituída, agora, em detalhes. Provando as evidências , registrando presenças, omitindo as falhas, escondendo tristezas, restituindo pactos, esquecendo ofensas. Com seu  habilidoso talento ele era um poeta com uma tinta na mão sugerindo um outro conceito.E, eu, parecia mais um cubismo mal-traçado, uma natureza morta,obra não vendida. E, ele redesenhando cenas antigas , remontando meus espaços, experimentando outras cores, alinhavando novos traços me fazendo de mim composição.Suas tintas anunciavam um estilo delicado com pincéis atravessados, reformulando um cenário que fundia em sua alma .Mas eu, uma arte inacabada , numa
velha galeria, escurecida de abandono,vazia de contemplação.E me remontava como um retrô meio "no sense", revivendo uma glória antiquada, aplausos atrasados, era um sucesso fingido.Um quadro copiado. Mas ele me aplaudia remontando meus pedaços.Ele ousou me olhar como um Delacroix .Abandonando todo drama de Rodin, e assinou seu nome em mim" Rosangela Brunet
Segundo Rollo May "são os artistas que apresentam direta e imediatamente as novas formas e símbolos — os dramaturgos, músicos, pintores, dançarinos, poetas, e os poetas da religião aos quais chamamos santos. Representam os novos símbolos sob a forma de imagem — poética, auditiva, plástica ou dramática, conforme ocaso. Vivem o que imaginam. Símbolos apenas sonhados pela maioria dos seres humanos são expressos graficamente pelos artistas. Contudo,considera que ao apreciarmos o trabalho criativo — digamos, um quinteto de Mozart —, estamos também criando. Quando estudamos um quadro — o que é necessário para realmente vê-lo, especialmente em se tratando de arte moderna —, experimentamos um novo momento de sensibilidade. O contato com o quadro desperta em nós uma nova visão, algo de especial nasce no nosso íntimo. Por isso, a apreciação da música ou da pintura, ou de outros trabalhos criativos, é um ato de criatividade da nossa parte(...) Os artistas podem representar esse sentimento por meio da música, ou das palavras, da argila ou do mármore, ou na tela, porque são o que Carl G. Jung chama de"inconsciente coletivo". A expressão pode não ser das mais felizes, mas sabemos que cada um de nós guarda no íntimo certas formas básicas, em parte genéricas,em parte experimentais na sua origem. São justamente os objetos expressos pelos artista(...) Dessa forma os artistas — e sob essa denominação incluo músicos,dramaturgos, artistas plásticos e santos — formam a linha de "orvalho", para usar a frase de McLuhan; dão-nos um "aviso distante e antecipado" do que está acontecendo à nossa cultura. Na arte atual vemos uma infinidade de símbolos de ansiedade e alienação. Mas, ao mesmo tempo, há forma em meio à discórdia,beleza entre a feiura e algum amor humano entre o ódio — um amor que triunfa temporariamente sobre a mortes, mas sempre perde a última batalha. Dessa forma o artista expressa o significado espiritual da sua cultura. O problema realmente é o seguinte: Sabemos interpretar esse significado? (...)" [2]

Veja O Vídeo abaixo 


[1]Minha tradução transformada de " Rumi!
[2] Rollo May, "A Coragem de Criar, Pág 17- 19)

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Reflexões Sobre o Filme "Histórias Cruzadas"

Por Rosangela Brunet

"The Help" ou "Histórias Cruzadas ",título no Brasil, é um filme de drama, que surgiu do livro romance homônimo de Kathryn Stockett. O filme é um retrato sobre uma mulher caucasiana, Eugenia “Skeeter” Phelan, e o seu relacionamento com duas empregadas negras durante a era americana dos Direitos civis no idos de 1960. Skeeter é uma jornalista que decide escrever um livro da perspectiva das empregadas (conhecido como The Help), mostrando como elas estão sofrendo racismo na casa de brancos. " [1] 

Histórias Cruzadas :Uma luta contra o preconceito numa época impregnada de Intolerância  .Esse filme aborda de forma delicada e profunda o tema  preconceito.É um filme impregnado de emoções cruzando a história de um povo sofrido,  vitimizado pela arrogância, hipocrisia,intolerância e preconceito de uma sociedade. A ficção retrata conflitos velados por uma cultura que já  cultuava a imagem e o materialismo. Em plena década de 60, num clima de guerra pelos direitos civis como pano de fundo, acontecia , então,  no Mississípi , um  drama poético,  desenhado pelo  sofrimento de um povo oprimido pela crueldade de uma elite que insistiam em manter suas máscaras sociais a todo preço. O  longa  mostra  o contraste entre o discurso de  opressores e suas vidas privadas. Um grupo de socialites da época de 60, pessoas entediadas e frustradas com suas vidas medíocres e e discursos hipócritas  Veja o trecho de Allport (1954), o descreve o preconceito sob este ângulo 

"...o preconceito é o resultado das frustrações das pessoas, que, em determinadas circunstâncias, podem se transformar em raiva e hostilidade. As pessoas que se sentem exploradas e oprimidas frequentemente não podem manifestar sua raiva contra um alvo identificável ou adequado; assim, deslocam sua hostilidade para aqueles que estão ainda mais “baixo”na escala social, promovendo o preconceito e a discriminação"  
Algumas falas do filme me emocionaram  bastante .Uma delas foi quando , no final do filme, após tantos confrontos, a mãe da jornalista Skeeter diz para ela: " Às vezes a coragem salta uma geração. Obrigado por você tê-la resgatado
Esta cena foi o desfecho de uma relação partida pela preconceito.Provando que , quando nos levantamos para confrontar uma ideia  que foi cristalizada  ao longo dos tempo, até as pessoas que antes nos amavam ,  podem nos abandonar e até começar a nos odiar. A própria mãe de Skeeter foi uma de dessas oponentes. A jornalista,aqui, é o protótipo de uma guerreira valente ,pois é preciso muita coragem ,e uma educação libertadora,como disse Roberto Freire,   para se levantar contra uma sociedade, cujas mãos estão  cheias de sangue  de  inocentes, derramado pelo preconceito e hipocrisia de sua elite. Skeeter,  parece uma mistura do arquétipo de herói com   de  uma guerreira.
“Segundo Adorno (1950), " a fonte do preconceito é uma personalidade autoritária ou intolerante(...) Respeitam a autoridade e submetem-se a ela, bem como se preocupam com o poder da resistência.(...) elas não acreditam na natureza humana, temendo e rejeitando todos os grupos sociais aos quais não pertencem, assim, como suspeitam deles. O preconceito é uma manifestação de sua desconfiança e suspeita."
Regina Célia de Souza o preconceito possui fontes cognitivas. Os seres humanos são “avarentos cognitivos” que tentam simplificar e organizar seu pensamento social o máximo possível. A simplificação exagerada leva a pensamentos equivocados, estereotipados, preconceito e discriminação.Além disso, o preconceito e a discriminação
podem ter suas origens( nas tentativas que as pessoas fazem para se conformar - conformidade social). 
Se nos relacionamos com pessoas que expressam preconceitos, é mais provável que as aceitemos do que resistamos a elas. As pressões para a conformidade social ajudam a explicar porque as crianças absorvem de maneira rápida os preconceitos de seus pais e colegas muito antes de formar suas próprias crenças e opiniões com base na experiência. A pressão dos colegas muitas vezes torna “legal” ou aceitável a expressão de determinadas visões tendenciosas – em vez de mostrar tolerância aos membros de outros grupos sociais." 
Tiago Dantas define perfeitamente o racista : “Preconceito racial é caracterizado pela convicção da existência de indivíduos com características físicas hereditárias, determinados traços de caráter e inteligência e manifestações culturais superiores a outros pertencentes a etnias diferentes. O preconceito racial, ou racismo, é uma violação aos direitos humanos, visto que fora utilizado para justificar a escravidão, o domínio de alguns povos sobre outros e as atrocidades que ocorreram ao longo da história. Nas sociedades, o preconceito é desenvolvido a partir da busca, por parte das pessoas preconceituosas, em tentar localizar naquelas vítimas do preconceito o que lhes “faltam” para serem semelhantes à grande maioria. Podemos citar o exemplo da civilização grega, onde o bárbaro (estrangeiro) era o que "transgredia" toda a lei e costumes da época. Atualmente, um exemplo claro de discriminação e preconceito social é a existência de favelas e condomínios fechados tão próximos fisicamente e tão longes socialmente. Outra forma de preconceito muito comum é o sexual, o qual é baseado na discriminação devido à orientação sexual de cada indivíduo. O preconceito leva à discriminação, à marginalização e à violência, uma vez que é baseado unicamente nas aparências e na empatia." 
O filme é o retrato de pessoas que se cruzaram pelos mesmos caminhos sofridos,misturando dor decepção e cansaço; como uma rede que para uns serviu de armadilhas , e para outros a arma certa de opressão; controlando, dominando e prendendo vítimas inocentes,  submissas por sua ignorância e fragilidade. Ambos entrelaçados.Uns navegando seus oceanos pacíficos ,outros seus mares agitados.
Mas o que movia Skeeter era uma motivação pessoal .O que a fazia atravessar essa trama contrariando a paz daquela cidade era sua história.Sua formação ,  um olhar que a transformou -  Os cuidados de uma dessas "mulheres negras" , que eram chamadas de "domésticas" a confortou e a sustentou promovendo a base de toda aquela força que a movia .Uma garota sonhadora , que apesar de  pertencer àquela fatídica  sociedade,  encontrou voz para representar o clamor de um povo cuja súplica era como um alarido de angústia de um soldado vencido. Skeeter, além de ter conhecido na pele o preconceito ,ela conseguiu obter experiência para transformar sua história numa linda contribuição para a sociedade. 
Gostaria de compartilhar a  tradução da música "The Living Proof" , trilha sonora do filme. E se trecho me passa o sentimento de ter vencido a primeira etapa de uma longa batalha -a batalha do preconceito. Mas para quem viveu o pior, este e o início de uma nova vida. No fim do filme você se sente inspirado a lutar por uma causa .
Vale ouvir esta música e ver este vídeo no Youtube. No fim da postagem você encontrará o link dela 
Vai ser uma Longa viagem.Vamos que ter escalar uma enorme montanha , e passaremos muitas noites solitárias. Mas sei que estou preparada pra seguir em frente.Estou tão feliz porque o pior já passou e agora eu posso começar a viver. Agora sinto como se eu pudesse fazer qualquer coisa.Qualquer coisa que você me disse ou fez pra mim não poderia negar a verdade. Porque eu sou a prova viva. Tantas lutas e angústias que não deixavam eu enxergar além,mas olhe pra mim agora.Eu sou a prova viva. Sei que vida foi cheia de sofrimento e dor, e levou muito tempo para aprender como sorrir.Mas agora posso contar para meu povo sobre as tempestade que vencemos , e eles agora eles podem ter esperança, pois o pior já passou , que agora somos livres e o melhor esta por vir. Eles não podem mais negar o que fizeram, pois sou a prova viva.Agora sei para onde estou indo,seio que tenho sido. Nada na minha vida foi fácil,mas nada vai me derrubar agora .Porque agora eu sei muito sobre hoje, sei sobre o que passei e estou pronta para seguir em frente.Oh Senhor!!!” ( "The Living Proof" da conta Mary J. Blige.)[2] 
É inevitável não chorar com a fala de uma das vítimas do preconceito.Ela é injustiçada e demitida por uma mentirosa acusação de roubo, mas deixa aquela história, e parte destemida para viver um novo  tempo depois de ter arriscado a própria vida em nome de sua  liberdade, bem como da liberdade de seu povo. Ao som dessa música ela vai embora dizendo:"Deus manda que a gente ame o inimigo. Mas como é difícil ! Mas podemos começar falando a verdade. Nunca ninguém havia me perguntado quem eu era. Quando resolvi falar,  a verdade me libertou."    
Atualmente ainda vemos muito preconceito. Eles estão escondidos em alguns casos , são velados nos discursos hipócritas  de algumas pessoas ,cujo interesse é manter uma imagem de bem aceita na sociedade. Mas ainda há muito preconceito. Veja o vídeo abaixo
No que se refere a questão do preconceito, o que mais me preocupa é sua presença no meio profissional ,pois é ali onde se estabelece relações importantes na construção da sociedade. 
Leis são assinadas, questões polêmicas são discutidas em uma mesa redonda.Todos os dias temos que tomar decisões que afetarão, de alguma forma, a vida de alguém.É um funcionário que vai ser contratado ou  demitido ;um paciente na enfermaria esperando o cuidado e a atenção do médico na hora de um diagnóstico e tratamento apropriado. 
Apesar de achar a palavra humanização um pleonasmo viciosos, acredito,ou seja, coloco crédito, na ideia de que a maior campanha de humanização que poderíamos fazer seriam os profissionais se tornarem realmente humanos.A humanidade tem que ser exercida na hora que ninguém esta nos vendo. Seja no trabalho, no silencio do nosso quarto ou no escuro da noite.Bandeiras não salvam ninguém. Solidariedade, respeito e amizade sim...

Referências : 
[1] Wikpédia
[2]Link da música no Youtube :  http://youtu.be/WfmdjKTH1a4

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

O Amor e Suas Distorções

Por Rosangela Brunet

É fácil amar o outro na mesa de bar, quando o papo é leve, o riso é farto, e o chope é gelado. Nos cafés, após o cinema, quando se pode filosofar sobre o enredo e as personagens com fluência, um bom cappuccino e pão de queijo quentinho. Nos corredores dos shoppings, quando se divide os novos sonhos de consumo, imediato ou futuro. É fácil amar o outro nas férias de verão, no churrasco de domingo, nos encontros
erotizados, nas festas agendadas no calendário do de vez em quando
Difícil é amar quando o outro desaba. Quando não acredita em mais nada. E entende tudo errado. E paralisa. E se vitimiza. E perde o charme. O prazo. A identidade. E fala o tempo todo do seu drama com a mesma mágoa. Difícil amar quando o outro fica cada vez mais diferente do que habitualmente ele se mostra ou mais parecido com alguém que não aceitamos que ele esteja. Difícil é permanecer ao seu lado quando parece que todos já foram embora. Quando as cortinas se abrem e ele não vê mais ninguém na plateia. Quando até a própria alma parece haver se retirado.Ana Jácomo

Segundo Helen Fisher "Na língua Grega, o termo “amor” tem uma tríplice acepção: agapé que significa cura, benevolência; eros que significa amor erótico; filia que significa amizade.A etimologia do termo nos remete a: “entrar em…” ser em…”. Em relação à nós mesmos, o amor pode ser entendido como o “ir ao encontro de nós próprios”, “ entrar no profundo de si”.Podemos definir o amor como tudo aquilo que através do desejo, nos move da interioridade para a vida. Ou ainda como a atração que nos inclina para um objecto diferenciado em relação aos outros, para o qual convergem energias, aspirações, desejos e pulsões."

Nas relações Interpessoais ou afetivas há um investimento de energias dinamizando o processo. Segundo (Shelly, 2005) aetimologia da palavra energia implica em uma atividade ou todo agente capaz de produzir trabalho de acordo com a definição da física. Podemos afirmar que a energia nunca é criada nem destruída, simplesmente é transformada de um tipo em outro. As energias conhecidas pela física possuem entropia positiva, uma vez que se propagam de um local de maior potencial para outro de menor potencial energético. Entretanto, foi descoberta por Wilhelm
Waterhouse Lovers, de John Williams
Reich outra energia de entropia negativa e denominada energia sutil ou orgânica. A teoria eletromagnética de Louis Vallé afirma que se em um determinado espaço a energia atinge uma densidade suficiente, ocorre a materialização de um fóton. Contudo, se a energia é de densidade inferior, só pode existir em forma de onda. Estendendo esse conceito, Pagot afirmou que, densidade ainda menor, a energia também deixará de ser ondulatória para existir de maneira difusa perturbando esse espaço (energia de forma)
"

Levando em conta esta dinâmica de energias que se difundem e se transferem ao longo de um  campo, podemos compreender a importância da troca de energia nas relações. O campo de tensão onde estamos inseridos é onde recebemos e emitimos energia influenciando e impactando a vida das pessoas com quem nos relacionamos.Se estamos emitindo energias negativas teremos dificuldades de encontrar harmonia neste campo de ação. O que emitimos  influenciará de alguma forma o outro ,causando um impacto negativo , roubando ou influenciando  o humor, o comportamento ou os sentimentos desta pessoa de forma negativa.
"O amor é um  sentimento de carinho e demonstrações de afeto que se desenvolve entre seres humanos ou animais ,o qual motiva a necessidade de protegê-los pode se manifestar de diferentes formas: amor materno ou paterno, amor entre irmãos e amigos (fraterno), amor físico, amor platônico, amor à vida, etc" Esse amor provoca entusiasmo e faz com que a pessoa se interesse em fazer o bem ". [1] 
Partindo destes pressupostos, se estamos amando nossos amigos ,famílias ou parceiros receberão este afeto e o conforto necessário para a sustentação da relação . 
Esta definição descreve o amor como um estado de ser e de estar frente ao outro. A cultura ocidental aprendeu a amar pelo sentimento, e não pela atitude. O amor é uma atitude frente a .E, essa atitude pode ser aprendida e cultivada independente do sentimento que possa estar nutrindo uma relação em um dado momento.Veja o exemplo de Tifany e Pat no filme O Lado Bom da Vida" . Pat ,o personagem com Transtorno Afetivo Bilpolar conhece Tifany que é viciada em sexo. Ao longo do filme os personagens retrata a dificuldade de se confiar, receber, entender e aceitar o amor do outro como princípio de cura. Pat não conseguia ser amado por permanecer em um padrão repetitivo de comportamento. No final ,a carta de Pat traduz este drama:
Querida Tiffany...O mundo quebrará seu coração de dez maneiras diferentes.Isso é uma certeza , mas adivinha? Este domingo amanheceu mais bonito. Eu lembro de tudo que fizeram por mim e me sinto uma pessoa de sorte. ...Se as nuvens estão bloqueando o sol, sempre tento ver aquela luz por trás delas, o lado bom das coisas, e lembro de continuar tentando.E eu não posso explicar a loucura que há dentro de mim ou no mundo.Eu seu
que foi você que escreveu aquela carta. A única forma de conhecer minha loucura, foi fazendo algo mais louco ainda,né? Obrigado. Eu te amo. Eu Soube disso desde o momento que vi você . Me desculpe ter levado tanto tempo pra entender, eu estava muito confuso" Patt ,In "O Lado Bom da Vida" 
Tiffany e Patt foram salvos pelo amor e pela arte.Como disse nosso querido Freud: "Em última análise é preciso amar para não adoecer".E sobre a arte, você sabe, como disse Gullar : "A arte existe porque a vida não basta". 
Como bem disse Anselm Grün "Somente o amor pode curar tantas feridas. Isso não se aplica somente ao amor dos apaixonados, mas também ao processo terapêutico. O que em última análise cura o paciente não é o método psicológico que o terapeuta usa, mas o amor que ele lhe oferece, ou, como exprime Rogers: o interesse irrestrito, valorizador, a empatia, a atenção incondicional, positiva. O paciente necessita da experiência da aceitação incondicional do terapeuta para poder trabalhar a sua escassez de experiência de amor na infância.” [6]
A trilha sonora do filme poetisa este conflito vivenciado pela escassez de amor que muitos vivenciam por não terem sido amados na infância.
"Pode me chamar de louca. Mas ,em um mundo onde ninguém se entende é bom finalmente encontrar alguém que consegue me entender e me conhecer melhor do que eu mesma. Não me importo com o que os outros falam. Não me importo com o que o mundo pensa Nós temos um ao outro. E isso é tudo o que precisamos.E você me mostrou que não preciso de mais nada. Pode me chamar louca, talvez seja verdade. Mas eu sou louca por você,não posso evitar, e eu te amo porque sei que você também é louco por mim. ..."Silver Lining (Crazy Bout You), Jessie J -Trilha Sonora(Um Single) do FIlme "O Lado Bom da Vida" 
Carlos Alberto Plastino diz que : "A compreensão sobre as relações dos homens com o real,isto é , às relações de conhecimento ,são inseparáveis da própria concepção sobre o homem".Na verdade, Miller * explica que "amamos aquele que responde à nossa questão: 'quem sou eu.[...} "amar é reconhecer sua falta e doá-la ao outro, colocá-la no outro.(...) é dar algo que não se possui, que vai além de si mesmo. Para isso, é preciso se assegurar de sua falta, de sua 'castração', como dizia Freud. E isso é essencialmente feminino. Só se ama verdadeiramente a partir de uma posição feminina. Amar feminiza. É por isso que o amor é sempre um pouco cômico em um homem, porém, se ele se deixa intimidar pelo ridículo, é que, na realidade, não está seguro de sua virilidade."  

Mas, a despeito das raízes históricas , ideológicas ou das teorias em volta do conceito de amor , o que realmente é necessário levar em conta é que , o amor é uma atitude que precisa ser uma construção invariante e permanente entre aqueles que se propõem a se conhecerem ,pois sem ela não há vínculos permanentes. A construção de um vínculo forte é capaz de atingir regiões inimagináveis possibilitando a aceitação daquilo que é diferente de nós mesmos, e assim a verdade é percebida como uma paisagem antes nunca vista .O pacto de não ferir o outro pode ser considerado uma aplicação perfeita quando estamos falando de amor e respeito.Isso promove um estado de permanente segurança e o sujeito obtém realização porque consegue obter o que necessita , tendo o outro como referência e extensão de sua completude. 

O que José Saramago diz em seu poema nos ajuda a entender um pouco sobre este equilíbrio de permanência relacional, pois o encontro de almas que andam juntas aliançadas necessitam de um futuro de promessas cumpridas e de uma espécie de eternidade nas palavras.
"A inteligência sem amor, te faz perverso. A justiça sem amor, te faz implacável. A diplomacia sem amor, te faz hipócrita.O êxito sem amor, te faz arrogante.A riqueza sem amor, te faz avaro.A docilidade sem amor te faz servil. A pobreza sem amor, te faz orgulhoso. A beleza sem amor, te faz ridículo. A autoridade sem amor, te faz tirano.O trabalho sem amor, te faz escravo. A simplicidade sem amor, te deprecia. A oração sem amor, te faz introvertido. A lei sem amor, te escraviza. A política sem amor, te deixa egoísta.A fé sem amor te deixa fanático.A cruz sem amor se converte em tortura.A vida sem amor...não tem sentido."
Sei que este tema é complexo e subjetivo , mas o amor que confia é capaz de atingir regiões profundas do coração invocando um fenômeno raro que faz curar a alma de quem se deixa confiar e ser confiado.É preciso se permitir ser tocado lá no fundo, pois como disse 
Alvaro Pallamares " No amor e na intimidade, estamos constantemente nos transformando, sempre levando algo do outro , e deixando parte de nós .Aqueles que não tem consciência de sua identidade e não cuida sigilosamente dela se perderá nesta inevitável troca."
Uma relação afetiva que se baseia apenas em sentimentos esta fadada a ser extinta. O amor baseado em sentimento é um espectro da cultura meritocrata. Esta cultura associou o amor a condições e a sentimentos. É um modo de amar com condições. Amar uma pessoa esta condicionado ao fato dela ser agradável, gentil e simpática. Você é amado porque você merece,porque faz coisas boas, porque se sacrifica pela pessoa que te ama, etc. A meritocracia é uma régua que estabelece padrões decadentes e tem sido responsável pelo rompimento de muitos vínculos É uma atitude que promove um olhar positivo apenas sobre a pessoa que corresponde às sua expectativas. Uma demanda correspondida não significa uma relação satisfatória, e muito menos perpassa pelo prazer da satisfação e realização pessoal . Na minha opinião esta definição é incompleta Nelson Mandela tem uma frase que simboliza exatamente o que quero dizer: “Você não é amado porque você é bom.Você é bom porque você é amado” .Esta frase nos reporta para outra visão de amor.O amor que não é egoísta, que não pensa em seus próprios interesses.Realmente existe outra forma de se pensar o amor. Rubem Alves fala dessa condição de uma forma poética,mas  bem representativa :"É isto que amamos nos outros: o vazio que eles abrem para que ali cresçam as nossas fantasias .Buscamos, no outro, não a sabedoria do conselho, mas o silêncio da escuta; não a solidez do músculo,mas o colo que acolhe... Como seria bom se as outras pessoas fossem vazias como o céu, e na tão cheias de palavras, de ordens, de certezas.Só podemos amar as pessoas que se parecem com o céu, onde podemos fazer voar nossas fantasias como se fossem pipas..."
Uma outra modalidade de  amor é o amor Romântico ,o qual é uma  espécie de transferência das nossas relações primárias e vínculos afetivos maternos e paternos. Nesse caso o que amamos é o idealizado como bom e apropriado em função da espécie de relação afetiva que vivemos em nossa infância .Se esta ipo de amor não amadurece pode-se se dizer que a pessoa esta apaixonada.
Paixão é uma palavra de origem Grega derivada de "paschein",ou seja  padecer uma determinada ação ou efeito de algum evento. É algo que acontece à pessoa independente de sua vontade ou mesmo contra ela. De paschein derivapathos e patologia. Pathos designa tanto emoção como sofrimento e doença. As paixões, entendidas como emoções, mobilizam a pessoa impondo-se à sua vontade e à sua razão.É uma vivência complexa que geralmente é prolongada, podendo ser duradoura mas raramente perene. A aixão , num sentido amplo, é um forte sentimento de apego. O amor romântico é um amor obsessivo .É  um sentimento volátil, com frequência incontrolável, que se apodera da mente, trazendo alegria em um momento e desespero no outro"[4]
Um exemplo de paixão foi o caso de Camille Claudel com Rodin . Carmen Silvia Cervelatti , explica um pouco o fenômeno da falta  se referindo a Camille Claudel:
Camille e Rodin
Da posição de não-toda, a demanda de amor (que tem potência de infinitude) é endereçada ao Outro barrado e retorna ao parceiro feminino como devastação, porque este lugar é um lugar não cerceado, não há limite, tende ao infinito. O parceiro-sintoma da mulher torna-se, assim, o parceiro-devastação(...) A criação artística revela o impossível de dizer, ou seja , a relação com o vazio do Outro, com o furo, que tanto o artista quanto o feminino podem experienciar e dar testemunho dele(...) A força e a grandiosidade do talento de Camille Claudel estavam na verdade em um lugar muito
incômodo: entre a figura legendária de Rodin e a de seu irmão que se tornou um dos maiores expoentes da literatura de sua geração. Camille Claudel Mais tarde, ela torna-se amante do mestre e cai em desgraça perante a sociedade parisiense. Após 15 anos de relacionamento, ela rompe o romance e mergulha cada vez mais na loucura e na solidão. E não é difícil ler que as questões de gênero permeiam esse lugar menor dedicado a Camille. Seu gênio sufocado por dois gigantes, sua vida sufocada por um abandono, suas forças e sua lucidez esgotadas por uma relação umbilical com seu mestre e amante. Uma relação da qual não conseguiu desvencilhar-se, consumindo sua vitalidade na vã tentativa de desembaraçar-se desse destino perverso. "[5] 
O amor romântico, ou paixão,  por ser uma relação advinda de uma  idealização  sustentada pela falta, precisa ser exposto ao teste da realidade .Por isso,  se ele for  testado ,aprovado e transferido para objetos reais ele se converte  numa madura pela aceitação da diferença. 
Segundo Gina Khafif Levinzon "Os estados de paixão são o motor da alma humana. Trazem cor e vida aos relacionamentos e permitem que as pessoas se unam criativamente e perpetuem a sua espécie. Cantados em verso e prosa, retratados pelos artistas, pelas pessoas dos mais diversos grupos sociais, relatados copiosamente nas sessões de análise, os sentimentos apaixonados são um tema universal e envolvente.O problema é que deparamo-nos, por vezes, no entanto, com estados de apaixonamento que nos intrigam pela sua tenacidade e pela dor a eles associada. O que determina a escolha insistente para objeto de amor de um parceiro que não corresponde ao afeto nele depositado?
"Morgan Scott Peck ,uma Psiquiatra , escreveu que "a experiência de se apaixonar tem sido provavelmente uma das suas características da ilusão de que a experiência irá durar sempre. Esta ilusão é fomentada na nossa cultura pelo mito vulgarmente cultivado do amor romântico, que tem as suas origens nas nossas histórias infantis favoritas, em que o príncipe e a
Frida e Diego
princesa, uma vez unidos, vivem felizes para sempre. O mito do amor romântico diz-nos, com efeito, que para cada rapaz no mundo há uma rapariga que “foi feita para ele” e vice-versa. Além disso, o mito implica que há um só homem destinado a uma mulher e uma só mulher para um homem e que isso foi predeterminado “nas estrelas”
Este mito promove a sustentação da fatídica Paixão tão confundida com o amor, a qual possui uma curta duração comprovada cientificamente. A paixão é aquele sentimento que vivenciamos onde tudo parece ser perfeito, o idealizado se tornou “realidade” por um curto período de tempo . Nesse estado a pessoa entra-se num estado de confluência, onde não há mais barreira de contato,e ambos estão tão confundidos um com o outro que não se pode enxergar nada mas além daquilo que se quer ver e deseja enxergar. O cérebro libera uma substância capaz de provocar tanta euforia, alegria, prazer que pode provocar ,em alguns caso,o vício de se apaixonar. .São os viciados pela paixão. Eles saem de uma relação e entra na outra com a mesma intensidade que eles dão um trago ou cheiram cocaína. O objeto de desejo mudou, mas o comportamento obedece o mesmo padrão compulsivo.Com o fim dessa sensação prazerosa o indivíduo terá que decidir se essa relação vai se tornar amor ou não. Esse estado ,que mais se parece com aquela euforia mãe-bebê, vai se esvaindo aos poucos até que os parceiros se tornem diferenciados um do outro. Nesse momento então enxerga-se o inevitável: As diferenças. Nessa hora o amor é necessário para que possamos conhecer a verdade. Neste processo o amor gera a confiança, que entra como um catalisador dessa construção. 
Amor sem verdade não é mais do que paixão; verdade sem amor não passa de crueldade" Wilfred Bion (1897-1979),psicanalista britânico
A verdade precisa ser revelada para que o amor   se consolide. A verdade de si mesmo, a verdade do outro."
Amar verdadeiramente alguém é acreditar que ,ao  amá-lo,se alcançará uma verdade sobre si. Ama-se aquele que conserva a resposta à nossa questão: Quem sou eu? "Jacques -Alain Miller
Temos que ser oceanos aberto para   que o outro possa desaguar . Isso servirá de cenário para a história que iremos contar.Maduros, permanentes e seguro agora. Inicia-se, então, um novo relacionamento. Agora , sustentado pela realidade. Contudo, mais seguro, mais sólido e mais permanente. É um amor difícil de ser aceito na nossa sociedade líquida cultuada pela imagem e pelo excesso.
"Eu estava a pensar na forma como se poderá entender o amor, à luz da minha formação. Da minha perspectiva, depende daquilo que o outro representa, se o outro é um prolongamento nosso, é uma parte nossa, como acontece muitas vezes, ou é uma idealização do eu de que falaria o Freud. No sentido psicanalítico poder-se-ia dizer que o amor corresponde ao eu ideal e, portanto, à procura de qualquer coisa de ideal que nós colocamos através de um mecanismo de identificação projetiva no outro. Portanto, à luz de uma perspectiva científica, como é apesar de tudo a psicanalítica, o problema começa a pôr-se de uma forma um bocado diferente. Nesse sentido e na medida em que o objecto amado é sempre idealizado e nunca é um objectivo real, a gente, de facto, nunca se está a relacionar com pessoas reais, estamos sempre a relacionarmo-nos com pessoas ideias e com fantasmas. A gente vive, de facto, num mundo de fantasmas: os amigos são fantasmas que têm para nós determinada configuração, ou os pais, ou os filhos, etc. (...) O amor é uma coisa que tem que tem que ver de tal forma com todo um mundo de fantasmas, com todo um mundo irreal, com todo um mundo inventado que nós carregamos connosco desde a infância, que até poderá haver, eventualmente, amor sem objecto. O amor não será, assim, necessariamente, uma luta corpo a corpo, ou uma luta corporal, mas pode ter que ver realmente com outras coisas, uma idealização, um desejo de encontrar qualquer coisa de perdido, nosso, que é normalmente isso que se passa, no amor neurótico, ou mesmo não neurótico. Quer dizer, é a procura de encontrarmos qualquer coisa que a nós nos falta e que tentamos encontrar no outro e nesse caso tem muito mais que ver connosco do que com a outra pessoa. Normalmente, isso passa-se assim e também não vejo que seja mau que, de facto, se passe assim. "António Lobo Antunes[1]
Esta reflexão de Antonio Lobo reforça o pensamento de Jacques Lacan [3] que diz que "Todo amor encontra seu suporte em certa relação entre dois saberes inconscientes” Amamos a falta , o que não é conhecido. Como bem disse Rubem Alves "É isto que amamos nos outros: o vazio que eles abrem para que ali cresçam as nossas fantasias .Buscamos, no outro, não a sabedoria do conselho, mas o silêncio da escuta; não a solidez do músculo,mas o colo que acolhe... Como seria bom se as outras pessoas fossem vazias como o céu, e na tão cheias de palavras, de ordens, de certezas.Só podemos amar as pessoas que se parecem com o céu, onde podemos fazer voar nossas fantasias como se fossem pipas..."

Segundo Renato Dias Martino " A forma como se escolhe o par amoroso revela a maturidade do ‘eu" .Há casos em que os romances provocam estados afetivos comprometidos que causam profundo sofrimento ,os quais , segundo Andréa de Souza Vaz "
são caracterizado por:instabilidade emocional, baixa autoestima, abuso de substâncias
químicas, compulsão alimentar,amor em demasia(patológico), tristeza, euforia, ilusão, ... desequilíbrio emocional e financeiro, ansiedade..." 
Nesses casos é indicado uma busca profissional, pois segundo Juan-David Nasio " Toda dor é a lembrança de uma dor antiga e toda perda é a reprodução de uma primeira dor já esquecida."[2]
"Quando amar significa sofrer esta se amando demais. Quando não gostamos de muitas das características, valores e comportamentos básicos do parceiro , mas toleramos pacientemente ,achando que ,se ao menos formos atraentes e amáveis o bastante ele irá mudar, este pode ser um caso exemplar de quem esta amando demais. Amar demais é uma experiência comum para muitas mulheres,que quase acredita ser assim que os relacionamentos íntimos devem ser. A maioria de nós já amou demais pelo menos uma vez , mas , para muitas mulheres este tipo de relacionamento é uma constante . Amar demais mesmo quando o parceiro é inadequado,inacessível, A REJEITA, e não satisfaz as necessidades do outro , e mesmo assim tem-se dificuldade para abandoná-lo pode ser um caso clássico de "Pessoas Que Amam Demais. "O fato de querer amar e ser amado pode se tornar um vício nestes casos. 
Todo amor encontra seu suporte em certa relação entre dois saberes inconscientes”
Jacques Lacan,In Seminário XX,Pág.174
E , ai ama-se de forma obsessiva ” Robin NorwoodUma das origens de se desenvolver esta obsessão por amar demais pode ser compreendida quando estudamos mais a fundo alguns casos de co-dependentes químicos. Verifica-se que muitos viveram dramas familiares e possuem histórias pessoais onde experimentaram muito sofrimentos na infância e, por isso precisaram desenvolver a capacidade de serem estoicas e salvadoras. Repetem assim o mesmo modelo que tiveram na infância onde elas é que controlam e salvam alguém que precisa de ajuda.Assim, elas perpetuam esse padrão de relacionamento insistindo em preferir relacionamentos difíceis.
"Um relacionamento é uma intercessão:Um na vida do outro e não um contendo o outro" Tereza Cristina Martins
Somos seres relacionais e apesar de termos nascido sós,  ao longo da vida vamos estabelecendo vínculos, e alguns se tornam tão vitais que seu rompimento pode se tornar uma fonte de  profunda tristeza podendo evoluir para uma depressão.

A modernidade nos alcançou, “ o futuro chegou mas  nós não estamos nele" O futuro que tanto desejamos não inclui nossa essência, nossa legitimidade enquanto indivíduos. Evoluímos tecnologicamente ,mas nossas relações interpessoais e nossos vínculos afetivos estão aquém de nossas demandas  emocionais e necessidade pessoais . Projetamos alegria e prazer, estamos colhendo frustração e solidão .Desenhamos uma humanidade de paz ,mas temos mais inimigos do que aliados.
Não quero passar uma imagem derrotista ou pessimista, mas quero lembrar da responsabilidade que temos de virar esse jogo.Ainda temos tempo.As relações afetivas oscilam entrem frieza, egoísmo a descamba para a dependência. O equilíbrio tem sido um material escasso na construção da sociedade

Apesar de estarmos mais modernos e vivermos numa sociedade altamente evoluída tecnologicamente, ainda estamos aprendendo a viver  uma relação afetiva ,ainda estamos   desenhando o projetando o modelo de como conviver com o outro sem nos tornamos dependente dele. Há gatilhos que ainda detonam nossas lembranças mais escuras nos deixando,algumas  vezes,na mão  do outro, o até mesmo desejando o outro como objeto de posse.O mundo moderno esta longe de aprender a experiência do luto necessário , haja visto a necessidade do imediatismo tão cultuado em complacente acordo com a superficialidade dos  "Amores líquidos". Ninguém tem mais tempo de cultuar o presente, de investir nas necessidades legítimas, de se abandonar em suas ousadas aventuras de ser o que se verdadeiramente é.

A dificuldade de virar página ainda se  sustenta na busca de não abandonar  o passado, "mudar o disco" e largar a velha canção ainda  é um desafio."Sair pra vida e tomar a cidade"  depois de um vínculo rompido oscila entre o imediatismo prazeroso  e a depressão pela incapacidade de elaborar do luto .A ansiedade esta tomando o lugar do prazer pelo simples e pelo verdadeiro. Ainda se paga  preços altíssimos para se obter o afeto do de alguém .Sabe-se que  no fundo tudo que precisamos mais é  sermos amados,mesmo que que esse amor venha disfarçado de carros importados, de mulheres bonitas e  um status social alto. No final do túnel a luz que acende é aquela que nos faz descansar no colo de quem a quem a gente ama. Falei "descansar no colo"? Não foi ato falho,,é a nossa mais confortável emoção e desejo inconsciente,  porque  esse afeto que nos assombra e nos desmonta todo,  a todo custo esta relacionado com nossas primeiras experiência afetivas: O colo da mãe, sua atenção seu toque. Ainda que  pareça uma teoria psicológica barata essa é a base de todos os nossos relacionamentos.Nossos pais. Ainda que a gente complexifique tudo,ainda que a gente explore todas as teorias psicológicas, a base dos nossos afetos é a nossa relação maternal/paternal.Desse a matriz  reproduzimos nossos  futuros ,e muitas vezes fatídicos,  vínculos.Não vou me aprofundar neste tema.Apenas me utilizarei desse principio básico para desenvolver minha reflexão e tentar discutir sobre essa questão que me inquieta.Porque ainda há tanta fragilidade nas relações afetivas.Porque é        tão difícil se relacionar de forma íntima.Porque  sofremos tanto num rompimento amoroso?
"Penso em tudo o que os homens sentem pelas mulheres que amam e tento dizer o que nos une nesse amor. Fora dos pormenores e das particularidades. Sei que as mulheres que nos amam não nos amam de maneira diferente mas, como nunca se sabe, deixei-as de fora, falando apenas pelo meu género: a malta.
Minha amada querida. O meu pai, logo depois de se ter apaixonado pela minha mãe, disse-lhe, em pleno namoro (ela uma mulher inglesa casada, com uma filha pequena; ele um solteirão português): «Se soubesses quanto eu te amava, destruías-me já.» E disse a verdade. Era tanto o amor e o ciúme que lhe tinha, que fez mal à mulher que amava, minha mãe, e mal ao homem que a amava: ele próprio, meu pai.
O amor é um castigo: é um desespero: é um medo. O amor vai contra todos os nossos instintos de sobrevivência. Instiga-nos a cometer loucuras. Instiga-nos a comprometermo-nos. Obriga-nos a cumprir promessas que não somos capazes de cumprir. Mas cumprimos.
Eu amo-te. E não me custa. É um acto de egoísmo. Mesmo que tu me odiasses mas te odiasses tanto a ti própria que não te importasses de ficar comigo, eu seria feliz e agradeceria a Deus a tua inconsciência; a tua generosidade; qualquer estupidez ou inteligência que te mantivesse perto de mim.
A sorte não é amar-te nem tu me amares. A sorte é ter-te ao pé de mim. Tu podes estar enganada. Deves estar enganada. Mas ninguém neste mundo, por pouco que me ame ou muito que te ame, está mais certa para mim. Obrigado.  ( Título original do texto: «Obrigado, namoradas» )
Miguel Esteves Cardoso, in 'Amores e Saudades de um Português Arreliad

Jamais conseguiria responder tudo isso...mas tem algumas coisas que me ajudam e me acalma nessas incertezas.Algumas  "verdades" benditas que aprendi á duras penas. Uma delas é muito bem retratada num texto da Martha  Medeiros:  "Mantenha-se atrás da faixa amarela, não chegue muito perto, não acerque-se de meus traumas, não invada meus mistérios, não atrite-se com o meu passado, não tente entender nada: é proibido tocar no sagrado de cada um

A intimidade é uma terra pouco habitada porque ela exige muito de nós. Nos cabe ali nos desnudar inteiros  diante de um "estranho"   que  um dia pode nos  abandonar. E é ai que se trava verdadeiras batalhas que pode se desaguar nos mares da depressão e desespero.

em alguns casos há os que que não temem , e são abandonados sem certezas e respostas claras. Desse pode nascer  os futuros amantes decepcionados e  despreparados para o novo amor.

Há aqueles que não se desnudam jamais.Casos claro de nunca terem vivido nessa terra cálida e sólida do afeto maternal seguro,dedicado e constante.Esses constroem monstros em jardins floridos porque não aprenderam descansar .Quem não viveu a segurança do colo e da presença nunca dificilmente conseguira viver a segurança de uma relação.Raramente conseguirá sonhar,sair do chão,pois a solidão em sua infância foi solo de desesperança e não o permitiu que houvesse estrelinhas e nuvens cor de rosa em seus jardim de infância.Mas há uma terceira categoria oriunda desses desacerto que mais me chama a atenção. É sonhador compulsivo, o eterno apaixonado .Aquele cujos pés não podem tocar o chão. O sofrimento da realidade lhe foi como um bombardeio em Chernobyl vivendo um desastre  que reverbera adentrando seu futuro.São amantes que não sabem amar porque não podem viver novamente sua tragédia , e vivem pra sempre reproduzindo seus abandonos e sofrimentos. 

Há uma lista de frentes explicativas que eu poderia conduzir neste tema,mas esta última para mim é a mais delicada. É neste palco que os grandes tragédias das relações  estreiam, é nesta ring  que as violências domésticas travam as maiores batalhas, é neste campo que se concentram as grandes decepções amorosas. 
"O contato é implicitamente incompatível com permanecer o mesmo" 
POLSTER, 2001, p.110
Há alguns textos legais que ajudam a gente entender como conduzir uma relação saudável.Mas acho que ainda estamos engatinhando nessa jornada,pois essa não é uma caminhada teórica,mas sim histórica, pessoal e subjetiva de cada indivíduo que foi amado ou não.E que agora pode amar ou não. Uma relação a dois é uma jornada de perguntas e respostas diárias que apostamos na sorte do passado e na reconstrução presente de duas pessoas podem ou não estar dispostas a pagar o preço de um futuro incerto.E para conviver com o incerto é mister que a gente se ame muito, que haja autoconhecimento construído pela auto estima.E isso é material de estudos profundo ,individual e constante.Isso é tema de vida e de existência.Isso não é para todos. Isso se aplica aos corajosos e aos que se colocam humildes diante do inesperado que a vida nos presenteia.

Diante de toda esta reflexão o que mais espero e sonhos é podermos aprender a crer em um amor que possa servir de sustentação e força para o dia a dia, que este amor nos desviei de nós mesmos quando não estivermos com dúvidas e sem fé na vida. Este tipo de amor,do qual me refiro , não pode ser baseado no desejo,pois com disse Lacan, "o desejo é intervalar, o desejo é sempre o desejo de outro desejo".Este amor que acredito não pode ser fundamentado no egoísmo, pois a rotina vai desgastar a última gota de sua emoção .Que as relações sejam sustentadas  por uma   espécie de amor que cura, que fortalece os vínculos, que produz paciência nas horas de cansaço, que coloque cor onde não tem mais nenhum sentimento
Acredito numa dimensão de amor que excede nossa visão limitada   e  é capaz de transformar uma sociedade .É o amor  Ágape, aquele que cura,  o  amor de Deus em nós ,ou mesmo o amor de Deus  por nós, o qual é incondicional, único e impossível de ser descrito com exatidão.Ele não se mede pela política meritocrata. Não se explica pela ciência. Porque esse amor é o próprio Deus existindo dentro de nós  numa dimensão diferente da nossa. No entanto, só é  possível experimentá-lo através da relação com o outro.Pois é ali que encontramos a Deus. Se não amamos o que vemos não podemos conhecer   o que não vemos.E ninguém ama o que não conhece.Este amor tem uma energia natural capaz de virar nossa vida de cabeça para baixo  e resgatar tudo que já esta desacreditado. Ele nos fortalece para reiniciar a caminhada . É o oposto do Amor Romântico,pois não é passageiro , é maduro e se vste de humanidade mesmo tendo uma natureza divina.
   "O amor romântico é como um traje, que, como não é eterno, dura tanto quanto dura; e, em breve, sob a veste do ideal que formamos, que se esfacela, surge o corpo real da pessoa humana, em que o vestimos. O amor romântico, portanto, é um caminho de desilusão. Só o não é quando a desilusão, aceite desde o principio, decide variar de ideal constantemente, tecer constantemente, nas oficinas da alma, novos trajes, com que constantemente se renove o aspecto da criatura, por eles vestida."Fernando Pessoa


[1]António Lobo Antunes sobre "A Idealização do Amor ", in "Diário Popular (1979)
[2]Juan-David Nasio( Psicanálise e Amor: uma transmissão.)
[3]Jacques Lacan,In Seminário XX,Pág.174
4] Helen Fisher, Porque Amamos- A Natureza Química do Amor Romantico, Relógio d'Água 2008)
[5] Arte e Psicanálise

[6]Anselm Grün, Morar na casa do Amor, Edições Loyola


Sugestões :
Texto Dependência Afetiva" http://contruindooser.blogspot.com.br/2013/12/dependencia-afetiva.html
Três Vídeos da Etrevista Fale Mais sobre Isso :http://www.youtube.com/watch?v=6hY_adbC2To&feature=youtu.be

Eu

Por Rosangela Brunet "O meu mundo não é como o dos outros: quero demais, exijo demais; há em mim uma sede de infinito, uma angústia...