sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Reflexões Sobre o Filme "Histórias Cruzadas"

Por Rosangela Brunet

"The Help" ou "Histórias Cruzadas ",título no Brasil, é um filme de drama, que surgiu do livro romance homônimo de Kathryn Stockett. O filme é um retrato sobre uma mulher caucasiana, Eugenia “Skeeter” Phelan, e o seu relacionamento com duas empregadas negras durante a era americana dos Direitos civis no idos de 1960. Skeeter é uma jornalista que decide escrever um livro da perspectiva das empregadas (conhecido como The Help), mostrando como elas estão sofrendo racismo na casa de brancos. " [1] 

Histórias Cruzadas :Uma luta contra o preconceito numa época impregnada de Intolerância  .Esse filme aborda de forma delicada e profunda o tema  preconceito.É um filme impregnado de emoções cruzando a história de um povo sofrido,  vitimizado pela arrogância, hipocrisia,intolerância e preconceito de uma sociedade. A ficção retrata conflitos velados por uma cultura que já  cultuava a imagem e o materialismo. Em plena década de 60, num clima de guerra pelos direitos civis como pano de fundo, acontecia , então,  no Mississípi , um  drama poético,  desenhado pelo  sofrimento de um povo oprimido pela crueldade de uma elite que insistiam em manter suas máscaras sociais a todo preço. O  longa  mostra  o contraste entre o discurso de  opressores e suas vidas privadas. Um grupo de socialites da época de 60, pessoas entediadas e frustradas com suas vidas medíocres e e discursos hipócritas  Veja o trecho de Allport (1954), o descreve o preconceito sob este ângulo 

"...o preconceito é o resultado das frustrações das pessoas, que, em determinadas circunstâncias, podem se transformar em raiva e hostilidade. As pessoas que se sentem exploradas e oprimidas frequentemente não podem manifestar sua raiva contra um alvo identificável ou adequado; assim, deslocam sua hostilidade para aqueles que estão ainda mais “baixo”na escala social, promovendo o preconceito e a discriminação"  
Algumas falas do filme me emocionaram  bastante .Uma delas foi quando , no final do filme, após tantos confrontos, a mãe da jornalista Skeeter diz para ela: " Às vezes a coragem salta uma geração. Obrigado por você tê-la resgatado
Esta cena foi o desfecho de uma relação partida pela preconceito.Provando que , quando nos levantamos para confrontar uma ideia  que foi cristalizada  ao longo dos tempo, até as pessoas que antes nos amavam ,  podem nos abandonar e até começar a nos odiar. A própria mãe de Skeeter foi uma de dessas oponentes. A jornalista,aqui, é o protótipo de uma guerreira valente ,pois é preciso muita coragem ,e uma educação libertadora,como disse Roberto Freire,   para se levantar contra uma sociedade, cujas mãos estão  cheias de sangue  de  inocentes, derramado pelo preconceito e hipocrisia de sua elite. Skeeter,  parece uma mistura do arquétipo de herói com   de  uma guerreira.
“Segundo Adorno (1950), " a fonte do preconceito é uma personalidade autoritária ou intolerante(...) Respeitam a autoridade e submetem-se a ela, bem como se preocupam com o poder da resistência.(...) elas não acreditam na natureza humana, temendo e rejeitando todos os grupos sociais aos quais não pertencem, assim, como suspeitam deles. O preconceito é uma manifestação de sua desconfiança e suspeita."
Regina Célia de Souza o preconceito possui fontes cognitivas. Os seres humanos são “avarentos cognitivos” que tentam simplificar e organizar seu pensamento social o máximo possível. A simplificação exagerada leva a pensamentos equivocados, estereotipados, preconceito e discriminação.Além disso, o preconceito e a discriminação
podem ter suas origens( nas tentativas que as pessoas fazem para se conformar - conformidade social). 
Se nos relacionamos com pessoas que expressam preconceitos, é mais provável que as aceitemos do que resistamos a elas. As pressões para a conformidade social ajudam a explicar porque as crianças absorvem de maneira rápida os preconceitos de seus pais e colegas muito antes de formar suas próprias crenças e opiniões com base na experiência. A pressão dos colegas muitas vezes torna “legal” ou aceitável a expressão de determinadas visões tendenciosas – em vez de mostrar tolerância aos membros de outros grupos sociais." 
Tiago Dantas define perfeitamente o racista : “Preconceito racial é caracterizado pela convicção da existência de indivíduos com características físicas hereditárias, determinados traços de caráter e inteligência e manifestações culturais superiores a outros pertencentes a etnias diferentes. O preconceito racial, ou racismo, é uma violação aos direitos humanos, visto que fora utilizado para justificar a escravidão, o domínio de alguns povos sobre outros e as atrocidades que ocorreram ao longo da história. Nas sociedades, o preconceito é desenvolvido a partir da busca, por parte das pessoas preconceituosas, em tentar localizar naquelas vítimas do preconceito o que lhes “faltam” para serem semelhantes à grande maioria. Podemos citar o exemplo da civilização grega, onde o bárbaro (estrangeiro) era o que "transgredia" toda a lei e costumes da época. Atualmente, um exemplo claro de discriminação e preconceito social é a existência de favelas e condomínios fechados tão próximos fisicamente e tão longes socialmente. Outra forma de preconceito muito comum é o sexual, o qual é baseado na discriminação devido à orientação sexual de cada indivíduo. O preconceito leva à discriminação, à marginalização e à violência, uma vez que é baseado unicamente nas aparências e na empatia." 
O filme é o retrato de pessoas que se cruzaram pelos mesmos caminhos sofridos,misturando dor decepção e cansaço; como uma rede que para uns serviu de armadilhas , e para outros a arma certa de opressão; controlando, dominando e prendendo vítimas inocentes,  submissas por sua ignorância e fragilidade. Ambos entrelaçados.Uns navegando seus oceanos pacíficos ,outros seus mares agitados.
Mas o que movia Skeeter era uma motivação pessoal .O que a fazia atravessar essa trama contrariando a paz daquela cidade era sua história.Sua formação ,  um olhar que a transformou -  Os cuidados de uma dessas "mulheres negras" , que eram chamadas de "domésticas" a confortou e a sustentou promovendo a base de toda aquela força que a movia .Uma garota sonhadora , que apesar de  pertencer àquela fatídica  sociedade,  encontrou voz para representar o clamor de um povo cuja súplica era como um alarido de angústia de um soldado vencido. Skeeter, além de ter conhecido na pele o preconceito ,ela conseguiu obter experiência para transformar sua história numa linda contribuição para a sociedade. 
Gostaria de compartilhar a  tradução da música "The Living Proof" , trilha sonora do filme. E se trecho me passa o sentimento de ter vencido a primeira etapa de uma longa batalha -a batalha do preconceito. Mas para quem viveu o pior, este e o início de uma nova vida. No fim do filme você se sente inspirado a lutar por uma causa .
Vale ouvir esta música e ver este vídeo no Youtube. No fim da postagem você encontrará o link dela 
Vai ser uma Longa viagem.Vamos que ter escalar uma enorme montanha , e passaremos muitas noites solitárias. Mas sei que estou preparada pra seguir em frente.Estou tão feliz porque o pior já passou e agora eu posso começar a viver. Agora sinto como se eu pudesse fazer qualquer coisa.Qualquer coisa que você me disse ou fez pra mim não poderia negar a verdade. Porque eu sou a prova viva. Tantas lutas e angústias que não deixavam eu enxergar além,mas olhe pra mim agora.Eu sou a prova viva. Sei que vida foi cheia de sofrimento e dor, e levou muito tempo para aprender como sorrir.Mas agora posso contar para meu povo sobre as tempestade que vencemos , e eles agora eles podem ter esperança, pois o pior já passou , que agora somos livres e o melhor esta por vir. Eles não podem mais negar o que fizeram, pois sou a prova viva.Agora sei para onde estou indo,seio que tenho sido. Nada na minha vida foi fácil,mas nada vai me derrubar agora .Porque agora eu sei muito sobre hoje, sei sobre o que passei e estou pronta para seguir em frente.Oh Senhor!!!” ( "The Living Proof" da conta Mary J. Blige.)[2] 
É inevitável não chorar com a fala de uma das vítimas do preconceito.Ela é injustiçada e demitida por uma mentirosa acusação de roubo, mas deixa aquela história, e parte destemida para viver um novo  tempo depois de ter arriscado a própria vida em nome de sua  liberdade, bem como da liberdade de seu povo. Ao som dessa música ela vai embora dizendo:"Deus manda que a gente ame o inimigo. Mas como é difícil ! Mas podemos começar falando a verdade. Nunca ninguém havia me perguntado quem eu era. Quando resolvi falar,  a verdade me libertou."    
Atualmente ainda vemos muito preconceito. Eles estão escondidos em alguns casos , são velados nos discursos hipócritas  de algumas pessoas ,cujo interesse é manter uma imagem de bem aceita na sociedade. Mas ainda há muito preconceito. Veja o vídeo abaixo
No que se refere a questão do preconceito, o que mais me preocupa é sua presença no meio profissional ,pois é ali onde se estabelece relações importantes na construção da sociedade. 
Leis são assinadas, questões polêmicas são discutidas em uma mesa redonda.Todos os dias temos que tomar decisões que afetarão, de alguma forma, a vida de alguém.É um funcionário que vai ser contratado ou  demitido ;um paciente na enfermaria esperando o cuidado e a atenção do médico na hora de um diagnóstico e tratamento apropriado. 
Apesar de achar a palavra humanização um pleonasmo viciosos, acredito,ou seja, coloco crédito, na ideia de que a maior campanha de humanização que poderíamos fazer seriam os profissionais se tornarem realmente humanos.A humanidade tem que ser exercida na hora que ninguém esta nos vendo. Seja no trabalho, no silencio do nosso quarto ou no escuro da noite.Bandeiras não salvam ninguém. Solidariedade, respeito e amizade sim...

Referências : 
[1] Wikpédia
[2]Link da música no Youtube :  http://youtu.be/WfmdjKTH1a4

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Eu

Por Rosangela Brunet "O meu mundo não é como o dos outros: quero demais, exijo demais; há em mim uma sede de infinito, uma angústia...