quinta-feira, 14 de dezembro de 2017

Autoengano

Por Rosangela Brunet

"Mentimos para nós mesmos o tempo inteiro: (....) acreditamos nas juras da pessoa amada, só levamos realmente a sério os argumentos que sustentam nossas crenças. Temos a nosso próprio respeito uma opinião que quase nunca coincide com a extensão de nossos defeitos e qualidade. Sem o auto engano ,a vida seria excessivamente dolorosa e desprovida de encanto. Abandonados a ele , entretanto, perdemos a dimensão que nos reúne às outras pessoas e possibilita a convivência pessoal." (Eduardo Giannetti, In: Autoengano)
"Faceation No. 3" by Sebastian Bieniek (B1EN1EK), 2014.

Esse artigo tem como objetivo de falar sobre as mentiras que contamos pra nós mesmos, o que chamamos de autoengano segundo Giannetti,

Todo sujeito busca evitar a dor e buscar o prazer. Segundo a psicanálise esse processo surge desde a infância quando vamos escolhendo nossos objetos de desejo e evitando tudo aquilo que se  tornou objeto de dor. Para Melanie Klein esse fenômeno se inicia desde de a amamentação quando a criança vai conhecendo  seio bom e o seio mal. em função dessa descoberta ela vai aprendendo a amar o mundo e amar a si mesmo pelo seio bom.Por outro lado vai reprimindo e projetando no outro o ódio que aprendeu na internalização do seio mal.
Em função dessas experiências ,ao longo da vida a criança vai criando defesas para pode lidar com seus instintos, pulsões e desejos   x  demanda cultural. 
O sujeito barrado é um sujeito que ,na medida em que vai experienciando sua vida vai encontrar meios através do ego para lidar consigo mesmo e com o mundo.
É nesse processo que o autoengano se constrói. Como disse Giannetti, isso pode ser altamente benéfico por defender o indivíduo de dores insuportáveis ,mas pode se tronar sintomático quando este autoengano se torna uma mãscara engessada. Quando essa máscara se torna uma pele essa pessoa não tem mais capacidade de saber quem ela é, além de ter perdido sua espontaneidade. 
Cada pessoa possui sua própria digital, assim como cada um vai desenvolver as defesas e máscaras mais apropriadas para poder viver no mundo.
Vejamos um exemplo muito emblemático. Aquela pessoa que diz que não gosta da outra,mas não sabe porque.  A irritação, a rejeição e até mesmo a exclusão se instala disfarçando um gatilho que pode levar essa pessoa a entrar em contato com justamente aquilo que ela evita ou rejeita nela mesma.
Aqui eu introduzo  dois conceitos : o conceito de sombra e o conceito de Mecanismo de defesa do ego chamado projeção.

Mecanismo de Defesa do Ego

Projeção é um dos mecanismo de defesa do ego mais primitivos. Desde o seio materno a criança já tem a tendência de projetar o que é entendido como mal ou o próprio sentimento de ódio como não sendo pertencente a ela,pois admitir tal coisa causaria dor. Com isso a criança projeta no mundo seu ódio e tudo que ele entende como aquilo que não é bom. 
Entenda bem, A criança entende em função de sua relação com o mundo desde o seio até a vida adulta, o indivíduo esta apreendendo o mundo de sua forma. Nem sempre o que uma pessoa considera ser ruim, mal ou alvo de ódio é necessariamente realidade. Cada um tem sua verdade que deve ser respeitada,acolhida e escutada. A única verdade que deve ser questionada é aquela absoluta. Essa sim, segrega e exclui.
Vivemos em uma sociedade ocidental onde a mente é a que dirige, define e busca a verdade.
O ego é a instância que regula e media as relações e é extremamente valorizado por conta de sua função. No entanto,não somos apenas ego. Temos uma essência, um Eu verdadeiro segundo a Psicologia analítica.
Por isso, o ego pode ser altamente importante quando consideramos quem somos como algo maior, algo em constante mudança e transformação em direção a individuação. Uma Ser que vai além do Ego.
Em função disso o conceito de sombra é extremamente necessário para maior entendimento desse Ser Total, um Ser com uma visão holística. Consideramos O sujeito constituído também de um inconsciente pessoal e coletivo. E quando acessamos estes inconscientes nos deparamos com a sombra

Sombra ( leia também o artigo  (Arte & Psicologia: Arquétipo Sombra:)

Sombra é um arquétipo * segundo Carl Gustav Jung, a qual se encontra em nosso inconsciente pessoal e coletivo. É na sombra que encontramos tudo que foi evitado,reprimido, recalcado, esquecido, arquétipos e complexos.
Voltando ao assunto do autoengano. Um dos maiores motivos de nos auto enganar é por não querer entrar em contato com a dor. 
Mas a dor vem.  Seja de dentro ou de fora,mas ela vem. E a transformação e a mudança só se dá através do enfrentamento da dor. A dor que esta dentro sendo evitada, bem como todas as emoções como raiva, culpa, vergonha, ódio, etc são afetos que precisam ser confrontados, aceitos, acolhidos, olhados de perto, compreendidos ,pois cada afeto desses estão ligados a pensamentos e atitudes que poem estar limitando o desenvolvimento da pessoa  e impedindo que ela seja feliz. Quando entro em contato com todas as dores, defesas, e máscaras , então podemos usar nosso cérebro para decidir o que fazer com tudo isso. Assim "os neurônios do coração" podem ser acessados para construir soluções criativas
Quem não entra em contato com seus afetos não aprendem a lidar com eles.Consequentemente não podem lidar com os sentimentos alheios. Daí tanta dificuldade de relacionamentos afetivos, interpessoais e intrapessoal
Por isso, o autoconhecimento é tão importante ,mas ao mesmo tempo tão evitado e temido.
"Em todo processo de individuação sempre teremos que passar por dor, culpa e vergonha" Carl. G. Jung
Vivemos em uma cultura onde a introspecção é algo questionado. Muitos acham que pessoas introspectivas  são pessoas doentes. Muitos consideram que as práticas que levam ao autoconhecimento são práticas que atrapalham o processo de desenvolvimento profissional, e até pessoal. 
Os ativistas, os empreendedores e os indivíduos que estão á serviço de uma meta e são fruto da sociedade materialista e consumista - sociedade ocidental, não entendem e nem aceitam esses discursos. São pessoas que vivem suas vidas em função do que aprendeu e em função de corresponder as expectativas dos outros, seja da sociedade, seja do seu gestor, seja de crenças internalizadas e limitantes,mas o fato é que espontaneidade e autenticidade é uma palavra que não vazia de significado para essas pessoas.











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