"Hoje caí de joelhos diante de mim.Olhei bem no fundo dos meus olhos.E vi minha porção mais opaca bem de perto.Sento toda a escuridão que me habita.Toquei toda a minha pequenez.Percorri com os dedos aqueles territórios que sempre receio examinar. A necessidade de ser maior do que os outros.A necessidade de diminuir os outros para me sentir mais importante.Então, olhei um pouco mais fundo.Por trás destes lugares , percebi uma planície ainda mais vasta: o medo de ser desprezada, o orgulho ferido, o terror de ter o meu valor atacado, a dor da exposição ao ridículo , a fera que mostra suas garras quando isso acontece; a animalidade que vem á tona ao ser contestada.Não, sombra amiga, hoje eu não vou te calar.Tampouco vou sentir culpa em tu nome. Também não vou ignorar tua enorme presença em mim.Não mais...Hoje quero te olhar no fundo dos teus olhosComo olho no olho de uma filha que acabou de riscar uma prede inteira.Sabendo que era errado fazer, mas optou por seguir adiante mesmo assim. Não adianta bater, gritar, botar de castigo.Não adianta violentar.Então, como agir com uma criança que faz isso para chamar atenção:Dou colo e converso , com voz doce e calma."Querida, você esta cansada?" "Você esta brava? " Você esta nervosa ou com medo?" "O que foi que te chateou ou te feriu? "
O que te deixou assim nessa defensiva toda? Você quer dormir, quer uma sopinha quente e se enrolar em um cobertor abraçada comigo?Então, eu olho para essa criança com a expressão mais próxima, parceira e solidária possível , e sigo acolhendo:Vem cá, deixa eu te dar um colinho....deixa eu murmurar uma música baixinha no teu ouvido enquanto nino seu coração junto ao meu. Para frente e para trás ,vamos respirar juntas.Vem. Deixa eu te tranquilizar. Deixa eu eu dizer que teu valor existe e nâo há quem conteste isso. Não precisa sentir prazer na derrota de ninguém para se sentir valorosa, se atribuir valia.Que esses aspectos infantis- todos e cada um são anos e anos, vidas e vidas repetindo esses tropeçosVícios morais que vão se perpetuando em rotas velhas, antigas e conhecidas, tal qual trilhas que vemos marcadas fortemente nos gramados.Trilhas, essas que de tão abertas a gente se sente irresistivelmente atraído a passar sempre por lá aturdido pelo vício de percorrer este mesmo lugar.Vem cá, deixa eu te mostrar que tem um caminho diferente.Uma forma inédita de se sentir quando o outro mostra a sua fragilidade .Uma maneira nova de se deixar inspirar por alguém que parece melhor que você.Um jeito surpreendente de agir diante de um ataque inesperado.Tem muitas e muitas trilhas novas e abertas a se percorrer diante de mim .Dentro de nós...No entanto, não vou mais tentar abrir essas trilhas na marra, á base de força, repreensão, com gritos, culpas, entorpecimentos, fuga. De ignorar fatos, tampar o sol com a peneira...nem mesmo de encher a cara de brigadeiro, não...Vou aproveitar a oportunidade maravilhosa que se faz presente por meio desses instrumentos divinos que Deus coloca no meu caminho, a começar da minha própria sombra.Quero agradecer por cada ser ,cada espelho que atua para que possa conseguir enxergar o que tanto clama por ser visto dentro de mim. E assim, somente assim, ter elementos para criar algo novo Gratidão Pai pela oportunidade bendita do convívio, pela oportunidade bendita dos atritos!Pela oportunidade bendita que essas faíscas trazem! Para mostrar a necessidade do auto-acolhimento, seguido de autoconhecimento e, então, o semear do auto-esclarecimento, com as sementes benditas do (AMOR)E, assim,alçar voos mais livres,em movimentos novos de criação.Que eu tenha a força de acolher minha sombra com TODO o meu amor.Com carinho e generosidade sim, mas com o foco e a determinação que somente as aventuras mais instigantes conseguem despertar nas fibras profundas do coração.Gratidão, Pai. Por mais este encontro com minha sombra!" Daniela Migliari
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