sábado, 30 de janeiro de 2016

Filme Perfect Sense (O Sentido do Amor)


Por Rosangela Brunet, In; Arte & Psicologia


Sinopse

"Susan (Eva Green) é uma epidemiologista que está tentando se restabelecer de um relacionamento passado e através de um paciente com um caso particular, que perdeu todo o olfato depois de ter uma crise emocional, acaba descobrindo um novo tipo de doença. Dia após dia, outras pessoas são relatadas com o mesmo problema em vários lugares da Europa, em seguida, do mundo, até transformar-se numa epidemia. Michael (Ewan McGregor) é chef de um restaurante vizinho do prédio onde Susan mora. Eles se conhecem neste mundo fictício onde o caos parece estar cada vez mais próximo. Logo após ter outra crise emocional, a população global perde mais um sentido, até lhes sobrarem somente a visão e o tato.

O uso da narração pelo olhar atento de Susan dá um aspecto poético e reflexivo em cenas que ficarão guardadas na memória por um bom tempo. O roteiro é competente em não enrolar, dando as informações necessárias, e somente. Não há indicação de culpados, apenas suposições, e como este não é o motivo da obra, realmente não era preciso discorrer tanto. É interessante pois o espectador acaba se focando no romance entre o casal e como eles estão lidando com a perda dos sentidos, que a epidemia em si acaba ficando em segundo plano, mesmo ela sendo a causadora de tantos problemas.

É importante salientar como a direção de som tem um aspecto muito importante no decorrer da obra. Não somente a banda sonora, mas em momentos de total silêncio onde podemos sentir o desconforto e desespero que os personagens sofreram ao perder a audição. A fotografia desempenha um papel um tanto depressivo no contexto. A própria Londres é uma cidade nublada e escura, e aqui, os tons negros parecem acentuam ainda mais as características da cidade.
O filme nos faz refletir sobre como seriam nossas vidas a partir do momento em que perdemos algum sentido, como falei no começo do texto. Mas indo ainda mais além, nos faz refletir sobre como nos relacionamos com as outras pessoas, sobre a nossa capacidade de poder amar o outro sem sentir. Michael, depois de perder o olfato, cheira Susan, e percebe que nunca chegou a sequer lembrar qual era o odor dela. Uma cena simples e impactante." :HIAN LIMA [1]
Um filme brilhante.Uma narrativa do sentido do Amor a respeito de quando tudo fará sentido...acho que foi isso que eu entendi


Um chefe de cozinha 



















 Uma cientista















O sentido de vida aparece quando parece que mundo acabou.













" .... Em primeiro lugar, fomos dominado pela tristeza, ódio ,ressentimento e rancor, e então todos os sentidos se foram. Essa é a doença. A vida continua. ... Você se acostuma com isso; e todas as memórias desaparecem desencadeadas pela falta dos sentidos , pois eles estão ligados ao cérebro....E você descobre que as maiores perdas são as memórias que nunca mais serão evocadas...sem os sentidos um oceanos de imagens desaparecem , e você pensa que o mundo acabou;...mas um dia tudo fará sentido,mas enquanto isso se divirta com a confusão,sorria em meio às lagrimas, e continue lembrando que tudo acontece por alguma razão e o maior sentido é o Amor "( Kim Fupz Aakeson,In: " Perfect Sense")
O filme não é um melodrama nem um romance clichê. O nome em português é bem medíocre.O filme não é comercial. O filme tem base na filosofia e na ciência. A gestalt , a física quantica, a mecância quântica e a neurociência falam sobre este tema, mas lembrei de uma frase de Paulo de Tarso, apóstolo de Cristo , que diz " Porque agora vemos por espelho em enigma, mas então veremos face a face; agora conheço em parte, mas então conhecerei como também sou conhecido.Agora, pois,permanecem a fé,a esperança e o amor,destes três, o maior é o amor." O sentido de vida aparece quando parece que mundo acabou.



Filme completo dublado
https://www.youtube.com/watch?v=HM8xx_hvfJY




[1] https://cinemacinefilo.wordpress.com/author/hianlima/

domingo, 17 de janeiro de 2016

Filme Shadows in the Sun / De encontro com amor - filme inspirador

Por Rosangela Brunet


Sinopse: 

Jeremy (Joshua Jackson), um editor do livro britânico, é um aspirante  escritor à procura de um novo sopro de vida. Ele é enviado pelo seu  editor chefe  para Toscana para  convencer Weldon 

Weldon Parrish (Harvey Keitel)  a escrever um um novo livro  depois de mais de 20 anos , o qual a depois de  ter feito muito sucesso no passado  se tornou  uma pessoa rabugenta e exilada . Jeremy  se apaixona pela filha de Weldon .
Só mais tarde, depois de muitas dificuldades, Jeremy  consegue se aproximar do verdadeiro   Weldon do passado que se torna seu mentor. O filme mostra os dois lado a lado trocando de experiências e pensamentos sobre vida. 
No final, depois de um diálogo apaixonante entre Weldon e Jeremy,  Weldon decide voltar a escrever. Ele encontra  novamente  inspiração e admite que seu bloqueio era o medo do fracasso. Jeremy  decide  fazer uma  grande e profunda transformação em sua vida . Deixa de ser  apenas um escritor  aspirate e  descobre sua  verdadeira  vocação: escrever. Ele diz: quero escrever porque   não consigo me ver fao outra coisa.O filme é provocante, inspirador, apaixonante e cheio de diálogos inesquecíveis.Foi escrito por Brad Mirman. A trilha sonora de Mark Thomas foi feita para filme e  faz jus ao cenário,, enredo  e proposta dessa obra de arte      
"A trilha sonora original do filme está agora disponível da MovieScore Mídia e iTunes.A música é composta e regida pelo  prolífico compositor britânico Mark Thomas .A música de Mark Thomas é uma orquestra poética e comovente fundindo elementos que ressaltam o romântico e muitas partes de solo italiano " [1]

LISTA DE MÚSICAS

1 títulos de abertura 3:20
2 para a Itália 1:32
3 caça por Weldon 01:48
4 Sombras Beguine 02:58
5 Weldon Drives 01:16
6 Um Lugar no Coração 01:30
7 Daydreams Romântico 1:52
8 Isabella: Love Theme 02:36
9 de Weldon Escritório 04:36
10 parasitismo 01:42
11 Santa Lucia 02:
13 Going Home 01:40
14 O escritor acorda 2:32
15 Farewell 02:12

Vou colocando aos poucos algumas frases e diálogos fascinante  que pude desfrutar ao assistir este filme 

Frases

"Na vida temos que agarrar o momento, e este você deixou passar

Diálogos entre Welton e Jeremy :


 Jeremy : Você sabia que eu não faria aquilo,né? 
Welton: É Claro que sabia.Você se preocupa demaiss com o que os outros vão pensar ao te verem fazendo  alguma coisa tola ou espontânea
Jeremy:Bom isso se chama prudência
Welton : Isso se chama chatice 
Jeremy: Talvez,mas é bem melhor do que ser louco
Welton: Todos precisam de um pouco de loucura .É  o que nos livra da dor deste mundo.Há um homem selvagem dentro de você, Jeremy.Eu o vejo nos seus olhos...Porque não deixa sair, voce pode gostar dele ? 
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Welton: Descreva para mim  o que você esta vendo? 
Jeremy:  BOm, eu vejo o sol esta se pondo ,vejo verde das colinas... 
Welton: Não, descreva como se você estivesse escrevendo.
Jeremy: Ah...o sol desceu atrás....
Welton: o sol desceu? Você conhece bem seu idioma, não é? Jeremy, qualquer um pode usar as palavras.Isso se chama conversar,mas os escritores as organizam de um jeito que tenham beleza e forma.Pense nas palavras como cores e o papel como uma tela.
Jeremy: Então,tá! Se e´tão fácil assim porque você não tenta pintá-la? 
Welton: ...eu talvez dissesse algo como  ...o sol se põe devagar incendiando o céu com faiscantes sombreados de vermelho e laranja.à distância nuvens escura sobre o horizonte , os ventos mornos do verão.Em breve o sol dará passagem á noite e com ela virá o silêncio que passa sobre tudo
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Welton: como vai o livro?
Jeremy: não sei . Não verdade  estou começando a  questionar se tenho ou não o que é necessário
Welton : , sim.Duvidar de si mesmo  é uma coisa comum em pessoas criativas.
Jeremy: você acha que muitas pessoas criativas são loucas?
Welton: é claro que são loucas.Para milhares de artistas os sonhos nunca serão realidade. Você tem que ser louco.....isso é a realidade,Jeremy. Arte não é o que escolhemos fazer. É algo que escolhe a gente. Porque você quis ser escritor? 
Jeremy: Sei,la eu penso que...
Welton: Não é algo que você pensa.É algo que você sabe...diga-se quando souber a resposta .

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Welton: Descreva Isabella para mim...

Jeremy: A luz do sol emoldura seu corpo num brilho de luz adocicada enquanto o vento dança suavemente  através dos fios de seus cabelos.Seu rosto é forte e altivo com olhos que não mostram facilmente seus segredos. É um rosto que não grita,ms suavemente acena




Uma cena linda quando Jeremy e Isabella Parish  dançam  linda a apaixonadamente

Abaixo o link do filme completo dublado

 



[1] M Movie Scorre Midia http://moviescoremedia.com/shadows-in-the-sun-mark-thomas/No
[2] googleplay le encontramos as canções do filme Vide link https://play.google.com/music/preview/T7m52ybby647aiwbck6i7khc6nq?preview=AE9vGKru4SlVf_o-RAEuJCUiegQKDXK0_9kpy3zr6JZYdA37bs79qqd1-cBoXo0_LtIbuXdk-Pg5_p2bxXSoJJoGU5LO-GxOMT2dEjku_zSwd5MrZHpF71U%3D

terça-feira, 12 de janeiro de 2016

Relação Interpessoal

Por Rosângela Brunet
É preciso abrir todas as portas que fecham o coração Quebrar barreiras construídas ao longo do tempo, por amores do passado que foram em vão. É preciso muita renúncia em ser e mudança no pensar. É preciso não esquecer que ninguém vem perfeito para nós. É preciso ver o outro com os olhos da alma e se deixar cativar. É preciso renunciar ao que não agrada ao seu amor, para que se moldem um ao outro como se molda uma escultura, aparando as arestas que podem machucar. É como lapidar um diamante bruto para fazê-lo brilhar. E quando decidir que chegou a sua hora de amar, lembre-se que é preciso haver identificação de almas, de gostos, de gestos, de pele, no modo de sentir e de pensar. É preciso ver a luz iluminar a aura, dando uma chance para que o amor te encontre na suavidade morna de uma noite calma... É preciso se entregar de corpo e alma. É preciso ter dentro do um sonho, que se acalenta no desejo de amar e de ser amada. É preciso conhecer no outro o ser tão procurado. É preciso conquistar e se deixar seduzir, entrar no jogo da sedução e deixar fluir. Amar com emoção para se saber sentir a sensação do momento em que o amor te devora. E quando você estiver vivendo no clímax dessa paixão, que sinta que essa foi a melhor de suas escolhas, que foi seu grande desafio e o passo mais acertado de todos os caminhos de sua vida trilhados. Mas se assim não for, que nunca te arrependas pelo amor dado. Faz parte da vida arriscar-se por um sonho. Porque se não fosse assim, nunca teríamos sonhado. Mas, antes de tudo, que você saiba que tem aliado, ele se chama tempo, seu melhor amigo. Só ele pode dar todas as certezas do amanhã: a certeza que realmente você amou, a certeza que realmente você foi amada!... Carlos Drumond de Andrade

Minha meta neste artigo é refletir sobre Relacionamento Interpessoal, suas intercorrências e abrangências refletidas na prática da vida.
Relação interpessoal é um termo muito utilizado no meio corporativo por se tratar de uma competência essencial ao trabalho de equipe .Há diversas formas de se conceituar este termo, mas darei aqui uma explicação que considero apropriada para que seja possível o entendimento em relação ao foco principal que desejo expor.


"Ninguém se conscientiza sozinho,os seres humanos se conscientizam nas interações,na vivência de uma prática" Paulo Freire
Para se falar de relacionamento interpessoal é necessário, obviamente que haja no mínimo duas pessoas. Do contrário, poderíamos estar nos referindo a uma introspecção, a um olhar intra psíquico, uma ilusão, um delírio ou uma fantasia.E isso é muito comum.Podem acreditar. Há casos em que o outro foi internalizado, e portanto há um "diálogo" entre eles sem que isso seja sintomático. Ao longo da vida internalizamos muitas vozes, as quais se tornam parte, até mesmo ,da nossa "consciência".Neste caso específico, entende-se consciência como Superego", que é responsável pela censura e limites.Mas há os "dialogam" com um outro idealizado que vive dentro dele. Alguém de fato não existe e nunca existirá. Isso ocorre ,em geral, pela falta de relacionamentos reais. Por isso, é fundamental que as relação sejam capazes de alguma troca legítima e suficientemente sustentável , no sentido de promover o crescimento do próprio indivíduo, maturidade e saúde mental.E, é nesse viés que se costuram as relações interpessoais no trabalho e na vida pessoal, as quais são capazes de agregar valor ao clima organizacional e promover motivação e produtividade através do trabalho em equipe.
As relações interpessoais no trabalho e na vida pessoal são capazes de agregar valor ao clima organizacional e promover motivação e produtividade através do trabalho em equipe.Para que haja uma clareza e facilidade neste processo , é necessário que o indivíduo desenvolva outras importantes competência autoconhecimento,empatia, flexibilidade,motivação, humildade, persistência, resiliência ,disciplina, iniciativa, etc.
“Se você conhece o inimigo e conhece a si mesmo, não precisa temer o resultado de cem batalhas. Se você se conhece, mas não conhece o inimigo, para cada vitória ganha sofrerá também uma derrota. Se você não conhece nem o inimigo nem a si mesmo, perderá todas as batalhas”.Sun Tzu, no livro A Arte da Guerra.
Ou seja, o indivíduo precisa estar em contato consigo mesmo para que haja conscientização de si mesmo,bem como de sua dinâmica intrapsíquica; e, com isso se construir como sujeito ativo nas parcerias que vai estabelecendo ao longo da vida.E, assim, consiga lidar com o meio adequadamente.É por isso, que se pode mesmo dizer que a mudança precisa começar primeiro dentro de nós. 

Conhecer sua própria escuridão é o melhor métodos para lidar com a escuridão do outro"Carl Gustav Jung 
Nesse autoconhecimento o indivíduo passa a conhecer seus sentimentos e desenvolve a capacidade de aceitá-los,enfrentá-los ,se tornando assim , mais apto a conviver com eles ou superá-los. Na medida em que os pensamentos e sentimentos vão se tornando conscientes se torna mais fácil a compreensão de si mesmo e do mundo. Isso facilitará a empatia e a convivência como outro 
Mas qual é a importância dessa competência? Para que o sujeito se utilize dos meios necessário na direção de satisfação de suas necessidades e desejos, esse sujeito precisa saber quem ele é, do que ele necessita, o que ele deseja e qual a imagem que ele tem de si mesmo. Isso irá facilitar a relação com o outro, bem como a apreensão do mundo que ele ira explorar como fonte de realização. Mas isso não é um processo simples,pois envolve capacidade de discriminação e orientação,os quais se definirão o quanto este sujeito será realizado ou não.
Á partir do momento que ele sabe lidar com seus medos, angústias, desejos, ansiedades, necessidades, fantasias ,etc será mais fácil administrar estes sentimentos e gerenciá-los, e assim, consequentemente não será difícil identificá-los no outro. Se o indivíduo conhece e sabe gerenciar seus sentimentos, e sabe identificá-los no outro será menos penoso a a resolução de conflitos , e a comunicação , que exige tantas outras competência , se tornará uma ferramenta eficaz para atingir esse objetivo e alcançar as metas preestabelecidas do próprio indivíduo e ,consequentemente da equipe.

Por isso, a importância de tanto investimento das empresa em profissionais que possuem esta competência: Relação Interpessoal 
Até agora procurei relacionar estes fenômenos e mostrar sua abrangência na vida profissional e pessoal. Mas acredito que a relação interpessoal é, primeiramente uma competência muito mais ligada a vida pessoal do que propriamente ás outras áreas.
A família, as amizades,as relações afetivas, e até mesmo as relações de cunho mais superficiais são influenciadas pro esta habilidade
Por isso, escolhi um tema que considero fundamental para embasar minha explicação sobre a importância desta habilidade tão valorizada atualmente. O tema : amizade. Aqui vou me deter apenas neste foco de atenção, pois relacionamento interpessoal é um conceito que abarca inteligência emocional , e este é um conceito mais complexo ainda. 
"A amizade se deriva da palavra em latim "amicus"; amigo, que possivelmente se derivou de "amore".É uma relação afetiva, a princípio, sem características romântico-sexuais, entre duas pessoas" No sentido amplo da palavra a amizade se refere ao relacionamento entre pessoas , o qual exige um conhecimento mútuo e profundo , tendo como base de sustentação a lealdade, altruísmo, paciência, transparência, ética é verdade. A amizade pode estar presente entre filhos e pais, irmãos, amigos, amantes e cônjuges . Atualmente amizade tem sido um artigo de luxo,onde o "mercado' pode cobrar o que quiser pela escassez de oferta.
Nessa sociedade consumista e materialista o esvaziamento de valores tem feito com que a busca pelo "Ser" seja substituída pela corrida frenética pelo "Ter". Charllyson Syrio Rego diz que " Nos dias atuais o Parecer-Ser e o parecer-Ter já é parte integrante das relações estabelecidas entres as pessoas no trabalho , educação, família, religião e até mesmo nas relações mais intimas, enquanto forma de comunicação e relacionamento afetivo."
As amizades estão escassas. Não generalizando, mas a educação tem sido voltada para criar empreendedores selvagens. Diferentemente do que ensinou Max Gehringer. dizendo:"Não eduque seu filho para ser rico, eduque-o para ser feliz. Assim ele saberá o valor das coisas e não seu preço".As escolas estão formando técnicos que num breve período de tempo estarão sofrendo de estresse.Cada dia as pessoas estão mais solitárias e carentes. A formação familiar , até mesmo numa família funcional, tem criado sujeitos narcisos,arrogantes e voltados apenas para a busca do sucesso.
Uma das características que impedem uma relação de amizade ser construtiva é a incapacidade de perceber o belo ou o bom no outro."O narciso só acha belo o que é espelho".
A amizade traz benefícios para a saúde mental e auxilia na estruturação de uma relação, possibilitando a consolidação de sentimentos positivos . Infelizmente ,nem todas as pessoas são dotadas deste bom sentimento. Atualmente as relações tem sido mais contabilizadas do que propriamente vivenciadas. Uma das razões desta escassez é exatamente esta dificuldade perceptiva de se orientar na direção correta do objeto de desejo, ou seja, o que me faz feliz é aquilo que me ensinaram a valorizar: ser ou ter. 
Obviamente não se pode considerar esse fato uma regra geral, mas um indicador bastante fidedigno é a prática educacional.Apesar do preparo técnico, as escolas tem se voltado para criar empreendedores selvagens.Primeiramente, nas escolas públicas não se pode refletir sobre educação, haja visto a complexidade de problemas encontrados ali.
"Não há educação sem amor. O amor implica luta contra o egoísmo. Quem não é capaz de amar os seres inacabados não pode educar. Não há educação imposta, como não há amor imposto. Quem não ama não compreende o próximo, não o respeita.Não há educação do medo. Nada se pode temer da educação quando se ama." (Paulo Freire)
Diferentemente do Freire acredita, nas escolas privadas a política educacional é voltada para o lucro. Com isso, todas as ações educativas devem ser focadas na preparação de empreendedores, e não cidadãos felizes e realizados.Até porque antes teríamos que redefinir os conceito de felicidade e realização na visão da sociedade.Todos sabemos que a educação é o reflexo da política que é determinada pela economia. Há uma frase de Saramago que gosto muito.O poder real é econômico,por isso não falemos de democracia"
E assim, vemos a família num processo de transição onde o esquema de poder é confuso , os limites foram estendidos , o afeto foi substituído pelos ipods, ipads, iphones, brinquedos eletrônicos, viagens a Disneylandia, etc. E estes fatos conjugados pela ausência dos pais tem sido entendido pela mais valia do Ter em detrimento do que do Ser.Esvaziamento de valores é o produto final desta nova geração, refletindo nos relacionamentos gerando relações líquidas e efêmeras .Por isso os holofotes tem sido interpretado como manifestação de amor. Uma geração sob a influência da cultura da imagem produzindo a sociedade do espetáculo. Nestes tempo seria impossível resignificar o conceito de felicidade de forma que ela promova um bem estar e harmonia intra-psíquica.Nesse convívio social encontramos um número significativo de pessoas, cuja interação com as outras esta ligada diretamente ao benefício que elas podem trazer umas as outras.Outro dia ouvi um rapaz dizendo : O importante é você tem que ter o número de telefone das pessoas certas.Ou seja, a rede de relacionamento dele é construída á partir do quanto esta pessoa será útil para ele. Sabemos que isso é muito comum no meio empresarial,mas já se estendeu ao convívio social entre pessoas comuns que anseiam pelo sucesso gerado pela ganância . Em geral essas pessoas estão sempre voltadas para si mesmas, ainda que de uma forma velada, e ainda que mascarando , ainda que seu discurso seja de bondade, altruísmo, paz e amor elas estão em busca de algum benefício que o outro possa trazer- há uma busca constante de algum tipo de reconhecimento social , ganho secundários, ou recompensa .
O fato é que não é fácil encontrarmos pessoas capazes de se dispor de algum minuto de seu tempo para olhar para os lados e ver o outro de alguma forma. Isso não é uma generalização, mas um fato bem comum. Muitos estão com muita pressa de chegar não sei aonde. Isso é uma característica de nossa época. Estamos vivendo numa geração que forma narcisos.
Segundo Ana Lucia. Santana " O termo narcisismo tem sua origem na Mitologia Grega onde o jovem Narciso, se apaixona por sua própria imagem espelhada na água. “Este amor impossível levou Narciso à morte, afogado em seu reflexo. O narcisismo, portanto, retrata a tendência do indivíduo de alimentar uma paixão por si mesmo. Segundo Sigmund Freud, isso acontece com todos até um certo momento da vida, a partir da qual já deixa de ser saudável ...Este termo, como tantos outros emigrados do campo psíquico, tornou-se vulgarmente usado para indicar alguém vaidoso, egoísta ou egocêntrico. “[4]
Este fenômeno é formado por pessoas que não abandonaram seus espelhos , são incapazes de amadurecer e não aprenderam a suportar a perda "da ilusão de si mesmo" O narciso é assim, só ama o que é espelho porque não sabe identificar o que difere de si mesmo.Se não for ele não existe, ele não reconhece o outro.O narciso só curte o que reflete ele,só ouve sua voz, só entende se a mensagem saiu de sua criação, é desprovido de tudo que o diferencia, e não pode consagrar o outro como personagem principal. Tudo tem que girar em torno do seu espelho. A luz da ribalta tem brilhar só nele.
O esvaziamento de valores produziu pessoas com dificuldade de entender o conceito de lealdade e a ética . A luz deste conhecimento não tem conseguido atingir o ângulo de "reflexão" dessas pessoas. Se quebrarmos seu espelho eles perdem o olhar, o mundo sai da sua perspectiva, e eles ficam cegos, pois eles sempre olhando para eles mesmos e buscando apenas o que interessa ao seu próprio benefício. Eles não sabem amar o outro que não seja ele mesmo no espelho. Eles se amam sendo o outro sua extensão. Eles enganam as pessoas com discursos bonitos , mas o que querem é obter em você o que será utilidade para eles, e em nenhum momentos eles desejam o outro como indivíduo. Só reconhecem o que é semelhança deles mesmos. Qualquer diferença será interpretada como erro de interpretação, e mesmo assim, isso só será possível se eles perderem o ângulo de sua visão (quando o espelho sai de sua frente).
Infelizmente, por várias razões, temos vivenciado isso nessa época. Nesse trânsito de discursos falsificados as rodovias da verdade se tornaram lugares desabitados. O amor espera do lado de fora, o altruísmo esta em liquidação. As frases de efeito estão lotando os perfis das redes sociais . Há poesias demais e pouca vivência verdadeira. Como disse Ana Jacomo :“Tomara que a gente não desista de ser quem é por nada nem ninguém deste mundo. Que a gente reconheça o poder do outro sem esquecer do nosso.Que as mentiras alheias não confundam as nossas verdades."
Considerando estes fatos, penso que a amizade é verdadeiramente importante para a perpetuação de nossa existência.O sistema tem construído ao longo do tempo um pensamento limitador levando o indivíduo a aprender a viver somente em condições meritocratas - filosofia imposta pelo interesse do consumismo: Você tem o que merece. Você só consegue com muito esforço.
Antes a escravidão era imposta pelos senhores feudais, hoje ela foi internalizadas de tal forma que não temos nos dados conta de que ainda não conseguimos sair deste modelo escravocrata.Ou seja, temos que fazer o que for possível, a todo custo, se for possível queimando etapas,para alcançarmos aquilo que é considerado referência de sucesso e aprovação social .A existência agora nos tem sido negada, pois perdeu seu significado e sua oportunidade de ser desfrutada ,á partir do momento que para entendermos deveríamos esta experimentando ela em sua essência.
Isso pode parecer utopia, mas de acordo com RUDIO (2001) “Ser, enquanto construção pessoal é fruto da responsabilidade assumida com relação à própria existência, na busca de mantê-la e aperfeiçoá-la; é buscar realizar-se dentro das condições de seu existir no mundo.Não-Ser é a negação de si, infidelidade para consigo mesmo e a frustração das próprias realizações pessoal.A busca pelo Parecer-Ser e Parecer-Ter, é representar papéis na busca de estima, admiração, prestigio e poder, papéis estes que não tem nada a ver com o indivíduo em questão." 
Nessa jornada de superficialidade atravessando nosso mundo, teremos que desenvolver meios mais eficazes para nos defendermos de todo esse rombo, de toda essa carência e solidão onde o indivíduo tem vivenciado tempos trabalhosos.Uma tragédia existencial atravessando esse universo desencantado de máscaras e papéis mal interpretados. 
Um exemplo disso é mostrado nessa fala de Fernanda Gaona :” Na era da geração auto-suficiente ser sentimentalmente ativo é um privilégio. Na geração em que a aparência vale mais que mil palavras, colocar o coração pra funcionar é quase artigo raro. Ponto para aqueles que “sobreviveram as atitudes egoístas e que não se venderam a nenhum ato mesquinho. Sorte de quem enche a boca pra dizer o que sente e acende os olhos pra comprovar que é verdade"
Entrar em contato com os sentimentos tem sido atividade apenas de pessoas consideradas fracas. Haja visto os casos de depressão que temos presenciado como sintoma social . A pessoa não pode ser triste, tem que estar sempre feliz produtiva. A solidão e abandono tem sido disfarçada de auto-suficiência. Aparenta independência emocional ,e ao mesmo tempo promove distanciamento e se impõe ao indivíduo como necessidade de se defender das "relações líquidas", tornando- se refém de seu próprio disfarce. Por isso,ser sentimentalmente ativo é ter coragem de assumir o que se sente, e ser verdadeiramente ser aquilo que se é, assumindo o risco de enfrentar o egoísmo daqueles que abandonaram a essencial função da existência: Ser. A amizade precisa ser resgatada.Somente ela produz uma abertura para que o indivíduo saia de suas cavernas
O preço a ser pago por isso , muitas vezes, pode ser parecermos ridículos, ou até sermos rejeitados ,mas o resultado desta escolha pode nos levar a verdadeira satisfação pessoal e aquisição de amizades legítimas. Claro que, como disse Whitmont, " Em sociedade, é importante desenvolvermos nossas personas assim como um ego adequado para que possamos nos relacionar com o coletivo. Devemos ter em mente, a necessidade dessa exigência, não deixando de lado, porém, aquilo que realmente somos. "Temos de descobrir que usamos nossas vestimentas representacionais para proteção e aparência, mas que também podemos nos trocar e vestir algo mais confortável quando é apropriado, e que podemos ficar nus em outros momentos. Se as nossas vestes grudam em nós ou parecem substituir a nossa pele é bem provável que nos tornemos doentes"[1].
E, é nessa cena representada pela vida, que se torna imprescindível descobrir qual a roupa adequada para vestir, e por quanto tempo ela deve permanecer em nós. Saber diferenciar esse movimento é essencial a saúde, e é ai que a amizade se torna uma condição "Sine qua non", ou seja, "sem a qual não pode deixar de ser".
A amizade é indispensável na construção desse tecido delicado da existência.É o ingrediente da construção das relações afetivas.Seu significado é plural, mas sua função é singular.Mas onde encontrar esse fenômeno tão escasso na natureza.Por onde se inicia esse tipo de relação que poderá ser chamada de amizade? Porque existe tanta gente solitária?
Essas perguntas são bem complexas, e não me atrevo aqui a respondê-las,mas tenho uma opinião que vem sendo formada em mim nestes últimos anos da minha vida, em função de algumas observações e experiência profissional.
Nestes últimos anos a globalização se tornou uma porta aberta para o conhecimento do mundo. Regimes políticos caíram pela abertura do mercado e disseminação do conhecimento. A velocidade das mudanças são assustadora. O que você sabe hoje pode ser antiquado no ano que vem.Sabemos tudo sobre a vida alheia , dos políticos, dos personagens da novela ; outros países não são mais horizontes tão longe assim. Porém, fomos aos poucos nos afastando de nós mesmos , bem como de nossos familiares. Sabemos muito sobre os avanços da ciência mas estamos ainda muito longe de conhecermos a nós mesmos. Friedrich Nietzsche disse: "Nós, homens do conhecimento, não nos conhecemos; de nós mesmos somos desconhecidos - e não sem motivo. Nunca nos procuramos: como poderia acontecer que um dia nos encontrássemos? Com razão a (Bíblia ) disse: 'onde estiver teu tesouro, estará também teu coração'. Nosso tesouro está onde estão a colméia do nosso conhecimento."
Esse distanciamento de si mesmo possibilitou uma atitude voltada para se desculpar sobre meios que tem sido utilizados, á fim de atingir os fins egoístas e individualistas de valores gananciosos; e com isso,o conceito de respeito, lealdade, verdade, compromisso, ética foi alterado pela mudança de valores. O que importa agora é atingir os parâmetros de uma sociedade, que hoje só valoriza o indivíduo que segue seu modelo consumista. 
A massa mantém a marca, a marca mantém a mídia e a mídia controla a massa"George Orwell
Pessoas cada vez mais tem se tornado inseguras,e a depressão, o estresse, a Síndrome de ansiedade,a Síndrome de Pânico,bem como Transtorno Obsessivo Compulsivo se tornaram as doenças contemporâneas; e uma das causas é a dificuldade que encontra-se de atingir os padrões impostos de forma covarde pelo materialismo ,o qual encontrou, por sua vez, no vazio existencial, a oportunidade de crescimento e expansão de seus produtos. Como bem disse Kléber Novarte: "O sucesso - como está sendo pregado - é só mais um produto na prateleira do consumismo.E , é neste preâmbulo dessa pregação que os indivíduos andam se perdendo, e se vendendo a preço de inexistência.Isso mesmo! A existência tem sido anulada pela nova moda ideológica ou materialismo .Não sou contra o capitalismo, mas exercer uma tirania a respeito de qualquer ideologia é uma transgressão existencial. Abigail Vun Buren disse que o indicador de caráter de uma pessoa é como ela trata alguém que não pode lhe trazer benefício algum .Eu acrescentaria um outro indicador: A forma como uma pessoa lida com o poder e com o dinheiro.Material de construção desse cenário atual. É nessa linha de pensamento, que podemos inferir a razão do afastamento afetivo e emocional nos relacionamentos.Eu diria que o egoísmo , o individualismo, egocentrismo e ganância deram lugar a lealdade, companheirismo, altruísmo, paciência, transparência, ética é verdade.Ingredientes que poderiam se constituir uma amizade sólida se tornaram agora característica do arquétipo de "heróis" em quadrinhos, ou de filmes de mocinho e bandido .
Um reflexo dessa realidade são as redes sociais, onde a trama da amizade tem sido disfarçada e mediada pela tela de um PC ou celular. Ninguém agora sabe mesmo quem é quem. Dai chamar-se virtual. O problema é que , o que deveria ser mais uma ferramenta de aproximação, se tornou a forma de se aproximar. Ali neste universo se podemos encontrar 1.200 amigos num perfil só , mascarando a solidão de um indivíduo que não sabe ,muitas vezes, nem se relacionar.Ali se pode simular alguns sentimentos e disfarçar outros. 
Se formos pensar na construção de algum tipo de existência permanente poderia citar uma frase de Jonh Mawel que diz: "Nós transmitimos o que sabemos e reproduzimos o que somos" Ou seja, no que se refere a conhecimento podemos nos apropriar da realidade virtual, mas quando se deseja a permanência nada poderá substituir a experiência e formação da identidade. O que deixaremos é aquilo que somos e não o que possuímos.Por isso, a necessidade de se resgatar a essência do significado da amizade. 
"A amizade é o conforto indescritível de nos sentirmos seguros com uma pessoa, sem ser preciso pesar o que se pensa, nem medir o que se diz" George Eliott
Acho que perdemos justamente esse conforto na busca de corresponder às demandas de uma sociedade voltada para a cultura da imagem, e que cultiva o materialismo por ser justamente sustentada pelo consumismo.
Em seu livro sobre "Mídia, poder e contrapoder", Dênis de Moraes fala que "O sistema midiático contemporâneo(...) evidencia a capacidade de fixar sentidos e ideologias,interferindo na formação da opinião pública e em linhas predominantes do imaginário social(...) os discursos e falas massivas da mídia se projetam como intérpretes e vigas de sustentação do ideário privatista do neoliberalismo e variações associadas. Incutem e celebram a tirania do dinheiro, a competição e o lucro, propagando valores e modos de vida que transferem para o mercado a regulação das demandas coletivas, como se isso fosse possível. Ao mesmo tempo, procuram neutralizar o pensamento crítico e as expressões de dissenso, reduzindo espaços para idéias alternativas e contestadoras, ainda que estas continuem se manifestando, resistindo e reinventando-se..Operam, consensualmente, para reproduzir a ordem do consumo e conservar hegemonias constituídas. Os mega grupos midiáticos detêm a propriedade dos meios de produção, a infra estrutura tecnológica e as bases logísticas, como parte de um sistema que rege habilmente os processos de produção material e imaterial.. esse sistema exerce interferência crucial na circulação de informações, interpretações e crenças indispensáveis à consolidação de consensos sociais" 
Tudo isso me leva a concordar com o que Sigmund Freud, em "O Mal Estar da Civilização", o qual diz: "Se o desenvolvimento da civilização é tão semelhante ao do indivíduo, e se usa os mesmos meios, não teríamos o direito de diagnosticar que muitas civilizações, ou épocas culturais - talvez até a humanidade inteira - se tornaram neuróticas sob a influência do seu esforço de civilização?".Ou seja, continuamos reprimindo e recalcando conteúdos ainda que a liberdade moral já tenha sido conquistada.
Que possamos resgatar a espontaneidade e a capacidade de sermos amigos fieis e leais; e, que isso nos devolva a essência e a autenticidade que necessitamos tanto. Que as únicas repressões sejam aquelas leis capazes de nos organizar como sujeito no mundo e nos fazendo autor de nossas própria linguagem.
O que me da certeza de que o indivíduo necessita de suas relações como pontes para sua saúde mental eu encontro nesta frase de Manoel de Barros que enfatiza a maturidade pessoal e a importância do amor. “ A gente só descobre isso depois de grande (…). Que o tamanho das coisas há de ser medido pela intimidade que temos com elas. Há de ser como acontece com o amor."


Referências
[1] (Whitmont, p.140).( BOLETIM CLÍNICO - número 20- julho/2005 - PUC-S
[2]Dênis de Moraes, Pascual Serrano e Ignacio Ramonet ,In " Mídia, poder e contrapoder- da concentração monopólica à democratização da comunicação"
[3]NIETZSCHE, Friedrich, Genealogia da Moral. 



sábado, 9 de janeiro de 2016

Abrindo os Porões....

Por Rosangela Brunet
Porque a casa é o nosso canto do mundo. Bachelard, 2003, p. 24
O processo de autoconhecimento se parece com aquela ação de se determinar a abrir nossos porões. 
Na Wikpédia a palavra porão é utilizada para "designar a parte de uma casa compreendida entre o chão e o assoalho(piso ou pavimento), local onde costumava ser vazio e produzir um gemido ou um som oco nas casas antigas. "
Para mim o conceito de porão me remete ao que é desconhecido, escondido; local há tempo abandonado.Espaço perdido ,recalcado, afastado da lembrançça recente, armazenamento de coisas parentementes inúteis ou até depósito de coisas velhas. Ao procurar no dicionário a palavra porão encontrei um significado bastante sombólico.
Dessa explicação pode-se puxar uma outra metáfora. A"Casa". Uma construção, para habitação ou morada. Um local destinado a acolher ,proteger ,abrigar e dar seguranção , defendendo o morador do intempéres do tempo, da violência do mundo, da invasição de privacidade, etc. No texte HTP a casa sempre simbolizou o nosso Eu.

"Mesmo sem assumir maiores compromissos com a fenomenologia, comecemos recorrendo às instigantes metáforas bachelardianas sobre a casa e as nossas posições e atitudes diante do mundo. Para Bachelard, antes de sermos jogados no mundo, somos acolhidos no interior da casa, esse locus que é “o primeiro mundo do ser humano” e que, por isso mesmo, transforma-se numa “das maiores forças de integração para os pensamentos, as lembranças e os sonhos do homem” ( Bachelard, 2003, p. 26). O que é capaz de manter tal integração é o devaneio, atributo exclusivamente humano. Sem a casa, “o homem seria um ser disperso. Ela mantém o homem através das tempestades do céu e das tempestades da vida. É corpo e é alma. É o primeiro mundo do ser humano. Antes de ser ‘jogado no mundo’ […], o homem é colocado no berço da casa” (idem, ibidem). Sem o acolhimento da casa e sem as memórias "[2]

Falar  sobre uma casa esta implícito um significado físico-estrutural sobre sua construção: o material que foi utilizado para fazê-la, o tempo de duração desta construção, seu alicerce, seu telhado, sua dimensão o local onde ela se encontra; depois podemos pensar em sua função como abrigo,lar, local de moradia onde habitam famílias outros grupos ; e finalmente podemos pensar sobre seu lugar simbólico. Nosso sentido espacial, nossas forças de expressão enquanto habitação de uma alma, nossa dimensão no tempo e no espaço interno e externo . Local onde mora uma alma e um espírito que pode ou não esta em contato com o mundo externo. 
Há as casas fechadas, trancadas a sete chaves, há aquelas abertas d demais sem defesas, expostas ás influências de qualquer mudança climática, etc...Não aprendeu a criar desfesas, não construiu muros, não soube como colocar limites. Muitos desses casos perderam o rferencial entre o que e innterno ou externo. 
Baseado nessa considerações comecei a pensar sobre a necessidade que temos de conhecermos nossa morada, nossas forças internas, nossas bases e defesas que foi possível do ego construir ao londo da vida ,á fim de saber estar em contato com o mio para obter satisfação de suas necessidades e realizar seus desejos. 
Minha imaginação começou a flutuar sem compromisso com teorias ou português rebuscado. Casa sem teto, com ou sem paredes , rachadas ou novinhas, porões desabitados, envelhecidos,abandonados ou limpos periodicamente, com barulhos ,sons e gemidos desconhecidos, ou simplesmente sons que foram possíveis a alma reconhecer depois de entendê-los .....e viajei assim....
Ao adentrarmos em nossos porões nos deparamos com nossas teias internas , redes de ideias, conecções e associações que nos limitam , e emitem um significado que exige um correlato com a realidade. Nessa teia ficaram retidas as energias psíquicas que poderão liberadas na medida em que vamos desenraçando e desmontando estas redes de enganos e barindo as portas das prisões psíquicas que foram instituídas ao longo de nossas vidas . 
O próximo passo é descer passo a passo cada escada lentamente, sentindo o dor do mofo, do cheiro de poeira; enfrentar a escuridão que se apresenta e levar consigo uma lanterna para desmascarar os fantasmas,sombras e medos há anos deixados nos cantos deste porão.
É fato que lá fora há um mundo de Luz e é mister abrir estas portas para esta Luz externa vá além das lanternas. A solução que necessitamos para viver nossas vidas se encontrar retidas nessa insntâcia submersa. É preciso ir descendo em direção ao lugar mais escuro e desconhecido de sua casa , compreender que esta na hora de furar seu assoalho interno, o chão de sua alma.Hora da travessia que te ligará a um universo tão desejado, mas tão mal compreendido, pois na busca de nossos desejos estamos sempre em direção inversa......
Viver apenas num andar é viver bloqueado. Uma casa sem sótão é uma casa onde se sublima mal; uma casa sem porão é uma morada sem arquétipos. Bachelard, 2003, p. 76
Se nossos espaços vazios ou cheios de entulhos (nossos porões) há anos escondidos se abriu , e dali saem gemidos e sons ocos é porque o teu silêncio quer falar, e o grito que tanto tememos escutar busca uma voz mesmo que ainda se preparare nos porões para te assustar. 
O fato é: há um mundo subtaerrãneoa a tua espera.É, inevitável ignorá-lo, é preciso descer ... é nossa casa que, incompleta, grita por integração. É nossa morada que clama por realização, é nossa alma buscando um lar, é um ser no que não encontra conforto diante das tempestades e precisa se abrigar; é um pode ser um espaço íntimo que somente a nós possui o pertencer e o poder.
"Para Bachelard, antes de sermos jogados no mundo, somos acolhidos no interior da casa, esse locus que é “o primeiro mundo do ser humano” e que, por isso mesmo, transforma-se numa “das maiores forças de integração para os pensamentos, as lembranças e os sonhos do homem” (Bachelard, 2003, p. 26). O que é capaz de manter tal integração é o devaneio, atributo exclusivamente humano. Sem a casa, “o homem seria um ser disperso. Ela mantém o homem através das tempestades do céu e das tempestades da vida. É corpo e é alma. É o primeiro mundo do ser humano. Antes de ser ‘jogado no mundo’ […], o homem é colocado no berço da casa” (idem, ibidem)."[1]

Então, se chegou a hora da flexibilização,inclusão e celebração da diferença.O momento exige transformação e mudança de direção. 
Ao esmaecer da luz, os pensamentos engessados vãos descendo as escadas e enfrentando a dor do desconhecido. O tempo espanta e se apresenta como uma tempestade no mar. A alma se transforma numa simétrica ampliação de cores e novas forma.Estrelas cadentes, discussões sem sentido, um novo papel, agora, espera na cena da vida. A dimensão do tempo e do espaço se confundem nesta profundidade do Ser. 
As idas aos porões nos fazem repensar nossas escolhas e necessidades. O mundo social tem demandas que barram o sujeito. A vida complexa supõe uma nova narrativas que estranha o indivíduo que se transformou em social. A busca da totalidade urge nesta hora, é urgentemente ser feliz e espontâneo , a continuidade e o progresso atravessam o caminho da dúvida; e isso ameaça as convenções e os tiranos. A retórica dos intelectuais, a onipotência dos religiosos e da ciência nos desafiam a enfrentar nossas sombras. 
Mas, se acolhidos no interior da casa, ousamos enfrentar o que tememos.
"esse locus que é “o primeiro mundo do ser humano” e que, por isso mesmo, transforma-se numa “das maiores forças de integração para os pensamentos, as lembranças e os sonhos do homem” (Bachelard, 2003, p. 26)Os que ousam nesse caminho da integração e totalidade se transformam e se tornam mais fortes entrando em contato com sua essência, seu Eu Maior.


"Sem a casa, “o homem seria um ser disperso. Ela mantém o homem através das tempestades do céu e das tempestades da vida. É corpo e é alma. É o primeiro mundo do ser humano. Antes de ser ‘jogado no mundo’ […], o homem é colocado no berço da casa” [1]

Não há como fugir. A casa é seu lugar, seu conforto, seu Lar.Lugar de acolhimento sem memórias. Fonte de descanso. Raiz do Ser. História completa. sem bloqueios , alinhamento entre o que nos fere, o predão e as pazes com o passado. 
No lugar da alienação do mundo quando tudo é dor a paz ocupa seu lugar agora.. Você em Casa. O confinamento da alma ,agora, ganhou novos horizontes, o espaço que se tornara escasso, nesse evento, se amplia na consciência, ainda que o mundo insista em nos violentar estaremos seguros. Nessa experiências interestelar a vida se concretiza e nossa realidade interna abandona os andares desabitados pelo improvável e ocupa os jardins que gloriram. 
Se foi sótão , porão,um lugar de perdição consentida. Agora nasceu uma estrela em condição de plena saúde mental e espiritual. 
Na imaginação e na sublimação, é lá no porão que as raízes comunicaram , se transformaram e agora tem sua sustentação racional.
O grande desafio,então, é descer lá, enfrentar o chamamento emocional, transpor os esquemas de referências, ir além das crenças limitantes, romper as defesas que se escondem debaixo dos sintomas; e assim se conectar com o horror do vazio...o porão.....

Como insistiu Bachelard (2003, p. 36-37), o porão “é, a princípio, o ser obscuro da casa, o ser que participa das potências subterrâneas. Sonhando com ele, concordamos com a irracionalidade das profundezas”
Para finalizar, deixo para vocês uma reflexão sobre o resultado da minha experiência diante dos meus porões. Posso resumir da seguinte forma : " Mas hoje sainda suporto meu Caos , e me enfrento todos os dias para ver uma estrela em mim .E o caos,você sabe, sempre precede a Criação e a Luz.E hoje, se eu me escolhi é porque renasci em mim constelação, e tive o céu inteiro para crescer na eternidade.Esvaziando porões em pleno luar ela se encheu de estrelas. E,os laços de fitas que sobraram do verão amarrados nela pareciam borboletas que acordaram. Nessa delicada de sonhos ela entendeu o que era viver


[1]1É preciso ir aos porões* ALFREDO VEIGA-NETO Universidade Federal do Rio Grande do Sul
http://www.scielo.br/pdf/rbedu/v17n50/v17n50a02.pdf
[2]1É preciso ir aos porões *
ALFREDO VEIGA-NETO Universidade Federal do Rio Grande do Sul 

quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

Felicidade esta no Caminho. Viva-a no Aqui e Agora

Por Rosangela Brunet

A felicidade não é presente que se ganha por ser bonzinho. Ela precisa ser gerada dentro de nós. E dar á luz a felicidade exige exercício, dor, determinação e disciplina. Diferentemente do que o hedonismo prega, a felicidade que nos realiza e nos constitui como sujeitos mais plenos é aquela que parimos todos os dias , é aquela gerada ventre da nossa mente. a felicidade é  uma disposição, uma atitude, uma posição que tomamos todos os dias nos levando a fazer escolhas que irão alimentar seu caminho e fazê-lo florir perfumando nosso futuro. Você decide se vai ser feliz ou não. Apesar de parecer uma controvérsia, é isso mesmo!! Ser feliz é uma atitude que temos que desenvolver ao longo da vida. A felicidade já esta dentro de nós. Nascemos felizes. Ao longo da vida, com as lutas, obstáculos e sofrimentos, algumas pessoas vão se distraindo e desfocando seu olhar. Vão aprendendo a abandonar sua criança livre, divina e feliz. 
É nesse percurso que nosso cérebro vai se programando e estabelecendo conexões neurais e produzindo pensamentos positivos ou negativos. Nossa disposição de enxergar o mundo e perceber e realidade vai se estabelecendo nesse processo, e se estes pensamentos forem bons, positivos, otimistas veremos o mundo de forma bonita, teremos vontade de viver cada instante, seremos levados alegres e descobriremos uma forma pessoal e particular sermos felizes.Porque, felicidade, como você disse Sigmund Freud, "é uma questão pessoal"
Na vida, nada vem pronto...temos que plantar, regar , esperar o tempo da colheita . E, enquanto isso olhar os caminhos....observar o céu, o campo, o mar, respirar o ar, beber água, comer alimentos da terra, tomar banho de rio, andar descalços, usar as mãos para fazer alguma trabalho para algué. Amar quem esta ao nosso lado, ser grato por viver cada dia, ainda que a colheita não tenha chegado. 
A felicidade esta no caminho. A chegada é uma prazer temporário, e nem sempre acompanha a sastisfação e alegria que imaginávamos.Por isso, muitas pessoas são insatisfeitas.

A felicidade se vive no Aqui e Agora, onde podemos olhar e sentir,tocar, respirar, cheirar, desgustar, o que mais nos traz prazer .O prazer do passado é melancolia e o prazer do futuro é fantasia. E o único prazer que nosso desejo procura é o presente .aquele que perdura por momentos infinitos e se espande até a dimenão da eternidade....uma sensação que só quem ousa viver no aqui e agora sabe entender. 
Claro, que pra alguns, nem sempre isso é fácil, pois há pessoas que sofrem de transtorno de humor, e obviamente, e para elas esse processo é mais complexo e necessitam de acompanhamento profissional.
Para ser feliz não precisamos ter tudo, só precisamos aprender a viver  no Aqui e Agora  sendo gratos por  tudo que somos, tudo que temos e desfrutando das fontes infindáveis de amor, paz, alegria e eternidade que existe em cada um de nós. Ser feliz Aqui e Agora  porque somos este Instantes

Gostaria de indicar um filme que poderia ajudar bastante a refletir sobre este tema. O filme chama-se
"Um Poder Aém da Vida" (peaceful Warrior)

Trouxe para vocês alguns diálogos do filme que ajudarão a exemplificar e a aguçar a vontade de assisti-lo.Além dos dia´logos segue abaixo o filme dublado completo
Um Poder Além da Vida (Peceaful Warrior)

Dan questiona o mestre : Mas se eu não conseguir fazer isso,mestre!
O Mestre responde : Isso é futuro.Jogue-o fora!!
Dan continua o diálogo : Quando, então, começaremos?
O Mestre responde : Não existe inicio e nem chegada,Dan . Só existe o caminho
Um guerreiro não desiste daquilo que ama.Ele acha amor no que faz.Um guerreiro não procura a perfeição, ou a votória ou a invulnerabilidade.O guerreiro é totalmente vulnerável. Essa é sua maior coragem: ser vulnerável..
Quando você tiver medo use uma espada.Segure-a bem alto e corte todos os laços,elimine todo arrependimento e medo.Todo o esot é viver no passado ou no futuro
Trecho do Filme
Um Poder Além da Vida (Peceaful Warrior)


No moment final , quando Dan esta disputando as classificatórias ele ouve a voz de sua Consciência .O diálogo era assim:
Cena e diálogo do final do Filme
Mestre pergunta :Onde você esta,Dan?
Dan responde: AQUI
Mestre pergunta : Que horas são, Dan?
Dan responde : AGORA
Mestre pergunta: Quem é você ,Dan?
Dan: Sou este INSTANTE

Filme Completo dublado

quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

O DESENVOLVIMENTO DA RESILIÊNCIA DURANTE A INFÂNCIA


Publicado em maio 12, 2015 por Aliança pela Infância
Entrevista por Fernanda Ortega sobre o tema da Semana Mundial do Brincar “Para ter criatividade, resiliência e coragem é preciso brincar!”
Ricardo Ghelman – pesquisador, pediatra e médico da família, especialista em oncologia pediátrica e em medicina antroposófica – aborda, em entrevista para a Aliança pela Infância, o desenvolvimento da resiliência durante a infância e critica o modelo pedagógico predominante na educação básica atual
Médico e pesquisador Ricardo Ghelman (reprodução de namu.com.br)

Como você define resiliência?

Defino resiliência como uma capacidade de enfrentar criativamente a vida, especialmente situações de estresse. A questão é como a pessoa lida, no dia a dia, com os seus desafios. Uma pessoa bem compreensiva, que veja sentido no que está acontecendo, é alguém com maior resiliência, uma pessoa mimada pode se tornar pouco resiliente, por exemplo.

Qual é a importância de desenvolver a resiliência durante a infância?

Só se desenvolve a resiliência durante a infância, que, para mim, é o período de 0 até 21 anos de idade. Resiliência é uma construção até a vida adulta.

E como você caracteriza a infância?

Caracterizo a infância como três infâncias, cada uma é responsável por desenvolver uma das três áreas da psique humana. A primeira infância, de 0 a 7 anos, desenvolve a área motora, comportamental, de fantasia. A segunda infância, que vai dos 7 anos até a puberdade, é mais afetiva. É o período que se desenvolve a inteligência emocional, que é um dos aspectos fundamentais da resiliência. Durante a terceira infância, que corresponde à entrada no Ensino Médio até a faculdade, desenvolve-se absurdamente o lado cognitivo: a capacidade de compreensão.

Como é possível contribuir para o desenvolvimento da resiliência na criança?

Um dos aspectos da resiliência é a personalidade inata da criança. Tem criança que nasce com uma tendência a ser mais resiliente que outra. Isso não dá para educar, é uma pré-condição, não podemos fazer nada a respeito. A genética influencia a personalidade, mas a natureza da criança – que é o aspecto existencial do ser humano – transcende a genética. Essa natureza é a individualidade da criança. Defino esse aspecto existencial, espiritual ou da individualidade do ser humano, como aquilo que diferencia dois irmãos gêmeos univitelinos com a mesma genética. Sou um exemplo clássico, porque tenho um irmão gêmeo univitelino. É a mesma genética, mesmo pai, mesma mãe, mesma educação, mas são duas pessoas diferentes. Isso rompe completamente com a ideia de que o ser humano seria resultado apenas da genética e do meio ambiente. Há também uma outra personalidade, que é desenvolvida por influência ambiental. Essa é a personalidade educável, que tem a ver com cultura.

“Um adulto travado emocionalmente, pode ter certeza, teve dificuldades na segunda infância”

E o que é possível desenvolver durante a infância para que a pessoa se torne mais resiliente, independentemente de sua personalidade inata?

A resiliência envolve três inteligências: a inteligência comportamental – relacionada à força de vontade e à ação no mundo -, a inteligência emocional e a inteligência cognitiva – que tem a ver com QI, Quociente de Inteligência. É preciso passar por toda infância para desenvolver todas essas inteligências. A primeira inteligência, que tem a ver com a primeira infância – de 0 a 7 anos – dá capacidade de manuseio da vida: saber enfrentar situações e buscar ajuda. A inteligência emocional, ligada à segunda infância, dá significado e sentido às coisas. A terceira inteligência dá capacidade de compreender o mundo. São essas três inteligências que tornam as pessoas inteiramente resilientes.

As três infâncias desenvolvem as três inteligências, mas o lado cognitivo da criança pequena é muito pequeno se comparado o lado cognitivo de um rapaz de 15 anos de idade. O aspecto afetivo é muito forte aos 8, 9, 10 anos de idade, muito mais forte do que quando a criança tem 5 anos e depois quando ela tem 16. Então, um adulto travado emocionalmente, pode ter certeza, teve dificuldades na segunda infância.

Um adulto resiliente é uma pessoa bem formada nos três âmbitos de inteligência, nas três infâncias. Com isso, é possível enfrentar as situações da vida e não ficar mal. Ficar mal significa entrar em conflito por não saber lidar com recursos criativos, nem compreender as coisas, nem ter força de vontade. Essa pessoa fica estressada e adoece. Isso interfere na felicidade e na saúde.

“O grande canal dos professores é a arte, que é um caminho para os sentimentos”.

Que tipo de dificuldade durante a segunda infância tornaria uma pessoa travada?
A experiência de pais muito racionais que educam sem poder falar de sentimentos. O modelo mais tradicional de pais no mundo moderno ocidental é de pais muito inteligentes e sedentários, que, na primeira infância, não brincam com a criança e a deixam na realidade virtual, na televisão e no videogame. Na segunda infância, que é um período afetivo, eles têm dificuldade de falar de sentimentos e repreendem as crianças. Na terceira infância, eles querem explicar o mundo para as crianças, mas elas não são amigas deles. Então, um adulto travado pode ter tido pais que não sabem lidar com sentimentos.

Os professores podem ajudar a combater esse travamento?

O grande canal dos professores é a arte, que é um caminho para os sentimentos. A criança se expressa em pintura e em desenho, por exemplo. Uma criança com câncer não consegue falar sobre a morte, mas ela consegue fazer desenhos sobre a morte.

Isso acontece em todas as três infâncias que você citou mais cedo?

Em todas as infâncias, mas especialmente dos 5 anos e até a puberdade, que é a época que começa a desabrochar sentimentos de amor e ódio em relação ao mundo. O lado artístico aqui é fundamental. Na primeira infância, a arte é uma brincadeira, a criança pinta brincando. Aos 7 anos, a criança tem a parte motora desenvolvida de tal forma que pode aprender um instrumento musical. Nesse momento, a criança tem habilidade para expressar o que está pensando. Até sete anos, a criança não consegue fazer nenhum esporte ou arte direito, ela precisa ter experiências bem livres.

“Os nomes das coisas podem aparecer, mas o objetivo não é que a criança se torne uma nomeadora de coisas”.

O que é mais importante, na primeira infância (de 0 a 7 anos), para a criança desenvolver a resiliência, tendo em vista que durante essa etapa da vida ela desenvolve especialmente a motricidade a partir do brincar?
De 0 até 7 anos, a criança desenvolve principalmente os membros e a barriga. Ela come e dorme muito. As funções vegetativas são muito importantes. Quando a criança está acordada, a consciência dela não é racional. A pior coisa que os pais podem fazer nessa época é conceituar o mundo para a criança perguntando: “Filho, isso é um triângulo?”, “Filho, isso é cor vermelha?”, “Filho, o que é isso? É uma girafa?” Essa é a época da criança fantasiar. Os nomes das coisas podem aparecer, mas o objetivo não é que a criança se torne uma nomeadora de coisas. Isso quebra com a criatividade dela.

“É fundamental desenvolver a percepção na primeira infância.”

Qual o problema de nomear as coisas para as crianças nesse período da vida?
Imagina se toda vez que uma criança vê um ser humano ela diz: “isso é um ser humano”. Se isso acontece, ela nunca vai poder perceber a singularidade de um ser humano. A mesma coisa acontece com as borboletas. A criança precisa ver que uma borboleta não é igual a outra, porque tem um azul especial, por exemplo. Se a criança adere ao conceito “borboleta”, ela nunca vai distinguir uma borboleta da outra. O mundo dela vai virar pastel, ela vai chamar as coisas de leão, borboleta e casinha.

É fundamental desenvolver a percepção na primeira infância. Os sentidos são uma experiência que não tem a ver com conceitos. Pais muito classificatórios têm filhos muito classificatórios.

“Você quer entrar no mundo do seu filho ou quer que ele entre no seu mundo?

Como não ser classificatório com a criança?
Você precisa entrar no mundo da criança. Por exemplo, uma criança de quatro anos pode, com a imaginação, entrar dentro de uma casinha de brinquedo e inventar uma história. Uma criança de 8 anos vai abrir a casinha no meio para ver do que é feita. Um adulto, para não ser classificatório, teria que entrar no mundo da fantasia, entrar na casinha também e inventar uma história. Quando um adulto está com uma criança pequena, ele tem que deixar de ser adulto e entrar no mundo da criança para poder dialogar.

A grande questão a se fazer para os pais é: “você quer entrar no mundo do seu filho ou quer que ele entre no seu mundo?”. Se a opção for a segunda, a criança vai virar um adultinho. Se você veste a camisa do seu filho, senta no chão, brinca junto e entra numa fantasia de horas e horas, ele fica muito mais feliz. O adultinho tem medo porque sabe tudo o que acontece acompanhando o noticiário do Jornal Nacional. Ele sabe dos perigos e fica antenadíssimo. Quando o pai entra no mundo da criança, ele rejuvenesce e fica mais feliz. Então, não classificar é sair do nosso mundo adulto, racional, pouco motor e pouco artista. Entender o desenvolvimento infantil é desacelerar um pouco e entrar no mundo da criança. É um desafio.

Existiria um passo a passo para os pais seguirem com seus filhos para que eles se tornem adultos resilientes?

Um adulto bem desenvolvido tem bastante capacidade criativa. Um adulto que teve, durante a infância, um impedimento de desenvolver seu lado criativo – que estudou, por exemplo, numa escola muito cognitivista e teve pais muito intelectuais -, não consegue brincar com a criança.

Não existe passo a passo, nem fórmulas, existe a compreensão do que deve ser desenvolvido durante a infância e do que o adulto deve ter para lidar com a infância. Se o adulto, por exemplo, tiver enorme dificuldade com matemática, ele vai lidar muito mal com o filho quando ele entrar no Ensino Médio: esse é o momento em que o filho entra no mundo da lógica, mas o pai não é lógico, não sabe ganhar dinheiro, só sabe criar. Então, esse pai brinca muito com o filho na primeira infância, mas, quando o filho virar mais racional, esse pai vai falar “filho, eu não te entendo”. Então, precisamos fugir das fórmulas.

Uma escola Waldorf privilegia muito o brincar e a arte, mas pode ter dificuldade de lidar com a racionalidade. Claro que isso depende da escola Waldorf. A maioria das escolas no Brasil são cognitivistas, bem conceituais. Nelas, a arte é apenas uma pincelada no currículo. Se os pais colocarem seus filhos nestas escolas, eles precisam se preocupar em desenvolver mais o lado artístico fora de sala de aula.

“A gente educa o que a gente é”.

Que trabalho é possível fazer com os pais para conscientiza-los sobre estas questões?

É importante perguntarmos para os pais: “você brinca?”, “Como está o convívio com os seus amigos?”, “Você só está focado em trabalho?”. Se os pais não tiverem amigos, eles não conseguem ensinar muito o filho a brincar, porque eles não brincam com ninguém.

Há esse lado motor, lúdico, de encontro pessoal, de saber conviver socialmente. Isso tudo é muito importante para os pais saberem conviver com o filho. Pais bem formados educam bem os seus filhos. A gente educa o que a gente é.

Para você, como seria uma educação escolar ideal para que a criança desenvolva a resiliência?

O ideal seria uma salada mista ou um suco misto dos modelos pedagógicos existentes para pegar o melhor de cada um. Não posso defender um método pedagógico, só posso dizer que o modelo cognitivista – que é o modelo das escolas tradicionais, baseadas em conceitos – leva à evasão escolar e a uma falta de vontade de aprender. Por que aprender o nome em latim de todos os dinossauros no século XXI? Isso significa sair da realidade e ir para um mundo pré-histórico em que nenhum homem viveu. Hoje, as pessoas querem saber um monte de coisas que não tem a ver com a realidade. Isso gera um grande distanciamento social.

É importante permitir que as crianças tenham experiências: ter contato com a natureza, observar o mundo e aprender por dedução. Há várias escolas que favorecem isso, como as escolas construtivistas, as escolas Waldorf, a escola da Ponte, entre outras. Esses são movimentos de contracultura ao cognitivismo.

“Só pensamos em mudar algo se estamos insatisfeitos”.

Como você acha que seria possível conscientizar o poder público, que em geral deixa a educação de base tão de lado, da importância de um modelo menos cognitivista, menos tradicional, e que trabalhe mais o brincar e a arte?

Um dos pontos fundamentais para influenciar o poder público é embasar essas questões tecnicamente a partir da neurociência. A neurociência mostra que o aprendizado não é só conceitual, o aprendizado envolve o corpo inteiro. A força de vontade – inclusive de aprender – está muito relacionada a neurotransmissores que estão no intestino e são estimulados muito na primeira infância (de 0 a 7 anos) por ritmos, movimentos e brincadeiras. Esse embasamento comprova que uma educação menos cognitivista não é uma ideia de hippies ou de um grupo louco. De outro lado, é importante fazer uma análise crítica do modelo atual. Só pensamos em mudar algo se estamos insatisfeitos.

“A proposta pedagógica não é que se tenha bom caráter, a proposta é formar uma pessoa inteligente para passar no vestibular”.

Qual a crítica que você faz ao modelo de educação atual?

O modelo atual é cognitivista. Quando um pai educa um filho, o que ele quer? Quer que se torne uma pessoa boa? Que tenha senso estético? Ou que seja inteligente? Ele quer que seu filho seja inteligente, esse é o valor da sociedade hoje. A proposta pedagógica não é que se tenha bom caráter, a proposta é formar uma pessoa inteligente para passar no vestibular.

Outro aspecto presente na escola tradicional é o de avaliar e comparar pessoas com notas. Existe a meta de se tornar um ótimo aluno. O modelo hoje forma pessoas inteligentes e competitivas. O que seria um jovem bem-sucedido aos 26 anos? Seria um empresário, ambicioso, que consegue fazer parte da sua formação nos Estados Unidos, mas que não necessariamente vai ter um bom relacionamento humano com as pessoas. Imagine se todo mundo quer se tornar o primeiro aluno da turma desde os sete anos de idade: é a guerra de todos contra todos. Então, temos que analisar qual é a consequência do ensino de hoje e pensar em modelos mais cooperativos e mais integradores. A escola precisa formar pessoas mais humanas.

Além disso, hoje em dia, muitas escolas pensam que o que é moderno é simplesmente colocar computadores para o alunos. Não sou contra o computador, ele pode ser uma ótima ferramenta de aprendizado, mas ele vem de um modelo que privilegia o lado cognitivo. Então, na mesma hora que se coloca o computador na escola, deveria ter aumento na carga horária de artes. O computador gera sedentarismo nas crianças. Tem estudos que mostram que crianças mais alérgicas têm tendência a piorar com falta atividades motoras e físicas. Então, esse modelo sedentarista muda, por exemplo, a constituição imunológica da criança e deixa a criança mais alérgica. As crianças alérgicas precisam suar.

Imagine que toda grade curricular escolar da infância fosse um cardápio de alimentação para tornar um adulto informado. O lado conceitual seria a carne e o lado artístico e motor seriam carboidratos, sementes, fibras e brotos. Hoje em dia, a alimentação básica escolar, fazendo um paralelo, privilegiaria a carne. A carne seria o prato principal e constituiria 70% da alimentação, sendo 30% perfumaria com poucas aulas de educação física e artes. Nessa grade curricular, os conceitos são privilegiados para que a criança chegue no Ensino Médio, passe no vestibular e, em seguida, esqueça tudo. Numa dieta ideal, quanto seria o ideal de carne? Seria 30% de carne, 70% deveria ser carboidrato e outros elementos com oleogenosas, que são gorduras com qualidade. Isso é a alimentação ideal. Existe uma inversão na alimentação e o mesmo acontece na educação escolar.

“Cada uma fica em sua casa assistindo televisão”.

Nesse contexto, qual é a importância de resgatar a importância do brincar?

Valorizo a política do brincar da Aliança pela Infância, por exemplo, porque o brincar é um antídoto contra o excesso de cognitivismo. Uma criança educada por pais muito intelectuais não sabe brincar. Eu vejo isso no consultório todos os dias. São crianças que não conseguem se desligar da conversa do pai com o médico e não conseguem entrar na brincadeira. Isso acontece porque a criança está em um ambiente alerta e intelectual. Estamos vivendo uma crise de infelicidade na infância. Uma criança que não consegue entrar nesse mundo da fantasia não é feliz. Ela é assustada e tem medo. É isso que a gente está formando hoje em dia.

Isso é supertriste. O que é modelo de uma criança feliz? É uma criança correndo, na natureza, rindo, com outras crianças junto, empinando uma pipa. Mas as crianças não têm um espaço público lúdico para brincar. Cada uma fica em sua casa assistindo televisão.


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[1] http://www.antroposofy.com.br/forum/o-desenvolvimento-da-resiliencia-durante-a-infancia/

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