sábado, 9 de janeiro de 2016

Abrindo os Porões....

Por Rosangela Brunet
Porque a casa é o nosso canto do mundo. Bachelard, 2003, p. 24
O processo de autoconhecimento se parece com aquela ação de se determinar a abrir nossos porões. 
Na Wikpédia a palavra porão é utilizada para "designar a parte de uma casa compreendida entre o chão e o assoalho(piso ou pavimento), local onde costumava ser vazio e produzir um gemido ou um som oco nas casas antigas. "
Para mim o conceito de porão me remete ao que é desconhecido, escondido; local há tempo abandonado.Espaço perdido ,recalcado, afastado da lembrançça recente, armazenamento de coisas parentementes inúteis ou até depósito de coisas velhas. Ao procurar no dicionário a palavra porão encontrei um significado bastante sombólico.
Dessa explicação pode-se puxar uma outra metáfora. A"Casa". Uma construção, para habitação ou morada. Um local destinado a acolher ,proteger ,abrigar e dar seguranção , defendendo o morador do intempéres do tempo, da violência do mundo, da invasição de privacidade, etc. No texte HTP a casa sempre simbolizou o nosso Eu.

"Mesmo sem assumir maiores compromissos com a fenomenologia, comecemos recorrendo às instigantes metáforas bachelardianas sobre a casa e as nossas posições e atitudes diante do mundo. Para Bachelard, antes de sermos jogados no mundo, somos acolhidos no interior da casa, esse locus que é “o primeiro mundo do ser humano” e que, por isso mesmo, transforma-se numa “das maiores forças de integração para os pensamentos, as lembranças e os sonhos do homem” ( Bachelard, 2003, p. 26). O que é capaz de manter tal integração é o devaneio, atributo exclusivamente humano. Sem a casa, “o homem seria um ser disperso. Ela mantém o homem através das tempestades do céu e das tempestades da vida. É corpo e é alma. É o primeiro mundo do ser humano. Antes de ser ‘jogado no mundo’ […], o homem é colocado no berço da casa” (idem, ibidem). Sem o acolhimento da casa e sem as memórias "[2]

Falar  sobre uma casa esta implícito um significado físico-estrutural sobre sua construção: o material que foi utilizado para fazê-la, o tempo de duração desta construção, seu alicerce, seu telhado, sua dimensão o local onde ela se encontra; depois podemos pensar em sua função como abrigo,lar, local de moradia onde habitam famílias outros grupos ; e finalmente podemos pensar sobre seu lugar simbólico. Nosso sentido espacial, nossas forças de expressão enquanto habitação de uma alma, nossa dimensão no tempo e no espaço interno e externo . Local onde mora uma alma e um espírito que pode ou não esta em contato com o mundo externo. 
Há as casas fechadas, trancadas a sete chaves, há aquelas abertas d demais sem defesas, expostas ás influências de qualquer mudança climática, etc...Não aprendeu a criar desfesas, não construiu muros, não soube como colocar limites. Muitos desses casos perderam o rferencial entre o que e innterno ou externo. 
Baseado nessa considerações comecei a pensar sobre a necessidade que temos de conhecermos nossa morada, nossas forças internas, nossas bases e defesas que foi possível do ego construir ao londo da vida ,á fim de saber estar em contato com o mio para obter satisfação de suas necessidades e realizar seus desejos. 
Minha imaginação começou a flutuar sem compromisso com teorias ou português rebuscado. Casa sem teto, com ou sem paredes , rachadas ou novinhas, porões desabitados, envelhecidos,abandonados ou limpos periodicamente, com barulhos ,sons e gemidos desconhecidos, ou simplesmente sons que foram possíveis a alma reconhecer depois de entendê-los .....e viajei assim....
Ao adentrarmos em nossos porões nos deparamos com nossas teias internas , redes de ideias, conecções e associações que nos limitam , e emitem um significado que exige um correlato com a realidade. Nessa teia ficaram retidas as energias psíquicas que poderão liberadas na medida em que vamos desenraçando e desmontando estas redes de enganos e barindo as portas das prisões psíquicas que foram instituídas ao longo de nossas vidas . 
O próximo passo é descer passo a passo cada escada lentamente, sentindo o dor do mofo, do cheiro de poeira; enfrentar a escuridão que se apresenta e levar consigo uma lanterna para desmascarar os fantasmas,sombras e medos há anos deixados nos cantos deste porão.
É fato que lá fora há um mundo de Luz e é mister abrir estas portas para esta Luz externa vá além das lanternas. A solução que necessitamos para viver nossas vidas se encontrar retidas nessa insntâcia submersa. É preciso ir descendo em direção ao lugar mais escuro e desconhecido de sua casa , compreender que esta na hora de furar seu assoalho interno, o chão de sua alma.Hora da travessia que te ligará a um universo tão desejado, mas tão mal compreendido, pois na busca de nossos desejos estamos sempre em direção inversa......
Viver apenas num andar é viver bloqueado. Uma casa sem sótão é uma casa onde se sublima mal; uma casa sem porão é uma morada sem arquétipos. Bachelard, 2003, p. 76
Se nossos espaços vazios ou cheios de entulhos (nossos porões) há anos escondidos se abriu , e dali saem gemidos e sons ocos é porque o teu silêncio quer falar, e o grito que tanto tememos escutar busca uma voz mesmo que ainda se preparare nos porões para te assustar. 
O fato é: há um mundo subtaerrãneoa a tua espera.É, inevitável ignorá-lo, é preciso descer ... é nossa casa que, incompleta, grita por integração. É nossa morada que clama por realização, é nossa alma buscando um lar, é um ser no que não encontra conforto diante das tempestades e precisa se abrigar; é um pode ser um espaço íntimo que somente a nós possui o pertencer e o poder.
"Para Bachelard, antes de sermos jogados no mundo, somos acolhidos no interior da casa, esse locus que é “o primeiro mundo do ser humano” e que, por isso mesmo, transforma-se numa “das maiores forças de integração para os pensamentos, as lembranças e os sonhos do homem” (Bachelard, 2003, p. 26). O que é capaz de manter tal integração é o devaneio, atributo exclusivamente humano. Sem a casa, “o homem seria um ser disperso. Ela mantém o homem através das tempestades do céu e das tempestades da vida. É corpo e é alma. É o primeiro mundo do ser humano. Antes de ser ‘jogado no mundo’ […], o homem é colocado no berço da casa” (idem, ibidem)."[1]

Então, se chegou a hora da flexibilização,inclusão e celebração da diferença.O momento exige transformação e mudança de direção. 
Ao esmaecer da luz, os pensamentos engessados vãos descendo as escadas e enfrentando a dor do desconhecido. O tempo espanta e se apresenta como uma tempestade no mar. A alma se transforma numa simétrica ampliação de cores e novas forma.Estrelas cadentes, discussões sem sentido, um novo papel, agora, espera na cena da vida. A dimensão do tempo e do espaço se confundem nesta profundidade do Ser. 
As idas aos porões nos fazem repensar nossas escolhas e necessidades. O mundo social tem demandas que barram o sujeito. A vida complexa supõe uma nova narrativas que estranha o indivíduo que se transformou em social. A busca da totalidade urge nesta hora, é urgentemente ser feliz e espontâneo , a continuidade e o progresso atravessam o caminho da dúvida; e isso ameaça as convenções e os tiranos. A retórica dos intelectuais, a onipotência dos religiosos e da ciência nos desafiam a enfrentar nossas sombras. 
Mas, se acolhidos no interior da casa, ousamos enfrentar o que tememos.
"esse locus que é “o primeiro mundo do ser humano” e que, por isso mesmo, transforma-se numa “das maiores forças de integração para os pensamentos, as lembranças e os sonhos do homem” (Bachelard, 2003, p. 26)Os que ousam nesse caminho da integração e totalidade se transformam e se tornam mais fortes entrando em contato com sua essência, seu Eu Maior.


"Sem a casa, “o homem seria um ser disperso. Ela mantém o homem através das tempestades do céu e das tempestades da vida. É corpo e é alma. É o primeiro mundo do ser humano. Antes de ser ‘jogado no mundo’ […], o homem é colocado no berço da casa” [1]

Não há como fugir. A casa é seu lugar, seu conforto, seu Lar.Lugar de acolhimento sem memórias. Fonte de descanso. Raiz do Ser. História completa. sem bloqueios , alinhamento entre o que nos fere, o predão e as pazes com o passado. 
No lugar da alienação do mundo quando tudo é dor a paz ocupa seu lugar agora.. Você em Casa. O confinamento da alma ,agora, ganhou novos horizontes, o espaço que se tornara escasso, nesse evento, se amplia na consciência, ainda que o mundo insista em nos violentar estaremos seguros. Nessa experiências interestelar a vida se concretiza e nossa realidade interna abandona os andares desabitados pelo improvável e ocupa os jardins que gloriram. 
Se foi sótão , porão,um lugar de perdição consentida. Agora nasceu uma estrela em condição de plena saúde mental e espiritual. 
Na imaginação e na sublimação, é lá no porão que as raízes comunicaram , se transformaram e agora tem sua sustentação racional.
O grande desafio,então, é descer lá, enfrentar o chamamento emocional, transpor os esquemas de referências, ir além das crenças limitantes, romper as defesas que se escondem debaixo dos sintomas; e assim se conectar com o horror do vazio...o porão.....

Como insistiu Bachelard (2003, p. 36-37), o porão “é, a princípio, o ser obscuro da casa, o ser que participa das potências subterrâneas. Sonhando com ele, concordamos com a irracionalidade das profundezas”
Para finalizar, deixo para vocês uma reflexão sobre o resultado da minha experiência diante dos meus porões. Posso resumir da seguinte forma : " Mas hoje sainda suporto meu Caos , e me enfrento todos os dias para ver uma estrela em mim .E o caos,você sabe, sempre precede a Criação e a Luz.E hoje, se eu me escolhi é porque renasci em mim constelação, e tive o céu inteiro para crescer na eternidade.Esvaziando porões em pleno luar ela se encheu de estrelas. E,os laços de fitas que sobraram do verão amarrados nela pareciam borboletas que acordaram. Nessa delicada de sonhos ela entendeu o que era viver


[1]1É preciso ir aos porões* ALFREDO VEIGA-NETO Universidade Federal do Rio Grande do Sul
http://www.scielo.br/pdf/rbedu/v17n50/v17n50a02.pdf
[2]1É preciso ir aos porões *
ALFREDO VEIGA-NETO Universidade Federal do Rio Grande do Sul 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Eu

Por Rosangela Brunet "O meu mundo não é como o dos outros: quero demais, exijo demais; há em mim uma sede de infinito, uma angústia...