quinta-feira, 11 de setembro de 2014

A "Prisão Dourada" de Dostoievski parece com a nossa Servidão Moderna



Por Rosangela Brunet

Assim estamos nós e vivemos clamando por uma liberdade que desconhecemos.....
Dostoievski disse: " Tenta fazer esta experiência, construindo um palácio. Equipa-o com mármore, quadros, ouro, pássaros do paraíso, jardins suspensos, todo o tipo de coisas... e entra lá para dentro. Bem, pode ser que nunca mais desejasses sair daí. Talvez, de facto, nunca mais saísses de lá. Está lá tudo! "Estou muito bem aqui sozinho!". Mas, de repente - uma ninharia! O teu castelo é rodeado por muros, e é-te dito: 'Tudo isto é teu! Desfruta-o! Apenas não podes sair daqui!". Então, acredita-me, nesse mesmo instante quererás deixar esse teu paraíso e pular por cima do muro. Mais! Tudo esse luxo, toda essa plenitude, aumentará o teu sofrimento. Sentir-te-ás insultado como resultado de todo esse luxo... Sim, apenas uma coisa te falta... um pouco de liberdade. " [1]
Fotografia de Georgie Pauwels
"A onipresença da ideologia, o culto ao dinheiro, monopólio da aparência, partido único disfarçado de pluralismo parlamentar, ausência de uma oposição visível, repressão sob todas as formas, vontade de transformar o homem e o mundo. Eis o verdadeiro rosto do totalitarismo moderno que chamamos “democracia liberal”, porém é necessário chamá-la pelo seu verdadeiro nome: o sistema mercantil totalitário. A servidão moderna é uma escravidão voluntária, consentida pela multidão de escravos que se arrastam pela face da terra. Eles mesmos compram as mercadorias que os escravizam cada vez mais. Eles mesmos procuram um trabalho cada vez mais alienante que lhes é dado, se demonstram estar suficientemente domados. Eles mesmos escolhem os mestres a quem deverão servir. Para que esta tragédia absurda possa ter lugar, foi necessário tirar desta classe a consciência de sua exploração e de sua alienação. Aí está a estranha modernidade da nossa época. Contrariamente aos escravos da antiguidade, aos servos da Idade média e aos operários das primeiras revoluções industriais, estamos hoje em dia frente a uma classe totalmente escravizada, só que não sabe, ou melhor, não quer saber. Eles ignoram o que deveria ser a única e legítima reação dos explorados. Aceitam sem discutir a vida lamentável que se planejou para eles. A renúncia e a resignação são a fonte de sua (insatisfação ilimitada) ..." [2]


Referências: 
[1]Sobre "Da Servidão Moderna". Comentário do site da Universidade Federal Fluminense (18 de agosto de 2012). 
[2].Fiodor Dostoievski, in "O Movimento de Liberação"

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