sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Ode ao Esquecimento

Por Rosangela Brunet
Em 03 de Agosto de 2013
"Esquecer é uma ATIVIDADE e não apenas uma atividade, uma atividade PRIMORDIAL! Seria um sofrimento insuportável termos consciência de tudo o tempo todo, não é um "defeito" da dinâmica mental mas, um mecanismo de defesa, portanto uma CAPACIDADE! Imaginem não esquecer que vamos morrer  ou o que ja nos aconteceu de ruim..." Renata Ponte 
Obra de Jean-Marc 
NattierMadame Henriette de France as a Vestal Virgin (c. 1749, detail) 
É fundamental entender a importância da memória na administração das emoções Há pessoas que não sabem lidar com situações cotidianas .Por exemplo, quando são ofendidos.São pessoas extremamente sensíveis que não aprenderam a gerenciar seus pensamentos e suas emoções.As lembranças trabalham contra elas. São pessoas pessimistas e negativas porque não sabem lembrar o que realmente importa.
Feliz é a inocente vestal! Esquecendo o mundo e sendo por ele esquecida. Brilho eterno de uma mente sem lembranças Toda prece é ouvida, cada desejo renunciado,toda graça se alcança"Alexander Pope


Elas não aprenderam a conviver com a diversidade e com a falta. Sua criatividade fica, então, comprometida. Seus pensamentos, ideias e sentimentos são administrados pelo controle das lembranças negativas. Os registros das vivência dolorosas ficam na memória durante muito tempo ,ou talvez sua vida inteira, influenciando de forma negativa, comprometendo o comportamento e causando grande impacto social. 

Há uma urgência de aprendermos a sermos inteligentes emocionalmente. O solo da memória é um lugar sagrado, pois é ela que nos fornece dados para as reações e análises do mundo e dos relacionamentos que teremos. Todo modelo que se segue passa pelo registro da memória. Seguimos aquilo que conhecemos. Aprendemos principalmente através de modelos.
"Nós temos no máximo cinco segundos para entender e rejeitar cada ideia perturbadora e cada pensamento dramático, pessimista, e nós não percebemos isso. Esses pensamentos são registrados nas janelas tensionais ou nas janelas killers que pouco a pouco contaminam os solos consciente e inconsciente da memória tornando-os ásperos, estéreis. Daí as pessoas acabam perdendo o encanto pela vida, deixando sua criatividade, perdendo sua paciência, se tornando espectadores passíveis nas suas mazelas e misérias, e não atores principais."Augusto Cury[1]
Então, é aprender a treinar a si mesmo é essencial . É fundamental o exercício de criticar os próprios pensamentos e analisar e escolher as experiência que iremos registrar em nossa memória. A qualidade das emoções e comportamento futuro esta diretamente ligada a estas escolhas e análises.Cada ideia perturbadora, cada emoção e pensamentos negativos irão parar no solo da nossa memória, e temos que saber lidar com isso antes que ele nos aprisione. Por isso, feliz é a inocente vestal!"
Vestal era uma sacerdotisa da deusa Vesta na cultura romana ."Era um sacerdócio exclusivamente feminino, restrito a seis mulheres que seriam escolhidas entre a idade de 6 a

Obra de Angelica Kauffmann .
"Portrait of a Woman Dressed as Vestal Virgin"
10 anos, servindo durante trinta anos.Durante esse período, as virgens vestais eram obrigadas a preservar sua virgindade e castidade, pois qualquer atentado a esses símbolos de pureza significariam um sacrilégio aos deuses romanos e, portanto, também à sociedade romana " [2]
Ela tem que ser virgem e casta.Obviamente seria esquecida pelo mundo e esqueceria do mundo.Obviamente isso seria uma tragédia nos tempos modernos Mas como metáfora,pode se dizer que Vestal é uma mulher feliz .Simbolicamente casta e virgem de dor sofrimento e aflições .Sem registros. Para a sociedade romana da época virgindade e pureza tem a ver com fecundidade e bem estar da comunidade .Elas eram responsáveis por manter o fogo sagrado aceso. "o fogo (...) é o fundamento da existência da cidade, a pax deorum". A existência e continuidade do fogo sagrado indicam a permanência de Roma e do modo de vida romano; deixar o fogo se apagar equivale a deixar o Império romano sofrer a ira dos deuses. A simbologia da Inocente Vestal e o impacto do fogo sagrado para aquela sociedade ainda cabe a nós, homens pós-modernos. Precismos perpetuar o fogo como permanência da existência de vida em nossa cultura. A virgindade da Vestal era uma consciência de memória imaculada. Manter um fogo aceso era uma ritual de permanência. 
Segundo Fiodor Dostoievski "Os erros e as dúvidas da inteligência desaparecem mais depressa, sem deixar rasto, que os erros do coração; desaparecem não tanto em consequência de discussões e polêmicas como graças à lógica iniludível dos acontecimentos da vida viva, que às vezes trazem consigo o verdadeiro escape e mostram o caminho adequado, senão logo, na primeira altura, num prazo relativamente breve, em certas ocasiões, sem haver necessidade de se esperar pela geração seguinte. Com os erros do coração o mesmo não sucede. O erro do coração é de maior monta; significa que o espírito frequentemente, o espírito de toda a nação, está doente, sofre de qualquer contágio e não poucas vezes essa enfermidade, esse contacto, implicam tal grau de cegueira, que toda a nação se torna incurável."[3]
A inteligência esta diretamente ligada a memória que esta totalmente comprometida com as emoções .A analogia desse fogo sagrado que deveria ser mantido pela vestal tem uma ligação forte com as considerações de Dostoievski e Augusto Cury.

Segundo Cury memória não pode ser deletada mas pode ser reeditada. Temos que aprender a " sobrepor novas experiências sobre experiências antigas. ".
"Posso ter defeitos, viver ansioso e ficar irritado algumas vezes mas, não esqueço de que minha vida é a maior empresa do mundo, e posso evitar que ela vá à falência.Ser feliz é reconhecer que vale a pena viver apesar de todos os desafios, incompreensões e períodos de crise. Ser feliz é deixar de ser vítima dos problemas e se tornar um autor da própria história. É atravessar desertos fora de si, mas ser capaz de encontrar um oásis no recôndito da sua alma.É agradecer a Deus a cada manhã pelo milagre da vida. Ser feliz é não ter medo dos próprios sentimentos. É saber falar de si mesmo. É ter coragem para ouvir um "não". É ter segurança para receber uma crítica, mesmo que injusta.Pedras no caminho? Guardo todas, um dia vou construir um castelo...
De acordo com a Teoria da Inteligência Multifocal, só é possível reeditá-la, Por isso, quando alguém passa por uma crise, uma dificuldade, um problema, ele tem que olhar para dentro de si mesmo, desenvolver consciência crítica e duvidar de todo pensamento negativo, de tudo aquilo que o controla, cada ideia perturbadora, criticar o estado de angústia, a passividade do eu para que ele deixe de ser platéia para se tornar ator ou atriz principal do teatro de sua mente.Viver a vida como ela é, fazer das pequenas coisas um espetáculo para os olhos. As coisas mais ricas e importantes da vida não se compram com o dinheiro. Um olhar solene diante de uma flor, um beijo no filho, uma troca de experiências de um professor com o aluno dizendo um momento importante da história, um elogio para um colega de trabalho, uma contemplação das nuvens que mudam de arquitetura a cada segundo, um mergulho dentro de si mesmo e agradecer a Deus como autor da existência independente de uma religião. Enfim, ricos não são aqueles que têm muito, mas são aqueles que sabem fazer muito do pouco."Augusto Cury.
Considerando este trecho de Cury pode-se entender a importância da memória no processo. de administrar as emoções. Há pessoas que não sabem lidar com situações cotidianas como por exemplo, quando são ofendidos.São pessoas extremamente sensíveis que não aprenderam a gerenciar seus pensamentos e suas emoções .Outro exemplo são as pessoas pessimistas e negativas.Outro caso comum são aqueles que não não sabem conviver com a diversidade e com a falta.Em ambos os casos a criatividade esta comprometida. Se os pensamentos, ideias, sentimentos não são administrados de forma saudável, os registros dessa vivência ficarão na memória e influenciarão deforma negativa comprometendo o comportamento e causando grande impacto social .Há uma urgência de aprendermos a sermos inteligentes emocionalmente. O solo da memória é um lugar sagrado para nossa vida, pois é ele que nos fornece dados para nossas reações e análises do mundo e dos relacionamentos que teremos. Então, é necessário aprender a treinar a si mesmo , a criticar os próprios pensamentos, a analisar e escolher as experiência que iremos registrar em nossa memória. A qualidade das emoções e comportamento futuro esta diretamente ligada a estas escolhas e análises.Cada ideia perturbadora, cada emoção e pensamentos negativos irão parar no solo da nossa memória, e temos que saber lidar com isso antes que ele nos aprisione

O trabalho de reedição é penoso,complexo e trabalhoso. Dai a importância da Vestal na nossa vida e na sociedade. A vestal, na minha concepção, representa uma memória conservada, imaculada de dor,sofrimento e as mazelas responsáveis por produzirem comportamento pessoal e social destrutivo.Uma utopia ,um mito,mas uma referência importante de reflexão. Manter o "fogo sagrado" aceso é uma necessidade emocional produzindo impacto social.Pois como já lemos acima "O erro do coração é de maior monta; significa que o espírito frequentemente, o espírito de toda a nação, está doente, sofre de qualquer contágio e não poucas vezes essa enfermidade, esse contacto, implicam tal grau de cegueira, que toda a nação se torna incurável."Este é o fogo da permanência da vida , da existência e da saúde do individuo e da sociedade.

Segundo os antropólogos um ritual é fundamental para que o indivíduo se sinta seguro e tenha uma noção de permanência, um sentido de existência e continuidade. Alguns autores dizem que “cada ritual é um manifesto contra a indeterminação”. Adriane Luisa Rodolpho diz em seu estudo que os rituais emprestam formas convencionais e estilizadas para organizar certos aspectos da vida social, as quais têm uma marca comum: a repetição. Estes rituais, executados repetidamente, conhecidos ou identificáveis pelas pessoas, concedem uma certa segurança. O fogo aceso parece um ritual de permanência e continuidade.Um segurança de que todos estarão sempre ali, permanentemente estabelecidos como pessoas e indivíduos sociais. Parece ser uma tentativa de se certificar de que suas existências não acabarão, bem como sua sociedade.Mas toda sacerdotisa da Vesta precisa ser castas e virgens. Um preço de esquecimento, de isenção de experiências que a macule. A virgindade da memória precisa ser mantida em prol da sociedade romana.Assim nossas vestais estão implorando a nós por castidade.Suplicam por um solo fértil e fecundo onde a terra possa descasar saudável e feliz.
" Feliz é a vestal" Livre de sofrimento e dor.Longe das memórias dolorosas que a vida nos concede. John Lubbock disse uma vez: que " Os muros de pedra não fazem um cárcere, nem as grades de ferro uma jaula, porque o espírito inocente e tranquilo transforma uma prisão numa capela." 
Há os que sabem gerenciar suas emoções,e que vivem em suas "capelas" ,mas ás vezes a realidade pode se tornar tão insuportável que mundo da Feliz Vestal é o lugar pra onde se deseja fugir para sempre .Um mundo sem dor, sem sofrimento e sem lembranças. Esquecida pelo próprio mundo e esquecendo do mundo. Mas a pergunta que me vem é: de que felicidade estamos falando? Se precisamos aprender e gerenciar as emoções é para que saibamos viver neste mundo, e não para que fujamos dele.

" A felicidade exige valentia ", disse Fernando Pessoa.E essa valentia pode significar manter o fogo sagrado aceso dentro de nós. Podemos pensar que estamos vivendo num ciclo vicioso e que nada poderá mudar.Mas a verdade que o rio nunca é o mesmo.As águas estão sempre se transformando e tomando sua própria direção . A mudança é uma das únicas coisas certas na vida. Pode levar tempo, mas ela vem se você decidir seguir o rio .E,então será possível a consonância perfeita entre a péssima-memória e o bom-esquecimento. Enfim ,como eu poderia explicar de forma poética a respeito dessa inteligência multifocal que mantém o fogo sagrado aceso ? 

Eu diria que mesmo que quando as cortinas do palco se fecham significa que um ato se encerrou para dar lugar a outro, e nessa hora aguarde os aplausos apenas no fim da performance. Os risos, as lágrimas e percalços poderão ser material utilizado para a nova temporada que virá.Lembre-se: a vida exige maestria .É mister atuar de maneira magistral. Um novo espetáculo pode começar Entre no papel com esperança e fé. E no rubro-vigor dessa jornada a coragem te coroará.
O esquecimento, freqüentemente, é uma graça. Muito mais difícil que lembrar é esquecer! Fala-se de “boa memória”. Não se fala de “bom esquecimento”, como se esquecimento fosse apenas memória fraca. Não é não.Esquecimento é perdão, o alisamento do passado, igual ao que as ondas do mar fazem com a areia da praia durante a noite. Rubem Alves
A história da Inocente Vestal deu origem ao Filme muito bonito chamado 'Brilho Eterno de Uma mente Sem Lembranças " É um belo romance de ficção científica que nos faz refletir sobre a importância do amor sobre a memória .
Mas este filme aborda um outro olhar sobre o esquecimento. Ele me fez pensar em muitas questões fundamentais referentes a nossas dores e memórias. No filme um cientista oferece um tratamento pra fazer
esquecer aquilo que lhes doeu ou causou sofrimento.
Um artigo publicado na Folha de São Paulo relatou que a (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) conseguiu apagar a memória de ratos em um experimento que aponta para uma nova classe de medicamentos psiquiátricos.Ele tem como objetivo ajudar no tratamento do TEPT (transtorno do estresse pós-traumático).Os cientistas conseguiram mostrar que uma droga experimental pode servir para tratar humanos.
Sabe-se que o TEPT tem feito vítimas em todo mundo,como entre veteranos de guerra, violências nas grandes cidades , e sobreviventes de catástrofes. Podemos incluir os grandes acontecimentos traumáticos com acidentes e mortes de entes queridos .O roteirista Charlie Kaufman foi um gênio ao levantar esta questão tão presente no nosso cenário atual : a dor e o sofrimento x busca de alívio imediato. O filme foi inspirado na frase de Nietzsche: "Abençoados os que esquecem, porque aproveitam até mesmo seus equívocos"
No filme ele cita o poema de Alexander Pope :"Feliz é o destino da inocente vestal / Esquecida pelo mundo sendo por ele esquecido / Brilho eterno da mente sem lembrança!". Outro defensor da memória inocente foi John Lubbock ao dizer: "Os muros de pedra não fazem um cárcere, nem as grades de ferro uma jaula, porque o espírito inocente e tranquilo transforma uma prisão numa capela."
Segundo (Bion, 1965) " as emoções sempre colocam a organização em risco porque ameaçam padrões definidos.Assim, conteúdos da memória , não devem guardar caraterísticas de transformações.” O esquecimento, então, sugere um engessamento do pensar, uma trava na emoção e na espontaneidade e inteireza do Ser.
Segundo (Renato Dias Martino, 2011) "o sujeito preso em sua memória ,cria para si um modo especial de vincular as pessoas e as coisas. Um modelo baseado em estereótipos,ou seja, em ideias antecipadas,condena-os a viver cada nova experiência como uma repetição de algo que ficou no passado..A pessoa que possui uma mente que funciona predominantemente apoiado no conteúdo da memória ,dificilmente pode ter uma visão clara da realidade, pois todos os conteúdos (na memória)devem ser cristalizados, para que possa de certa forma se manter em compartilhamentos da memória. Como invariantes devem se encontrar cristalizados em forma de certezas ou verdades,classificado em ordenadas...a falha na memória é um questionamento quanto ao valor ou ordem daquilo que se deseja lembrar.Logo, a emoção interfere diretamente no resgate do dado na memória”.

Portanto ,a inocência do esquecer torna-se um celibato com um passado irremovível, inatingível às custa da "libertação da dor e do sofrimento", e isso, em troca do esvaziamento do sujeito como ser pensante.Se por um lado, a memória é apagada,por outro ,mais difícil será haver transformação e crescimento, pois as emoções e o contato com a realidade não estaria a sua disposição.

Por ser uma ideia tentadora se render a esta virgindade "indolor", por não ser sempre fácil o enfrentamento da realidade, algumas vezes escapamos dela pela porta de trás como loucos fugitivos, renunciando a vida ;reféns evitando a dor seguros na zona de conforto. Porém, a dificuldade de enfrentar a dor e o sofrimento pode ser prejudicial a saúde emocional e a integridade do ser.

Sabe-se que as lembranças são informações complexas e se esquecidas levam com elas também uma parte de nós. A questão fundamental a se refletir aqui tem sido a busca desenfreada de alívios imediatos para não vivenciar a dor, e portanto, "sermos mais felizes."

Mas sobre felicidade Sigmund Freud diz :" é um problema individual.Aqui,nenhum conselho é válido.Cada um deve procurar,por si, tornar-se feliz".Por isso, a regra de ser feliz as custa do esquecimento passa a ser um objeto de estudo fadado ao fracasso.Não deixando de considerar a importância e a complexidade deste tema prefiro focar outra questão. Pergunto-me sobre o quanto preciso esquecer, e o quanto é essencial se vivenciar e enfrentar a dor , á fim de nos tornarmos livres e inteiros.Esta é a questão principal que me me incomodou quando vi o filme e li o artigo do jornal.Claro que , em casos de TEPT o paciente precisa de um tratamento coadjuvante para tirá-lo do sofrimento imediato,mas até que ponto conseguiremos entender esse limite ? "O cérebro do cliente mapeado , as lembranças esquecidas , as dores desaparecendo e a vida ? O que fazemos com ela? O que dizer das partes levadas juntamente com as dores esquecidas?

Como vemos no filme, no meio do processo, "o namorado da garota se arrepende e tenta, de dentro de sua memória sendo apagada, lembrar-se de seu amor eterno." Ele faz isso tentando resgatar as memórias perdidas... e no meio do caminho a mesma descobre segredos também esquecidos. Sabemos que é mais confortável evitar a dor , não entrar em contato com o sofrimento, não sair da zona de conforto , mas o preço que se paga é não termos acesso a nós mesmos. E com isso, novas e intermináveis dores vão se multiplicando todos os dias, geradas pela primeira “mentira ”, pelo primeiro desvio de atenção, pelo distanciamento da percepção até o abandono do "self".

O inconsciente é um universo habitado por um "outro" DESCONHECIDO , e nele repousam lembranças guardadas de palavras estruturadas e esquecidas na infância, significantes pairando sob o não-dito, denúncias de um sujeito desconhecido de si mesmo, relações primárias e um sistema familiar dando forma a um mundo a ser revelado.Lá os costumes e os discursos se reverberam permeando as escolhas do sujeito ao longo de sua vida fazendo-o percorrer caminhos nem sempre satisfatórios e com resultados muita vezes negativos.Isso ocorre,muitas vezes, por não estarmos conscientes desse "outro" e de seu poder sobre nós.Para Sigmund Freud diz que o luto é necessário: “luto é a reação à perda de um ente querido, à perda de alguma abstração que ocupou o lugar de um ente querido, a perda de um objeto externo e/ou interno, como o país, a liberdade, o ideal de alguém e assim por diante”. A dor e o luto são processos necessários para que possamos nos separar daquele(a) que partiu. Aquilo que os mortos nos deram, independente se bom ou ruim, forte ou fraco, leve ou pesado, continua atuando sobre nós. Quando tomamos nas mãos o que nos foi dado por esta pessoa e agradecemos, deixamos que o passado passe e seguimos no presente, com os que ficaram em nossa alma..Isso é o me faz pensar o quanto é legítimo o esquecimento do que fez sentido ,mas agora esta oculto e irrepresentável .Outra inerente ao fato de esquecermos o foi vivido esta explícito na fala de (Lacan, 1962, p.87) quando diz :" O significante gera o mundo, o mundo do sujeito falante, “cuja característica principal é que nele é possível enganar”. A angústia aparece como um corte. Ele acrescente em (Lacan, 1962, p. 89). " Todos os desvios são possíveis a partir da angústia. O que esperávamos, afinal de contas, e que é a verdadeira substância da angústia, é o aquilo que não se engana, o que está fora de dúvida (...) a angústia não é a dúvida, é a causa da dúvida. A dúvida, o que ela depende de esforços, serve apenas para combater a angústia...Porque o que se trata de evitar é aquilo que, na angústia, assemelha-se a certeza assustadora "

Considerando as premissas acima podemos entender quado Lacan nos fala que os "significantes geram o mundo", e são eles os reféns que ficarão no escuro esperando a hora de escapar Segundo Renato Dias Martino " Toda dor psíquica, parte de um conflito entre partes divididas do eu, em que uma briga interna entre uma parte censora e ditadora condena o desejo e a satisfação deste”.Por isso , se a dor e o sofrimento são evitados em que parte do"eu" eles vão se alojar?
Podemos citar como um dos exemplos deste processo a frase de Ana Jácomo: " Mente é casa que não tem paredes, mas nos acostumamos a viver como se tivesse. E, não é raro, passamos temporadas no cômodo mais apertado"

No filme o indivíduo esqueceu e não sabe que esta sofrendo, esta escondido nos cômodos secretos da casa, e a vida escapando por todos os poros; a escuridão e o vasto terreno vazio não habitado dando lugar ao conforto do esquecimento.Quantas estruturas teremos que quebrar para romper com este padrão de viver caso haja um facho de luz querendo entrar? O quão felizes são as mentes que esquecem? O quanto é necessário de luz e sombra para alcançarmos o meio tom da beleza? É fundamental para nossa saúde mental a gente conhecer nossos " monstros" internos. Ter a coragem para enfrentar nosso lado secreto ; deixar as feridas escondidas falarem mais alto do que nossas defesas, e não resistir quando descobrirmos que a insanidade a ser revelada é o caminho de volta pra vida. Como disse Lygia Fagundes Telles :" A beleza não está nem na luz da manhã nem na sombra da noite, está no crepúsculo, nesse meio tom, nessa incerteza."

Segundo Carl Gustav Jung "Qualquer árvore que queira tocar os céus precisa ter raízes tão profundas a ponto de tocar o inferno...e Só aquilo que somos realmente tem o poder de curar-nos.”
Gostaria de finalizar esta reflexão com um artigo que li esta semana na Revista Super interessante, sobre uma "empresa trabalha em implante cerebral que poderá restaurar memória perdida

"Já imaginou bater a cabeça e perder a memória? Como seria a vida sem as lembranças? Pesquisadores americanos trabalham num projeto para restaurar as memória de soldados do exército que sofreram ferimentos internos na cabeça. A ideia da DARPA (Agência de Defesa para Projetos de Pesquisa Avançados) é inserir um implante no cérebro dos militares utilizando fios finos que se estendam até o tecido cerebral.
O projeto, denominado RMA (Restauração Memória Ativa) terá o objetivo de agir estimulando as regiões de memória do cérebro recuperando a memória perdida. O mesmo implante poderá ser utilizado também para monitorar e ajudar o soldado a realizar de forma veloz e eficaz, atividades que exigem habilidades motoras durante o treinamento ou mesmo durante uma guerra.

A equipe está à procura de propostas e parcerias de empresas especializadas na área, como a Medtronic, empresa da qual já obteve sucesso em alguns implantes cerebrais. O foco é aperfeiçoar o aparelho estudado, para que ele possa ser usado para recuperar a memória de qualquer pessoa. Depois que o estudo for concluído, o implante poderá servir para a medicina tratar de doenças que afetam a memória. Mas, antes disso, a equipe precisa decifrar cada um dos sinais enviados para o cérebro que impulsionam a memória."[4]

Referências : 
[1]AugustoCury,In http://www.visaosocioambiental.com.br/site/index.php?option=com_content&task=view&id=62&Itemid=66
[2]Wikpédia
[3] Fiodor Dostoievski, in "Diário de um Escritor" - Erros da Inteligência e do Coração.

[4]Revista Superinteressante :http://super.abril.com.br/blogs/supernovas/2014/02/13/empresa-trabalha-em-implante-cerebral-que-podera-restaurar-memoria-perdida/?utm_source=redesabril_jovem&utm_medium=twitter&utm_campaign=redesabril_super

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Eu

Por Rosangela Brunet "O meu mundo não é como o dos outros: quero demais, exijo demais; há em mim uma sede de infinito, uma angústia...