sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

O Conforto das Tempestades

Por Rosangela Brunet


"Irei até onde o ar termina, irei até onde a grande ventania se solta uivando, irei até onde o vácuo faz uma curva, irei onde meu fôlego me levar." Clarice Lispector in A Hora da Estrela

Art Forever  
 O conforto das tempestades repousa no encontro da verdade ventando justiça, assustando os fantasmas que nos paralisam na calmaria. Este conforto sempre vem anunciando novas estações e levando nossas certezas.
Sua fúria não basta pra nos desdizer o impronunciável frente aos que nos anoitece . 
Não naufragam os que carregam sentidos de esperança , pois descansam suas coragens nos alicerces delicados da fé. 
A alma nela não desfalece frente ao inesperado, pois encontra em seus recantos , descobertos de incertezas antigas, tudo que a noite deixou de amanhecer.
E, que ao atravessar esse mar , o milagre me acorde sorrindo ; e que as tempestades emocionadas encharquem minhas estradas com poeiras ; e que chegando molhadas de sonhos , caminhe apagando as pegadas.

E se o céu , antes, nos entregou um dia perfeito, é preciso também aceitar sem pressa nossas enchentes cheias de dores, levando nossa  beleza.
Por isso, desejo que o brilho das estrelas reflita em minha pele a esperança perdida , rasurando as marcas que evitei um dia viver. E, então, perseguida pela surpresa, caminhe alegre .E  florindo em rosas, com calma, eu então descanse, raiando cheia de amanhecer; e mesmo que a saudade cansada tente despertar minhas madrugadas, que eu possa rasgar a natureza errada,que eu pare de esperar o anoitecer .
Por isso.....
Prepare surpresas. Borde delicadezas no tecido às vezes áspero das horas. Reinaugure gestos de companheirismo. Mas, não deixe para depois. Depois é um tempo sempre duvidoso. Depois é distante daqui.”(Ana Jácomo)
Obra de Ivan Konstantinovič Ajvazovskij .
"Nave nel mare in tempesta" ,  (1887)
É óbviou que a trilha da vida nem sempre é plana, nem sempre é lisa.A rispidez da caminhada algumas vezes embaça nossos olhos e fere nossos pés. Em alguns momento o ambiente se torna insípido e todos os sons se afastam pra distanciar nossa esperança.Quando cercados de desafios inesperados nossas ações ,ás vezes , sabotam nossos planos e desviam nossos olhos.Pode ser que nessa estrada encontremos vielas falsas e armadilhas construídas por nós mesmos, ou até por nossos próprios semelhantes.E, tentando escapar da dor, acabamos forjando atalhos mais fáceis e ilusões disfarçadas de desejo.Por mais que a vida tente nos assustar e nos manter em cavernas o espanto de existir e a dor de viver é A FORÇA propulsora da existência e a mola mestre de todas as saídas . Quando teus pensamento se encontram com teu desejo, o medo recua e a realidade te permite sonhar , então todo movimento de vida se inicia .A realidade é nossa aliada quando nos dispomos a pagar o preço de nossos sonhos.Sei que haverá tempos
Idyll - Gerhard Munthe (1849-1929)


em que teremos de buscar solitários o sentido da vida. Mas que a gente não perca o rumo; e mesmo diante da aspereza ,as decepções não silencie nossos sonhos. E , se a marcha tripudiar nossa firmeza ,que a descrença não venha nos invadir, que a coragem nunca nos falte; que a força brote do poço maia puro , que a fé nos alavanque pra frente mesmo que o céu se feche diante de nós. Que a distancia não seja a razão as nossas dúvidas.Que o sol se abra e que a terra seja fértil, e que nessa senda a gente saiba debulhar os frutos mais raros. Que eu desate os nós , que eu quebre as fechaduras , que eu largue todos os pesos desnecessários. Que os fardos mais pesados sejam divididos .Que a regra a seguir seja sempre " amar apesar de". Que eu seja a paz que eu preciso , que a música dentro de mim nunca se cale e que eu jamais deixe de ser a habitação da eternidade.Como disse Lao-Tsé" O rio atinge seus objetivos porque aprendeu a contornar obstáculos"


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