quarta-feira, 13 de maio de 2015

Pina Bausch

"É a via de acesso à sensibilidade. Latente, chega a incomodar. Não por acaso, a dança, em Pina, é um efeito à contramão da linguagem comum. A começar pela própria história não mostrada da bailarina morta, da fuga de Wenders do documentário “convencional”. Ele não quer revelar detalhes da vida dela – onde nasceu, o que fez até formar uma escola em torno de si e seus últimos dias – e sim sua dança, sua expressão, e, com elas, a grande artista.A experiência cinematográfica é única. Bailarinos que trabalharam com a coreógrafa e criadora relatam – mais em movimentos, menos em palavras – esse tal vocabulário do corpo, esse legado. Em um momento entre tantos, uma bailarina está presa a uma corda e, à luz, tenta alcançar a escuridão. Em cena, a noção de liberdade é questionada: poderá ela chegar àquele ponto de liberdade almejado sem mergulhar nas sombras? Em todo caso, o corpo movimenta-se e a dança carrega desespero.Em outro momento, a terra é lançada sobre o corpo da bailarina. A câmera aproxima-se da mulher que dança e, depois, coloca-se a distância, o que revela várias camadas – as grandes portas – em um único cenário. O efeito visual, para ficar apenas em um exemplo, é difícil de descrever. O que pode ser visto, sempre, é a necessidade de tocar a sensibilidade, tão cara – e invisível – à sociedade bruta.Por isso, um dos grandes trunfos de Pina é justamente colocar a dança em locais inimagináveis. Um deles, um parque sem sol, é o ambiente perfeito às quedas do corpo de uma mulher, sempre segurado por um homem. É a leveza da queda, como se ainda fosse possível encontrá-la em um ato brusco e aparentemente irracional. A aparência do acaso dá ainda novos contornos à arte de Pina: quanto mais parece louca ou improvisada, mais encontra sentido ao questionar a normalidade que sepulta a beleza.Wenders, também, não se desvia nunca dos palcos. Os bailarinos são sempre peças que dão forma ao todo. Não há preocupação em perder a humanidade, em ser vítima da distância. Há sempre os efeitos do cinema, ainda antes dos efeitos da dança: o controle dos cortes, da luz, dos movimentos de câmera que selecionam corpos à frente, corpos ao fundo. O documentário dito “convencional” escapa dali. Resta uma experiência.Os corpos são partículas. Em um determinado momento, artistas enxergam outros artistas em um palco em miniatura. As vidas estão por ali, a dançar. Parecem pequenas quando observadas do alto, mas não são. As partículas, unidas, dão forma ao mundo de Pina, seja ele o do documentário, seja o da artista. Várias vidas dão vez a uma só, não o contrário. A homenagem de Wenders – por meio da dança, do teatro, do movimento – fornece um contraponto às fábricas, aos carros, aos trens. Também às pessoas, imobilizadas e ligadas no piloto automático. A frase final não poderia ser outra senão aquela em que Pina clama pela dança. Caso contrário, “estamos perdidos”.[4]

Escândalo em Wuppertal
Cia. das Artes retrata  "Philippine Bausch, como   uma coreógrafa,dançarina, pedagoga de dança e diretora de balé alemã.Conhecida principalmente por contar histórias enquanto dança, suas coreografias eram baseadas nas experiências de vida dos bailarinos e feitas conjuntamente. Diz-se que várias delas são relacionadas a cidades de todo o mundo, já que a coreógrafa retirava de suas turnês ideias para seu trabalho.Entre os seus temas recorrentes estavam as interações entre masculino e feminino – uma inspiração para Pedro Almodóvar, em cujo filme, Fale com ela, Pina aparece em uma bela sequência de dança.
Acrescentou que ela foi diretora da Tanztheater Wuppertal Pina Bausch, localizada em Wuppertal. A companhia tem um grande repertório de peças originais e viaja regularmente por vários países.
Destacou que os dançarinos em cena não dançam. Correm. Gritam e riem, contam piadas. Alguém derrama água e joga terra no chão do palco. Talvez até cresça grama ali. Piruetas velozes e pernas esticadas para o alto são coisas inexistentes numa encenação dessas. Mas seres humanos – pessoas vivas com medos, amor, tristeza e fúria. “O que me interessa não é como as pessoas se movem, mas sim o que as move”, resume Pina Bausch o propósito de seu trabalho. A artista que se veste permanentemente de preto e calça número 41 é considerada uma das coreógrafas mais importantes do século 20."[3]

Abaixo confira um vídeo que mostra como é a proposta de Pina Bauch:

Já, no relato de  Aya Bach assinala que a " legendária coreógrafa Pina Bausch trabalhava apenas com bailarinos que considerava extraordinários. Em 1973, ela fundou a companhia "Tanztheater Wuppertal", que é, até hoje, mundialmente conhecida por sua dança expressionista radical. Poucos bailarinos são capazes de executar as peças de Bausch. Suas coreografias eram elaboradas de acordo com a personalidade dos membros da companhia. Ela diz que Pina era um Ícone da dança contemporânea, a qual  fundou a companhia Tanztheater Wuppertal em 1973. Quatro anos após a morte de Bausch, grupo celebra aniversário revendo o passado e ainda se preparando para um difícil recomeço.Pina Bausch nunca planejou liderar a divisão de dança da companhia de teatro de Wuppertal, mas foi convencida a assumir o cargo. Assim, ela transformou o balé de um teatro municipal em uma revolucionária companhia de dança. O Tanztheater Wuppertal se tornou um dos mais renomados patrimônios culturais de exportação da Alemanha.
Hoje, a companhia é dirigida por Lutz Förster, aos 60 anos. Ele também teve dificuldades em aceitar o cargo. Sua tarefa é mais do que complexa: manter o legado lendário da companhia e, ao mesmo tempo, criar espaço para o novo. "Primeiramente, eu rejeitei completamente a ideia", disse. "Mas não porque estava com medo, mas porque nunca tinha considerado essa hipótese".
Förster, que também atua como professor na Universidade de Arte de Folkwang, em Essen, se juntou à companhia como bailarino em 1975. Agora, é responsável pela temporada de aniversário da companhia, que inclui uma retrospectiva do trabalho de Pina Bausch. A temporada começou comPalermo Palermo, de 1989, uma das muitas peças que Bausch criou no exterior. O espetáculo foi inspirado na cidade italiana de Palermo e em seus habitantes.""[2]
Cena de "Wiesenland" de Pina Bausch, que teve sua estreia em Wuppertal em 2000

"Não estou interessada na maneira como as pessoas se movem, mas no que move as pessoas".
 (Uma das frases mais famosas de Pina Bausch )
 Aya Bach continua dizendo que com um trabalho sempre muito distante da elegância artificial do balé clássico, Bausch sempre buscou o que inspirava ou deprimia as pessoas. Quando os bailarinos marcham curvados ao longo dos escombros de um muro no palco, dá para perceber que a peça fala mais sobre a deformação interna do que externa, dos corpos dos indivíduos. 


Do início da companhia: "Café Müller" foi encenada pela primeira vez em 1978

Como bailarino, Förster foi testemunha de como a esbelta e contida Pina Bausch liderou sua revolução artística. Ela era persistente em apresentar seu trabalho inovador para a plateia conservadora de Wuppertal. Ela provocou escândalos, como na encenação de Blaubart (Barba Azul), uma orgia de pesadelo e destruição, que aparecia no programa do teatro ao lado de dignas óperas e inofensivas operetas. "Era um escândalo. Levou tempo até que um tipo de público diferente viesse ver os espetáculos – um público da área do teatro", lembra Förster.

Sucesso internacional

Segundo Förster, a recepção da companhia era muito diferente no exterior. "Era emocionante! Éramos incrivelmente bem recebidos e presenciamos reações bonitas e emocionantes da plateia". A companhia era convidada para os mais importantes festivais internacionais, onde artistas de vanguarda se encontravam e onde o público era mais aberto a experimentos.
Mas essa não era a única razão pela qual o mundo além das fronteiras alemãs se tornou tão importante para Pina Bausch. "Ela se interessava em conhecer outras culturas", diz Förster. "Ela se interessava nas pessoas de um modo geral e, por isso, se interessava também por todas as pessoas, em diversos contextos culturais. Ela tinha menos necessidade de visitar museus ou teatros do que de ir a lugares onde pudesse ver as pessoas".


"Le Sacre du Printemps" foi uma das peças mais bem sucedidas coreografadas por Bausch

Bausch desenvolveu uma série de peças ligadas a locais fora da Alemanha: Palermo, Roma, São Paulo, Santiago, Saitama, Istambul, Hong Kong e Los Angeles. Isso também contribuiu para seu sucesso internacional. "Eu admiro Pina cada vez mais. Ela criou algo universal que cativa o público de todo o mundo", afirma Förster.

Também durante a temporada de aniversário, o Tanztheater Wuppertal vai excursionar pelo mundo: diversos países europeus, Japão, Coreia, Hong Kong, Canadá. Quatro anos após a morte de Bausch, vítima de câncer, a companhia da pequena cidade de Wuppertal ainda é tão popular internacionalmente, que não dá conta de atender todas as solicitações ao redor do globo.

Bailarinos dos 20 aos 60 anos

Isso é, ao mesmo tempo, uma maldição e uma benção. A companhia poderia continuar a excursionar pelo mundo, por anos, com as peças criadas por Pina Bausch, sem ver a demanda diminuir. Mas eles não querem manter a companhia apenas como um santuário para o trabalho da artista. A temporada de aniversário, sob o título de Pina 40, mantém o foco no legado de Bausch. Mas o futuro não pode se limitar apenas a retrabalhar antigas peças.

"Temos bailarinos de 20, 30, 40, 50 e 60 anos. Isso não acontece em nenhuma outra companhia", ressalta o diretor. "Isso é fantástico em muitos aspectos, mas também traz problemas". A companhia tem que se rejuvenescer para os novos bailarinos, mas não há verba suficiente.
Orçamento apertado

Uma reorientação artística é um grande desafio. Förster não gosta de dizer publicamente como ela será realizada, mas apenas que seu objetivo é "encontrar o equilíbrio entre manter o legado de Pina e ao mesmo tempo levar a companhia por um novo caminho, não se esquecendo do começo de Pina e de sua coragem em inovar".
Mas isso também exige coragem político-cultural. Quando Pina Bausch começou, ela tinha um apoio que hoje parece impensável: tempo e recursos para convencer as pessoas certas. Agora, a cidade de Wuppertal não tem mais fundos suficientes para dedicar à companhia, e hoje há quem cobre que o governo federal destine fundos à companhia. Considerando tudo que o Tanztheater Wuppertal já fez pela reputação da arte alemã ao redor do globo, não deveria ser difícil que isso acontecesse.

MAIS SOBRE ESTE ASSUNTO
Por um ano, Alemanha se mostra aos brasileiros sob os mais diversos aspectos
Maratona de eventos de norte a sul do país traz cultura, economia, tecnologia e política da Alemanha moderna. Objetivo é que iniciativas prossigam após 2014. Esporte e centro cultural itinerante fazem parte do programa. (09.05.2013)

Grupo Corpo embarca em turnê pela Europa
Temporada de espetáculos no Velho Continente segue até o começo de maio. Roteiro inclui sete países em apenas um mês. (04.04.2013)

"This is concrete" usa a dança como íntima viagem sensorial
Com curta temporada em Berlim, o espetáculo do brasileiro Thiago Granato e do coreógrafo e dançarino Jefta van Dinther explora os sentidos e a percepção da temporalidade numa lenta batalha entre dois corpos. (27.03.2013)


Fonte:
[1] http://www.dw.de/companhia-de-dan%C3%A7a-de-pina-bausch-completa-40-anos/a-17072396
[2] http://www.dw.de/a-companhia-de-dan%C3%A7a-de-pina-bausch/g-16757343
[3]http://www.ciadasartes.com.br/noticias/um-pouco-sobre-pina-bausch/#sthash.3ZLmixSf.dpuf
[4] Win Wum Wenders https://palavrasdecinema.wordpress.com/tag/pina/

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Eu

Por Rosangela Brunet "O meu mundo não é como o dos outros: quero demais, exijo demais; há em mim uma sede de infinito, uma angústia...