terça-feira, 10 de junho de 2014

O Cisne Branco :Canto e (Re) nascimento

Por Rosangela Brunet


"Ópios, Édens, analgésicos.  Não me toquem nessa dor.Ela é tudo o que me restou
Sofrer vai ser a minha última obra" Paulo Leminsk,In:" Dor 
Elegante"

"Não obstante, a lenda, que foi prenunciado por Sócrates no seu último discurso1 , permaneceu através dos séculos e aparece em vários trabalhos artísticos.Por extensão, canção do cisne ou "canto do cisne" tornou-se uma metáfora, referindo-se a uma aparição final teatral e dramática, ou qualquer trabalho final ou conclusão. "[1]
DAVID Jacques Louis 1748-1825 - SÒCRATES

Segundo Sonia Darthou " O “canto do cisne” é o último testemunho de um homem, a última obra de um artista, a declaração final de um poeta antes de morrer. Essa expressão tem sua origem na Antiguidade, com o filósofo Platão, que põe em palavras os últimos instantes da vida de Sócrates, por meio do diálogo Fédon. Condenado à morte pela cidade de Atenas em 399 a.C., sob a acusação de “corromper a juventude e introduzir novos deuses”, Sócrates foi chamado por seus discípulos para tomar a palavra.
O grande filósofo, com 70 anos de idade, teria declarado, antes de tomar o veneno mortal – a tristemente famosa cicuta –, que ele desejava realmente responder uma última vez, pois não se sentia invadido por pensamentos sombrios. Sócrates se compara aos cisnes que lançam um último canto antes de sua morte: “Quando sentem a hora da morte se aproximar, essas aves, que durante a vida já cantavam, exibem então o canto mais esplêndido, o mais belo; eles estão felizes de ir ao encontro do deus do qual são os servidores. (...) Eu, pessoalmente, não acredito que eles cantem de tristeza; acredito, ao contrário, que, sendo as aves de Apolo, os cisnes possuam um dom divinatório e, como pressentem as alegrias que gozariam no Hades, cantam, nesse dia, mais alegremente do que nunca”.
A metáfora já se encontrava em 1604 em Otelo, de Shakespeare, quando Emília, sua heroína trágica, no momento da morte, grita: “Ouça! Você pode me ouvir? Vou fazer como o cisne e morrer cantando...”.
Othello, The Moor of Venice, 1604

No início do século XIX, o editor de Schubert deu o título O canto do cisne a uma coletânea póstuma de 14 Lieder de tonalidade bastante melancólica, pois ele os considerava o testamento musical do artista. Quanto a Tchekhov, ele escolheu esse mesmo título para sua peça publicada em 1886. Ele coloca em cena o personagem de Svetlovidov, corroído pela doença e pela nostalgia, propondo uma última interpretação magistral dos papéis principais de sua vida para encerrar a carreira de ator.
Essa expressão, que permite imaginar as últimas palavras ou os últimos instantes de criação artística, se apossou em seguida de outros universos; ela foi retomada particularmente pelos jornalistas para qualificar as reformas de um homem político em fim de mandato ou a última invenção tecnológica de uma empresa ultrapassada pelos concorrentes."[2]

O Lago dos Cisnes

Companhia: The Royal Swedish Ballet [3]
O canto do cisne é uma lenda que se originou dessa crença de que todo cisne branco é mudo,  e só canta quando  pressente sua morte.
É  uma metáfora que pode ser entendida como a última performance,  a última obra ou  a última atuação  majestosa de alguém, que por definição,  já se subentende que é, ou se tornará um herói ou uma  personalidade que marcará a história.
Acreditava-se que os cisnes brancos eram   mudos  ,mas  antes de morrer cantam sua última linda e triste canção.Como se fosse possível atingir o  último desejo.
O desejo está sempre em obra, sem término e sem fim e, na mesma medida, a narrativa do inconsciente. "Livia G.Roza
 No entanto, esta crença foi refutada,mas a metáfora permanece pela  força do seu simbolismo.
Quem já não sofreu a dor e o  poder da transformação do(re)nascimento ? Todo Nascimento grita, diz Livia Garcia Roza.. Não é suave o movimento que se faz quando atravessamos a via de uma dor existencial, a qual possui duas saídas.A morte ou o (re)nascimento do Ser que vive em nós diariamente gritando para existir.
Abandonando um pouco a história , o discurso poético e psicanalítico, a visão da epigênese muito me atrai quando se fala de transformação,mudança e existência. A vida possui leis que devem ser conhecidas e respeitadas para que a tal "felicidade" subjetiva aconteça.
A teoria da epigênese explicada pelo filósofo grego Aristóteles (384-322 a.C.)  a partir da    observação de um embrião de galinha Ela foi criada    se opondo á mentalidade causalista e determinista da vida. Ele acredita que um organismo que  gradualmente vai se transformando e adquirindo  forma á partir de de seu amorfismo ,assim como  gerado por uma "embrião amorfo" ,ou seja,  "Caos gerando a estrela" 2 .
O filósofo considerava os pais como os "princípios geradores" e que cada organismo, individualmente, começa de novo 3 . Assim, a epigênese acredita que o organismo não esta formado no ovo fertilizado, mas sim, que ele cresce progressivamente a partir de alterações profundas que ocorrem durante a embriogênese." [4]
Baseado nessa premissa  que considero adequada ao tema , a vida é cíclica e passível de transformação, nascimento e renascimento .Ser vítima da existência ou destino é enganoso. Ser fiel si mesmo é viver estes ciclos e respeitá-los como processo de (re)nascimento. Dentro de cada existência ha muitas epigêneses , se não reformulamos e nos transformamos acontece o impasse.Abandonemos a visão linear a causalista  avancemos para a não conformidade  e aceitemos o caos que faz nascer um novo dia.
 "Oh Cisne.Canta tua dor.Expõe teu desalento e consternação das noites que ficarão nas memória dos que te amaram . Nenhuma  desesperança ou  desolação será poupada. A languidez e a  melancolia de teus olhos  já se ajustaram ás tuas melodias de  luto e pesar. Tens que cantar antes de ir.Não há como explicar Apenas anuncias tua ida demonstrando teu fim .Figura de uma nova vida.Porque terminas Dizes que não serás mais mudo mas  tua fala
significa  tua morte cantada.Não podes  morrer o que nunca existiu . A Palavra que faltou dizer nascerá agora de teu pranto, e então viverás.
O não dito em tua mudez se manifestará agora demonstrando nascimento do novo ser.Nada acabou .Tua vida  grita para nascer e este canto é tudo que tens. Os sons apresentando teu nascimento, explicando tuas notas mais altas,manifestando tuas formas mais sublimes, dizendo tudo que não foi dito antes de tua morte. Se apresente, então. Fala agora quem tu és.Revela o mistério de teu silêncio   mantido com teus  acordes mais  altos.Compõe  o teu arranjo  ordenado disposto em dó maior .Que dor é esta? Porque partes assim depois de tanto silêncio.Fica para nascer.Ajusta outras combinações.Encontre outra ordem. Descomponha tua missão e faça
outra obra de arte desdobrada em outros acordes que nos acorde e nos devolva a paz. Cria tua história Germina e brota deste silêncio já que ele se  findou.Deixa emanar tua essência e não desista de romper esta manhã.
Desponta nessa manhã que insistes em deixar. Abra.Apareça. Desabroche.Desponta Que surja uma nova lenda " Rosangela Brunet,In: "O Cisne Branco :Canto e (Re) nascimento" 
BALLET DE L’OPÉRA NATIONAL DE PARIS
"ORPHEUS AND EURYDICE",2006
Um Exemplo do último canto do Cisne .Espero que gostem
"Por exemplo, a coleção de canções de Franz Schubert, publicada no ano de sua morte, 1828, é conhecida como a Schwanengesang (que em alemão significa "canção do cisne"). Isto traz a conotação de que o compositor estava prevendo sua morte iminente e usando suas últimas forças em um magnífico trabalho final"


Referência: 

[1]http://pt.wikipedia.org/wiki/Can%C3%A7%C3%A3o_do_cisne
[2]Sonia Darthou é mestre de conferências da Universidade de Évry-Val-d’Essonne:http://www2.uol.com.br/historiaviva/artigos/historia_das_palavras_canto_do_cisne.html
[3] "O Lago do Cisne": Companhia: The Royal Swedish Ballet
Ano: 2002. Bailarinos Principais: Nathalie Nordquist com Odette/Odila,Anders Nordstrôm como Príncipe Siegfried
[4]http://pt.wikipedia.org/wiki/Epig%C3%A9nese

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Eu

Por Rosangela Brunet "O meu mundo não é como o dos outros: quero demais, exijo demais; há em mim uma sede de infinito, uma angústia...