terça-feira, 21 de janeiro de 2014

O Tempo

Por Rosangela Brunet  


"Há céticos que dizem que a causalidade é, por definição, uma relação entre eventos no tempo. Mas, como foi dito por Stephen Hawking, o Big Bang foi um evento que não possui passado, logo o primeiro instante de tempo. Se este é realmente o caso, então não há possibilidade para o Big Bang ter sido causado. É errado usar o princípio da causalidade a menos que se demonstre que havia um tempo anterior ao Universo. Supor que há algo transcendental que causou o mundo é cometer "petitio principii".
Em primeiro lugar, causalidade não é necessariamente uma relação entre eventos no tempo. A causalidade não se define por um evento consecutivo a outro, mas por um ser que determina a existência do outro, seja eternamente ou na produção do próprio tempo. A Causa não precisa ser anterior a Seu efeito, a Causa pode ser simultânea ao efeito, pois a co-existência entre a Causa e efeito viabiliza a causalidade. Em segundo lugar, é um raciocínio circular dizer que tudo que existe está dentro do tempo, de forma que seja impossível uma Causa existir fora do tempo. A definição de tempo é de sucessão de eventos, de modo que isso em si não inviabiliza algo imutável e atemporal. Em último lugar, a atemporalidade divina é a visão panorâmica dos eventos temporais. Nesse sentido, a ação de criar o cosmo é eterna e imutável."VINICIUS,In Blog "Filosofia e Apologética"[1]


Com isso, o  tempo não se dispõe a discutir sua causa.Não há causalidade no tempo.Ele se dilui com as explicações e desaparece no meio da resposta. Além disso, como disse Vinícius " A definição de tempo é de sucessão de eventos, de modo que isso em si não inviabiliza algo imutável e atemporal. "
Obra de Salvador Dali
"Relogio Derretendo"
O tempo  passa simplesmente mesmo que estejamos parados.Os eventos se desprendem uns dos outros se desdobrando em significados que apenas nós conhecemos . O problema do tempo é quando ele assume um significado que sustente uma limitação Então, enxergar além do tempo passa a ser  o nosso maior desafio , e se não ousarmos fazê-lo nunca estaremos conscientes de quem somos nesse universo Imutável e eterno.Eterno sim,pois se houve um tempo antes do "Big Bang" se pressupõe um lugar absoluto e eterno ,onde se é possível criar outros tempos. 
"O tempo não existe para os que amam". Esta foi a frase célebre de  William Shakespeare ao falar sobre o Amor/Tempo.Ele intuiu uma dimensão á parte, isenta de transitoriedade .Uma força motriz de criação Esta dimensão é a eternidade, e lá só o Amor subsiste. Mas, o que é Amor? Sabem do que estou falando? Amor, em minha concepção é um Ser produtor de existência própria ,absoluto em sua essência. Não um sentimento humano sujeito a falhas e derrapagens.Este Amor pra mim resiste o Tempo e o desmascara nos trazendo de volta a eternidade.Por isso, o tempo é algo mais complexo,porém limitado que deve ser repensado.A Vida só acontece agora.O resto são construções futuras que se tornarão elucubrações mentais sobre o  passado. Nada palpável ou consistente.O tempo é uma ideia que foi capitalizada, informatizada e controlada por poderes econômicos.No entanto, "Sabendo nós que a vida é sempre no  aqui e no agora, não  conseguimos  nos desenvencilhar de uma perspectiva, a qual chamamos temporal, em que só a sequência de acontecimentos, só a história do que foi e do que será, parece organizar factos dispersos e significar a nossa existência com a singularidade e a dignidade que achamos que deve ter(...)O que fazemos com o tempo, como se sabe, é apenas o que podemos e o que somos capazes. Daí resulta que a temporalidade seja, não uma unidade de medida como os mais incautos tendem logo a crer, mas uma complexa miscelânia de imagens, sensações, memórias, esquemas associativos e tudo o mais de que a mente humana dispõe, para fazer de nós este magnificente e espantoso produto da evolução.""Isabel Leal[2]

Nesse viés ando costurando alguns pensamentos. Eu consideraria o tempo uma das   improbabilidade da plenitude. Porque o tempo não tem recursos para se realizar ,a menos que estejamos vivos nele. Do contrário ele não existe. O tempo não existiria se ninguém estivesse nessa plano. Por isso, o tempo não pode determinar quem somos, e nem limitar nossa existência. Mas se exilar dessa "realidade voraz" é uma tentativa fugaz de estar vivo. Porque eternidade não se discute neste tempo.Ela simplesmente existe. 
Leonardo Da Vinvi
Adoração de Maggi
Segundo a psicanálise  o ser indivíduo tem medo da não-existência.A sensação de "não existir" o devora e o mobiliza numa força de construção que pode ser produtiva ou não. Quem não tem medo da morte é porque largou mão de ser controlado pelo tempo. Para muitos morrer possui este significado de não existir mais. Isso produz muita ansiedade e angústia.
Por isso, O indivíduo precisa de rituais e cerimônias pela necessidade de senso de continuidade de existência. Os rituais de passagem, por exemplo, são fundamentais para que o indivíduo se sinta seguro e tenha uma noção de permanência , sentido de existência e continuidade. Alguns autores dizem que “cada ritual é um manifesto contra a indeterminação.Mas,  " é preciso dar tempo à regra de atuar e aos gestos o tempo de se realizarem. É preciso dar ao tempo o tempo de desaparecer. A cerimônia tem o pressentimento de seu desenvolvimento e de seu fim. Ela não tem espectadores. Em toda a parte onde há espetáculo, a cerimônia cessa, pois ela é também uma violência feita à representação." Jean Baudrillard (In "As Estratégias Fatais" , Pág 152 )


Muitos dizem que as festas de passagem de ano novo não faz diferença nenhuma na vida da gente ,mas segundo os antropólogos este é na verdade um ritual de passagem .Os rituais de passagem são fundamentais para que o indivíduo se sinta segura e tenha uma noção de permanência, um sentido de existência e continuidade. Alguns autores dizem que “cada ritual é um manifesto contra a indeterminação” .Adriane Luisa Rodolpho diz em seu estudo que "os rituais emprestam formas convencionais e estilizadas para organizar certos aspectos da vida social,as quais têm uma marca comum: a repetição. Estes rituais, executados repetidamente, conhecidos ou identificáveis pelas pessoas, concedem uma certa segurança. Pela familiaridade .., celebramos nossa solidariedade, partilhamos sentimentos, enfim, temos uma sensação de coesão social. "
A cerimônia  nos confronta  e nos ajuda com a vantagem da dúvida e nos arremessa para  o espetáculo do encontro, ela  sabe esperar com estilo de eternidade.Nesse momento o que nos inicia faz o   tambor rufar num ritual de existência anunciando a paz perdida. Nesse pacífico momento a vida se revela cheia de mistério ,cheia de força, e como quem se distrai vai desfazendo as  certezas e trás de volta a coragem. Como disse Rainer Rilke : " Tudo quanto é velocidade não será mais do que passado, porque só aquilo que demora nos inicia. "

Mas nem sempre o que demora é cerimônia.E ,por exemplo ,não paro para consertar meu coração partido, mas sei que ele sangra pelo barulho que ouço quando acordo na madrugada.E,mesmo assim  lá esta  ele todos os dias esperando pra ser cerimoniado. Evitamos o tempo pelo medo,pela  angústia , pela distração da vida que nos trás prazer imediato,mas como disse Maria Rita Khel , em seu livro  "O Tempo e o Cão, "é esta capacidade de suportar esse vazio através de um encadeamento de idéias , de representações e de fantasias é que faz com que o tempo seja um percurso,uma vivência subjetiva que sempre percorre entre um passado recente e o futuro que podemos construir"

"[1] http://filosofiaeapologtica.blogspot.com.br/2011/12/ha-ceticos-que-dizem-que-causalidade-e.html
[2]Leal , Isabel,In: Notícias Magazine (DN) / 20061231

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