Todo o desejo nasce de uma necessidade, de uma privação, de um sofrimento. Satisfazendo-o acalma-se; mas embora se satisfaça um, quantos permanecem insaciados! Demais, o desejo dura muito tempo, as exigências são infinitas, o gozo é curto e avaramente medido. E mesmo esse prazer uma vez obtido é apenas aparente: sucede-lhe outro, o primeiro é uma ilusão dissipada, o segundo uma ilusão que dura ainda. Nada há no mundo capaz de apaziguar a vontade, nem fixá-la de um modo duradouro: o mais que se pode obter do destino parece sempre uma esmola, que se lança aos pés do mendigo, que só conserva a vida hoje para prolongar o seu tormento amanhã. Assim, enquanto estamos sob o domínio dos desejos, sob o império da vontade, enquanto nos abandonamos às esperanças que nos acometem, aos temores que nos perseguem, ele não é para nós nem repouso nem felicidade amável. Quer nos encarnicemos em qualquer perseguição ou fujamos ante qualquer ameaça, agitados pela expectativa ou pela apreensão, no fundo é a mesma coisa: os cuidados que nos causam as exigências da vontade sob todas as formas, não cessam de nos perturbar e atormentar a existência. Assim o homem, escravo da vontade, está continuamente preso à roda de íxion, enche sempre o tonel das Danaides, é o Tântalo devorado de eterna sede.
— Arthur Schopenhauer, in As Dores do Mundo.
The Slave . Richard Westmacott.1775-1856.England_ |
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