sábado, 17 de janeiro de 2015

Siêncio: A Palavra Que Nos Falta

Por Rosangela Brunet
"Uma única coisa é necessária: a solidão. A grande solidão interior. Ir dentro de si e não encontrar ninguém durante horas, é a isso que é preciso chegar." (Rainer Rilke)
A palavra que nos falta esta sempre negociando nossa existência, nos tornando sujeito do que não conhecemos , nos constituindo e nos transformando naquilo que o outro nos determina. Que palavra é essa que não pronunciamos,indizível pelo que que nos falta ser...O que importa é o inominável; o que ansiamos é o impronunciável. Isso é o que nos define. Bem(dita) seja a palavra,mas "Mas preste atenção no que eu não digo."No "não dito" é onde habita o silêncio fértil , ali no entrecorte da comunicação, que fundamenta o que realmente importa . Por trás dos nosso "nadas" a palavra se esconde disfarçando universos temidos ....por isso, tanta gente tem dificuldade de conviver com o silêncio do outro e até do seu próprio. O poeta José Inácio Vieira de Melo disse: "As Palavras estão Grávidas " , e Livia Garcia Roza acrescenta " Estamos sempre no limite do impronunciável".

Rubem Alves diz :É preciso educar os ouvidos a ouvir, e ouvir frequentemente as coisas que não são ditas(...)Há uma voz, há alguma coisa que é dita nos interstícios "

O silêncio é cheio de paisagens.Por isso , eles são tão caros, não suportam o barulho dos signos previstos no dicionários. O que não falo tem que ser dito sem formas e (de)formas des(conhecidas) ; ausentes das falácias cheias de rotinas nos olhos.As palavras são distrações. O que me importa é o inominável , o que eu anseio mesmo é o impronunciável. O silêncio, o não-dito, os entrecortes da fala, o significante do desejo , os desvios anunciando o vazio , o "não-saber' se estruturando sobre o inesperado. Que seja bem(dita) a palavra!! "Mas "preste atenção no que eu não digo" Quando a cena é muda a alegria é bonita só de existir, e a coragem espontânea se apresenta enxergando o paraíso , e visitando paisagens cheia de felicidades sonhadas,demolida pelas esperas aflitas de tanto falar.Ali os meus olhos tem todos os sonhos que não cabem em mim , e cintilam surpresas anunciando futuros; porque ali moram os que ousam calar,ali habitam os que amam.
Obra de Amanda Russian

O silêncio é composto de muitas palavras,mas elas necessitam de paz para entendê-as.Elas só falam a quem esta disposto a ouvir. O Silêncio só Fala quando Silenciamos em Paz. O silêncio vibra no Inatingível e habita no inominável.Como um véu ladeando o impronunciável não há quem o interprete. Pois é ausência dos ruído das certezas . Noite de palavras. Sossego do pensamento repousando sobre a impossibilidade do dizer. Experimentando a inação dos movimentos , atravessando os dias sombrios, fazendo nascer o milagre e desvendando o desconhecido.A paixão sempre será sua aliada, pois quando tudo termina , somente ela se sustenta nessa dimensão. O silêncio é um misterioso oceano submerso no infinito.O segredo da criação.É a terra fertilizando . Ali nos encontramos com o que somos. Somos livres dos mortais porque no silêncio ele subsistem .É Música da cor de céu.Longa interrupção sinestésica forçando pausas na existência. Sinal de que é hora de deitar as angústias, representar as esperanças,guardar o futuro improvável do incorrigível.Ali , livre do fracasso das prisões, silenciamos nossas armas, lavamos nossa alma, calamos nossas falhas.Silêncio: O berço dos significados.É isso...o silêncio é um lugar de encontro e auto descoberta .Um espaço de renascimento . O inominável habita ali.É ali que a fonte de alegria, felicidade, e força pode ser liberada. A ausência de certeza se encontra no silêncio .Então, eu sossego, repouso e descanso, esperando e calando toda dor e sofrimento .E, enquanto isso a Luz vai nascendo em mim , sussurrando em meu ouvido , dizendo: Você esta se desvendando e sua existência é infinitamente feliz.Viva agora!! 

Minha reflexão me fez lembrar de texto de Everton Behenck sobre Solidão e Silêncio

"Se você se encontra sozinho, só olhe para si e espere calado.Não interrompa o silêncio.Ele é um mundo falando .E é tanto.Não importune sua solidão com agendas de telefone ,com mensagens
antigas. Elas agora são sala vazia.E uma visita seria dolorida.É gratuita.Deixe que a solidão se assente.Espere paciente que ela encontre seu lugar em você.Provavelmente levará algum tempo,e o primeiro ímpeto.Será buscar abrigo no primeiro amigo que passar a porta.Mas é provável que seja inútil . Então, não faça .Deixe sua solidão descansar .Leve-a até a janela para que possa ver a rua ,e s sentir o vento no rosto.(A ausência precisa respirar).Pode acontecer uma certa vertigem pela violência com que se impõe de súbito.Esse novo e amplo espaço ao redor de você é a solidão.O desterro de pés no chão .Não saberá jamais se ela o perdeu ou você a ela.Mas isso já não será importante.Permita que sua solidão lhe conte o que tem guardado há tanto tempo enquanto você escondia-se dela nela.Escute atentamente e seja forte e calmo.E esteja pronto para algum choro quem sabe.Uma vontade de deitar.Uma sensação de que é tarde .A solidão sabe seu limite.E não fará nada em nome de uma dor deliberada .Entenda sua solidão e a nobreza do que ela traz. Nas mãos.Torne seu olhar brando e as mãos leves .Deixe que sua solidão lhe apresente, finalmente ,ao que eventualmente ,pode vir a ser você "

"E mesmo quando o barulho de fora for alto demais, confuso e estridente,Continue a tocar sua própria melodia no seu ritmo, calma e tranquilamente...Gabriela Saad

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