quarta-feira, 25 de setembro de 2013

S.O.S. Para Um Jardim de Inverno

Socorro, o inverno está assassinando o jardim! O susto é tanto que até ponto de exclamação usei. E uma coisa em mim diz olha, pedir socorro neste caso é inútil, ninguém pode ajudar. E outra coisa acrescenta como assim assassinando? Dito desse jeito o inverno não parece algo fatal, natural, inevitável, mas uma espécie de desastre ecológico. Ora, considere, inverno — ou verão ou primavera ou chuva ou ventania ou lua cheia — ou qualquer outro desses, digamos, fenômenos naturais — acontece a tudo e todos, sejam jardins, pássaros, homens, árvores, pedras e o imenso etc. que abrange essa vastidão que sintetizamos singelos como “o mundo”. Ou pelo menos o mundo das coisas visíveis, já que no das invisíveis a gente não sabe mesmo o que se passa. Ou sabe? Alguns dizem que sim. Será?

Mas estou me dispersando. O que quero dizer, com várias coisas dizendo outras coisas dentro de mim, com toda imprecisão e ambigüidade, e desta forma exata, não só com exclamação mas também com exagero da caixa alta, sinto muito, o que quero mesmo dizer é exatamente isto: SOCORRO, O INVERNO ESTÁ ASSASSINANDO O JARDIM!

É verdade, tenho provas. As rosas, por exemplo. Rosa, eu não sabia, é flor que não pára de florescer no inverno. As minhas pelo menos não, embora me lembre das “rosas de abril”, de Vinícius. Mas durante o inverno há botões nas rosas que não chegam a abrir, morrem antes, queimados pelo frio. Outros abrem e morrem no meio da abertura, em pleno ato de desabrochar, compreendem? É tristíssimo. E não é só isso. Há pragas inacreditáveis, assim na linha vírus Ebola, vindas não se sabe de onde, rondando para desabar sobre as plantas aterrorizadas. Caules que se tornam ocos, folhas que começam a amarelar e secar, manchas, e até uns grãozinhos duros que acabam se transformando em medonhas lagartas brancas minúsculas — como aconteceu a um jasmineiro tão jovem que não alcança sequer um metro de altura, e portanto este é seu primeiro inverno, portanto também não tem experiência desse tipo de guerra nem sabe como defender-se. Pois plantas mais antigas, suponho, são sabidonas, mesmo que saibam apenas o básico: que inverno passa. Acontece que meu jardim é quase todo de plantas muito jovens, marinheiras de primeira viagem. Inocentes, despreparadas.
E as formigas? Quanto mais rigoroso o inverno, mais usurárias ficam, naquela ansiedade de guardar, guardar, guardar. Em maio pensei que houvessem encerrado as atividades e, em suas casinhas abarrotadas, se preparassem para seu esporte de inverno preferido: sacanear cigarras. Nada: numa manhã de junho saíram todas à superfície para devorar uma begônia já grandinha, uma rosa-de-são-jorge (não sei como, é dura de roer), várias folhagens e um brinco-de-princesa já com quase dois metros, que estava sendo tramado até a sacada. Esqueci toda ideologia ecológica e fui de Baygon heavy metal pra cima delas. Santo remédio.
Desastres outros, poda-se o estrago com a tesoura, coloca- se vitamina na terra, água de alho e outros truques que, jardineiro de primeira viagem, também estou aprendendo neste Selvagem Embate Contra As Forças do Mal, assim mesmo em maiúsculas. Mas a luta continua. Fui obrigado a trazer para dentro de casa uma fragilíssima árvore japonesa da felicidade, no momento reduzida a uma minúscula folhinha verde. Cuido, olho, coloco no Sol, rezo. Há situações em que o máximo que se pode fazer é rezar. E esperar, claro, entre suspiros. Mais de meio julho e um agosto inteiro a atravessar. Conseguiremos resistir?
Até setembro. Sim, até setembro. Ah, até setembro.

Caio Fernando de Abreu In: O Estado de S. Paulo, 9/7/99
http://caiofabreu.blogspot.com.br/

sábado, 7 de setembro de 2013

Poesia e Saúde

"Segundo um estudo da Universidade de Liverpool publicado nesta terça-feira ler autores clássicos, como Shakespeare, William Wordsworth e T.S. Eliot, estimula a mente,  e a poesia pode ser mais eficaz em para saúde mental. Especialistas em ciência, psicologia e literatura inglesa da universidade monitoraram a atividade cerebral de 30 voluntários que leram primeiro trechos de textos clássicos e depois essas mesmas passagens traduzidas para a "linguagem coloquial".
Os resultados da pesquisa, antecipados pelo jornal britânico "Daily Telegraph", mostram que a atividade do cérebro "dispara" quando o leitor encontra palavras incomuns ou frases com uma estrutura semântica complexa, mas não reage quando esse mesmo conteúdo se expressa com fórmulas de uso cotidiano.
Esses estímulos se mantêm durante um tempo, potencializando a atenção do indivíduo, segundo o estudo, que utilizou textos de autores ingleses como Henry Vaughan, John Donne, Elizabeth Barrett Browning e Philip Larkin.
Os especialistas descobriram que a poesia (...)  afeta o lado direito do cérebro, onde são armazenadas as lembranças autobiográficas, e ajuda a refletir sobre eles e entendê-los desde outra perspectiva.
"A poesia não é só uma questão de estilo. A descrição profunda de experiências acrescenta elementos emocionais e biográficos ao conhecimento cognitivo que já possuímos de nossas lembranças", explica o professor David, encarregado de apresentar o estudo.
Após o descobrimento, os especialistas buscam agora compreender como afetaram a atividade cerebral as contínuas revisões de alguns clássicos da literatura para adaptá-los à linguagem atual, caso das obras de Charles Dickens."[1]






quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Filme Temple Grandin e O Autismo

Temple Grandin ainda é viva. Ela é uma Pensadora Visual .Um gênio Cheio de Coragem 


"As características essenciais do Transtorno Autista são a presença de um desenvolvimento acentuadamente anormal ou prejudicado na interação social e comunicação e um repertório marcantemente restrito de atividades e interesses. As manifestações do transtorno variam imensamente, dependendo do nível de desenvolvimento e idade cronológica do indivíduo. "Psiqweb


http://www.psiqweb.med.br/site/DefaultLimpo.aspx?area=ES%2FVerClassificacoes&idZClassificacoes=91

terça-feira, 3 de setembro de 2013

Vinícius de Mora

Ó vós, homens sem sol, que vos dizeis os Puros

E em cujos olhos queima um lento fogo frio
Vós de nervos de nylon e de músculos duros
Capazes de não rir durante anos a fio.
Ó vós, homens sem sal, em cujos corpos tensos
Corre um sangue incolor, da cor alva dos lírios
Vós que almejais na carne o estigma dos martírios
E desejais ser fuzilados sem o lenço.
Ó vós, homens iluminados a néon
Seres extraordinariamente rarefeitos
Vós que vos bem-amais e vos julgais perfeitos
E vos ciliciais à idéia do que é bom.
Ó vós, a quem os bons amam chamar de os Puros
E vos julgais os portadores da verdade
Quando nada mais sois, à luz da realidade,
Que os súcubos dos sentimentos mais escuros.
Ó vós que só viveis nos vórtices da morte
E vos enclausurais no instinto que vos ceva
Vós que vedes na luz o antônimo da treva
E acreditais que o amor é o túmulo do forte.
Ó vós que pedis pouco à vida que dá muito
E erigis a esperança em bandeira aguerrida
Sem saber que a esperança é um simples dom da vida
E tanto mais porque é um dom público e gratuito.
Ó vós que vos negais à escuridão dos bares
Onde o homem que ama oculta o seu segredo
Vós que viveis a mastigar os maxilares
E temeis a mulher e a noite, e dormis cedo.
Ó vós, os curiais; ó vós, os ressentidos
Que tudo equacionais em termos de conflito
E não sabeis pedir sem ter recurso ao grito
E não sabeis vencer se não houver vencidos.
Ó vós que vos comprais com a esmola feita aos pobres
Que vos dão Deus de graça em troca de alguns restos
E maiusculizais os sentimentos nobres
E gostais de dizer que sois homens honestos.
Ó vós, falsos Catões, chichisbéus de mulheres
Que só articulais para emitir conceitos
E pensais que o credor tem todos os direitos
E o pobre devedor tem todos os deveres.
Ó vós que desprezais a mulher e o poeta
Em nome de vossa vã sabedoria
Vós que tudo comeis mas viveis de dieta
E achais que o bem do alheio é a melhor iguaria.
Ó vós, homens da sigla; ó vós, homens da cifra
Falsos chimangos, calabares, sinecuros
Tende cuidado porque a Esfinge vos decifra...
E eis que é chegada a vez dos verdadeiros puros.
Vinicius de Moraes

Eu

Por Rosangela Brunet "O meu mundo não é como o dos outros: quero demais, exijo demais; há em mim uma sede de infinito, uma angústia...