domingo, 27 de setembro de 2015

Um lugar chamado "no-mind"



Todo artista é capaz de criar através de suas obras um lugar de "no-mind" : espaço de quietude interior, onde é possível não haver pensamentos,mas apenas um silêncio e quietude onde podemos tocar o desconhecido, o inominável. Sua criação nos transporta para este lugar. Por isso, somos tão intensamente atraídos por uma obra de arte ,mãs não sabemos explicar porque. Acessamos um lugar onde podemos nos conectar com uma dimensão profundamente distante de nós ,mas que se localiza no inconsciente pessoal e coletivo
Obra de Arte de autor desconhecido


sexta-feira, 25 de setembro de 2015

Meiguice, fofuras,inocência, delicadezas e pureza, preciso delas para respirar..

Eu coleciono fotos fofas, meigas, inocentes e que me inspiram pureza para que eu possa me salvar de mim mesma e de tudo que vejo no mundo. Gosto muito de ficar perto dessas coisas Tudo isso me inspira. Meiguice,pureza, fofuras e inocência, preciso delas para respirar...."A cura começa com a ternura

Toda pureza e ternura doada poderá transformar um pouco do mundo de alguém

"Levava uma vida sossegada..." Rita lee


A deliciosa amizade entre Gael e Frida
Mostra o dia a dia da amizade entre a pequena Gael e a cadelinha Frida.
Fotografia de Carla Raiter.Fonte : Cuidado -Caos Bravos!!
Fotografia de Carla Raiter.Fonte : Cuidado -Caos Bravos!!
Gostaram do modelito....? Não tô enxergando nadinha ,mas também não sinto frio...nadinha mesmo!! Nadinha de frio,nadinha de enxergar.... 

Essa foto eu postei no Facebook no dia 7 de setembro dem2015:Dia da Independência
Aquela hora que  ele para para refletir sobre o "grito de liberdade" que ecoa dentro da gente por mais de 190 anos ...."independência ou morte"
Tadinho do bichinho...ficou deprimido!!!

Eu quando me deixam no vácuo
Ai ele chega assim para você , e você não consegue dizer não!!
Hora de Mimi..


Em 20 de outubro assistindo o debate. Na expectativa porque todos os projetos serão resolvido: Ato Médico, 30 Horas para Enfermagem e Psicologia, Regularização de casamentos dos homossexuais,etc...É muita ingenuidade de quem acredita e muita hipocrisia de quem promete, e se utiliza destas questões que não se resolveram nos últimos 8 anos de mandatos
Eu assistindo o debate...



terça-feira, 22 de setembro de 2015

Palavras São Distrações

Por Rosangela Brunet
"...assim como o espaço em branco é importante no poema, assim como a pausa organiza a música, o saber pode brotar do silêncio. O jorro contínuo de palavra pode ostentar apenas ansiedade. O conhecimento pode se instalar no entreato.O silêncio também fala. É isto que se aprende durante as ditaduras. E por outro lado, durante as democracias se aprende que o discurso nem sempre diz. Portanto à audácia de desaprender o aprendido, soma-se a astúcia do silêncio."
Affonso Romano Sant’Anna Em Um "Discurso proferido no Palácio Capanema."

Obra de Alonso Pereira 
"O silêncio numa vibração Inatingível é habitação do inominável.Como um véu ladeando o impronunciável , não há quem o interprete. Pois, é ausência dos ruído das certezas .Noite de palavras.Sossego do pensamento repousando sobre a impossibilidade do dizer .Conhece a inação dos movimentos atravessando os dias sombrios, fazendo nascer ,assim, o desconhecido. E a paixão sempre será sua aliada, pois quando tudo termina , somente ela se sustenta nessa dimensão.O silêncio é misterioso oceano submerso.As palavras são distrações. É preciso se livrar delas .O que me importa é o inominável , o que eu anseio mesmo é o impronunciável. O silêncio, o não-dito, os entrecortes da fala, o significante do desejo , os desvios anunciando o vazio , o "não-saber' se estruturando sobre o inesperado. Que seja bem(dita) a palavra!! "Mas preste atenção no que eu não digo"
Quando a cena é muda a alegria é bonita só de existir, e a coragem espontânea se apresenta , visitando a paisagem cheia de felicidades antigas. Ali os meus olhos tem todos os sonhos que não cabem em mim , e cintilam surpresas anunciando futuros, porque ali habitam os que ousam amar enquanto não falam.

" Toda arte é uma forma de literatura, porque toda arte é dizer   qualquer coisa. Há duas formas de dizer - falar e estar calado. As artes que não são a literatura são as projeções de um silêncio expressivo. Há que procurar em toda a arte que não é literatura a frase silenciosa que ela contém, ou o poema, ou o romance, ou o drama."Fernando Pessoa 

Caricatura de Tullio Pericoli, Personaggi Illustri, Lisboa, Istituto Italiano di Cultura, 1988. 




segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Este Estranho Descansar

Por Rosangela Brunet 

O que me insiste nessa desistência é permanecer no desejo daquilo que ainda não sei ,mas narra uma esperança inocente de ser feliz. Esse rastro que me escapa é uma inconsequente alegria atraindo todas as formas de ser criança outra vez. O que persiste nessa sensação desconhecida é desconhecer o caminho e, ainda assim estar segura. É tua paz me guiando pelos becos escuros. É tua alegria descobrindo o melhor de mim. Uma rotina insensata imprimindo meu futuro que me olha de frente pra deixar a memória envelhecer Autêntica, e do tamanho da minha liberdade, me refaço nesse espaço que me abres e me faz crescer.Sem tropeços,abandono o cansaço de tentar ser outra; e me cerco dessa proteção cuja fortaleza se despede impermanente , e me introduz na eternidade dessa dimensão.
E que eu tenha forças para não me amparar nesta existência onde o risco é calculável. Que eu possa me esbarrar na trajtória do improvável e me desesperar de amor, e assim receber da Vida nessa hora o descanso de permanecer sempre grata. Que eu caiba dentro de mim sem me ferir ; e, que por fim tudo que me arranca a fé me diga adeus e me deixe passar.Então, irei em paz afogada nessa onda sem garantias, que desemboca do outro lado desse mar

Michael & Inessa Garmash

Aqui e Agora


Por Rosangela Brunet

Vida, por © Claudia Guedes
Aqui e agora . Como disse o texto de Goblen : ”Isto é tudo que há” e tudo que existe. O futuro ninguém conhece. Jonhn O. Stevens disse: “Prove-me que o mundo não foi criado há dois segundos, completo, com artefatos e recordações “
Sair do passado e estar no presente a sensação de não existência. Todos se agarram no passado pela necessidade da noção de existência, e as recordações e histórias vividas “supostamente” no passado fazem de nós alguém que existe. Fora isso , é o vazio, a desordem , o caos.
O futuro não existe, e nem podemos dizer que estaremos construindo-o ,pois ele não existe. O único tempo , única coisa que podemos dizer como ” realidade “ é o que esta acontecendo no Aqui e agora. São aas vibrações, percepções, sensações, as cores que vemos, o que sentimos neste momento, o que tocamos, o que cheiramos, o que degustamos, o que enxergamos ao redor ; as flores se abrindo, a chuva caindo, o ar nos tocando, a água nos molhando, O inverno, o verão ,o outono, a primavera que vivemos é apenas um conceito que experimentamos. Eles não são tempo, são estações que atravessam nossa dimensão nos impactando com suas maravilhas e belezas.
As relações com as quais estamos lidando, as práticas ,ações e atitudes que estamos expressando no aqui e agora é tudo que importa, pois podemos escolher agora estar (des)construindo , (re) contruindo ou destruindo no aqui e agora aquilo que desejamos e pensamos ser de valor

O Viver no Agora  é uma  proposta que esta na contra mão de muitas teorias  , pois  contrapõe  o hábito de viver no passado ,com suas lembranças, sentimentos cristalizados e pensamento engessados..
Encarar a vida  depende da forma como vemos o mundo  Se vemos o mundo de forma negativa, temos a tendência a nos refugiar para um lugar  mais confortável. Seja no passado bom que se viveu, seja ma fantasia de um futuro que não se sabe bem se virá . O pior de todas estas opçõess é quando o indivíduo não escolheu,mas de forma inconsciente esta fixado em algum onto passado de sua vida e não consegue se desligar. Assim é o neurótico. Em ambos os casos a pessoa pode adoecer, e a qualidade de vida esta comprometida,pois o prazer que satisfaz e realiza é o prazer advindo do Aqui e Agora, aquele prazer de estar em contato consigo mesmo,com seus potenciais , e assim saber estar no mundo mais inteiro e capaz de escolher com responsabilidade o que vai fazer com sua vida  
Ninguém pode construir em teu lugar as pontes que precisarás passar para atravessar o rio da vida – ninguém, exceto tu, só tu. Existem, por certo, atalhos sem números, e pontes, e semideuses que se oferecerão para levar-te além do rio; mas isso te custaria a tua própria pessoa; tu te hipotecarias e te perderias. Existe no mundo um único caminho por onde só tu podes passar. Onde leva? Não perguntes, segue-o. Nietzsche
 Vontando a falar sobre da forma como se vê o mundo impactando nossas escolhas, nosso "estar no mundo, nosso tempo de ação; temos que levar em conta nossas percepão de mundo. Nossa percepção da realidade esta diretamente ligada a experiências que tivemos, aos nossos esquemas de valores, aos nossos pensamentos limitantes e ás nossas crenças. A partir dai , desenhamos o mundo e fazemos escolhas. E, na maioria dos casos, estas escolhas parecem ter uma origem nos nossos desejos, necessidades e sonhos legítimos. No entanto, se o indivíduo vive no passado não tem a paercepção adequada para saber qual a realidade que mais lhe satisfaz.Se o indivíduo esta no futuro, focado e obcecado por metas  e traçando planos de ação e estratégias para ganhar e nunca perder, por medo do fracasso, esse indivíduo esta perdendo o melhor da vida, que é o Caminho, e não o pódio
Claro , que temos que fazer escolhas diariamente acertadas para termos uma profissão que nos traga segurança financeira e , em alguns casos, dependendo dos valores, pode-se até desejar o pódio.
Abrham Maslow diz que uma ds necessidades básicas do homem é a necessidade de saciar sua fome, depois estar seguro

 Me parece que estas prioridades tem sido deslocada de forma equivocada. A demanda social tem predominado e dominado o campo das escolhas individuais. Por isso, considero funfamental falrmos exaustivamente deste tema:Viva no Aqui e Agora. Entre em contato com você mesmo e descubra quem voçê é, o que você deseja e necessita e sonha; e aprenda a fazer escolhas a partir dai .

"É apenas isto, nenhum projeto nem manuscrito final sobrevive, com o qual se possa especular, porque eu os queimei. Nenhuma edição tem data, não distingo impressões, números, sinais ou cópias, então o que você assimila, colecionador, não será apreciado. Não ponha isto em sua prateleira, crítico, porque o papel especial dissolve no ar. Leia, isto é tudo; Agora é o único tempo para receber a hóstia de nosso sacramento antes que desapareça. Isto é tudo que há..." ( Peter Goblen ,In : "Agora)

O passado não tem mais como voltar. Acabou. Tudo o que esta acontecendo agora é o que importa. Não há uma forma, ou uma fórmula de reconstruir o passado. Podemos contar uma história sobre ele ,podemos escrever sobre ele, podemos relembrá-lo numa terapia.Aliás, o grande desafio da mente,do cérebro é se desapegar do passado, pois é a partir dele que temos a noção da nossa existência. Fora dele o sujeito se se vê como alguém que não existe . Em função disso a dificuldade de aceitar que o passado não existe mais, pois aceitar esse desapego ao passado cai-se no vazio, na sensação da não-existência, e isso é insuportável.
Claro, que falar sobre desapegar do passado, deixar de viver no passado não é um processo fácil, pois ele é constituído de uma história , e portanto se torna uma referencial, é uma história supostamente existencial contável .O passado ,ainda que seja uma história , ele acabou. Há quem diga que o passado é um mentira que que contamos para nós mesmos
A questão importante que se deve levar em conta é não se paralisar no passado, nas lembranças, presos a emoções ligadas a pensamentos e experiências passadas, pois isso pode ser sintomático e paralisar a vida .Por isso, é necessário entrar nesse processo de aprendizagem de sair dessa região, dessa instância, dessa dimensão passada. É urgente aprender a viver no aqui e agora
O futuro é um tempo que não existe,né? Não existe um futuro .Nem no tempo e nem no espaço . Segundo a mecânica quântica o único tempo que temos é este aqui. E quanto mais formos ampliando nossa consciência, nossa percepção vai se transformando e a realidade , como disse Einsteisn , “passa a ser uma ilusão ainda que persisitente!O único tempo que existe é este aqui. Este momento agora.” Somos Instantes”

O agora é um tempo fundamental para sermos realizados e plenos. Todos os setimentos, acontecimentos e situações que voc~e esteja experimentando no aqui e agora, sejam eles tristes ou alegres, é necessário vive-los intensamente, entrar em contato com eles, pois isso é tudo que temos. Seja bom ou ruim.Viva. Carpem Dien , seize the day.Curta. Enjoy it. Porque isso é tudo que vc tem.
E uanto mais rapidamente você aprender a exercitar, desfrutar do aqui é agora, mais você mais você vai ficando saudável ,sua percepção vai se transformando porque sua consciência vai se ampliando
Cada segundo, instante, temos que vier intensamente porque ele passa e não tem como voltar mais.
Compreendo que esta ideia é difícil de entender, e existe controvérsias por parte de muitos teóricos. Mas esse conceito tem base científica na área da neurociência, na física quântica e na Gestalt .
Na medida em que nos propomos, pelo menos, pesquisar, tentar aprender, e desfrutar dessa ideia, vamos descobrir que desfrutar do presente , construir relações no aqui e agora ,,curtindo cada situação e “amando como se não houvesse amanhã, porque na verdade não ha”. Mesmo que essas vivências sejam boas ou ruins, não importa. É necessário entrar em contato com o que estamos vivendo, sentindo, pois em cada situação ,por mais simples que seja, há uma mensagem existencial para nós. Além disso, no futuro não há saída e nem respostas, as saídas, respostas e recompensas, como disse Gobler, estão no hoje, no aqui e agora. Este é o nosso presente !!
Olhe para os lados, observe cada detalhe a sua volta. Sinta toda emoção que for possivelmente saudável, ainda que nessa hora seja a tristeza ou raia. Entre em contato com você mesmo, com suas emoções, com suas sensações internas, com suas reações diante de algum fato neste momento , o que passa na sua cabeça quando olha, cheira, toca, ou degusta algo. Olhe as portas que estão te escapando do olhar por estar vivendo no passado ou no futuro. Mesmo que esta porta se pareça pequena e seja a única porta que você consiga enxergar, mesmo que ela possa significar uma insignificante oportunidade. Entre nela para se certificar antes de passar direto ou quase sempre nem percebê-la. Pois tudo que você tem é este momento.Tudo que temos é isto, e é a única oportunidade de temos neste momento Olhe nos olhos das pessoas e tente apreender o que elas estão sentindo ou expressando ,ame quem esta ao seu lado Este é seu próximo, “e é par isso que estamos aqui para aprender, amar, observar e depois voltamos pra casa.”
Existe uma forma, uma fórmula. É um processo que exige aprendizagem .Não é um processo fácil, e nem adianta conhecer isso teoricamente, pois a não-experiência de mãos dadas com o conhecimento teórico é como um mapa de um lugar que nunca se viu

Esta é a minha proposta, o meu convite. Viva no Aqui e Agora. Aprenda como fazer isso. Não é fácil. Falar sobre isso teoricamente é bonito ,mas é necessário uma experiência, uma vivência processual. Ouse aprender a viver este processo , a participar deste processo .
Neste texto eu quis te motivar a se responsabilizar a ser você mesmo em harmonia com o universo.

Para isso , é necessário um processo de aprendizagem , há caminhos e dicas a se seguir. Mas hoje quero apenas falei sobre o tema.
Mas ,não esqueça, Viver no Aqui e Agora é o caminho que vai promover saúde mental e qualidade de vida para você. Esta é minha proposta, o meu convite.


Conheça meu canal no Soundclouds .Lá você encontra este texto falado por mim https://soundcloud.com/rosangela-brunet/sons-de-sexta-feira-entardecer

sexta-feira, 11 de setembro de 2015

Aprendam o SIlêncio

Por Rosangela Brunet
(Uma pesquisa sobre o Tema Solidão e o Cinema de Andrei Tarkovsk)
"Uma única coisa é necessária: a solidão. A grande solidão interior. Ir dentro de si e não encontrar ninguém durante horas, é a isso que é preciso chegar." (Rainer Rilke)
A palavra que nos falta esta sempre negociando nossa existência, nos tornando sujeito do que não conhecemos , nos constituindo e nos transformando naquilo que o outro nos determina. Que palavra é essa que não pronunciamos,indizível pelo que que nos falta ser...O que importa é o inominável; o que ansiamos é o impronunciável. Isso é o que nos define. Bem(dita) seja a palavra,mas "Mas preste atenção no que eu não digo."No "não dito" é onde habita o silêncio fértil , ali no entrecorte da comunicação, que fundamenta o que realmente importa . Por trás dos nosso "nadas" a palavra se esconde disfarçando universos temidos ....por isso, tanta gente tem dificuldade de conviver com o silêncio do outro e até do seu próprio. O poeta José Inácio Vieira de Melo disse: "As Palavras estão Grávidas " , e Livia Garcia Roza acrescenta " Estamos sempre no limite do impronunciável".
O silêncio é cheio de paisagens.Por isso , eles são tão caros, não suportam o barulho dos signos previstos no dicionários. O que não falo tem que ser dito sem formas e (de)formas des(conhecidas) ; ausentes das falácias cheias de rotinas nos olhos.As palavras são distrações. O que me importa é o inominável , o que eu anseio mesmo é o impronunciável. O silêncio, o não-dito, os entrecortes da fala, o significante do desejo , os desvios anunciando o vazio , o "não-saber' se estruturando sobre o inesperado. Que seja bem(dita) a palavra!! "Mas "preste atenção no que eu não digo" Quando a cena é muda a alegria é bonita só de existir, e a coragem espontânea se apresenta enxergando o paraíso , e visitando paisagens cheia de felicidades sonhadas,demolida pelas esperas aflitas de tanto falar.Ali os meus olhos tem todos os sonhos que não cabem em mim , e cintilam surpresas anunciando futuros; porque ali moram os que ousam calar,ali habitam os que amam.
O silêncio é composto de muitas palavras,mas elas necessitam de paz para entendê-as.Elas só falam a quem esta disposto a ouvir. O Silêncio só Fala quando Silenciamos em Paz. O silêncio vibra no Inatingível e habita no inominável.Como um véu ladeando o impronunciável não há quem o interprete. Pois é ausência dos ruído das certezas . Noite de palavras. Sossego do pensamento repousando sobre a impossibilidade do dizer. Experimentando a inação dos movimentos , atravessando os dias sombrios, fazendo nascer o milagre e desvendando o desconhecido.A paixão sempre será sua aliada, pois quando tudo termina , somente ela se sustenta nessa dimensão. O silêncio é um misterioso oceano submerso no infinito.O segredo da criação.É a terra fertilizando . Ali nos encontramos com o que somos. Somos livres dos mortais porque no silêncio ele subsistem .É Música da cor de céu.Longa interrupção sinestésica forçando pausas na existência. Sinal de que é hora de deitar as angústias, representar as esperanças,guardar o futuro improvável do incorrigível.Ali , livre do fracasso das prisões, silenciamos nossas armas, lavamos nossa alma, calamos nossas falhas.Silêncio: O berço dos significados.É isso...o silêncio é um lugar de encontro e auto descoberta .Um espaço de renascimento . O inominável habita ali.É ali que a fonte de alegria, felicidade, e força pode ser liberada. A ausência de certeza se encontra no silêncio .Então, eu sossego, repouso e descanso, esperando e calando toda dor e sofrimento .E, enquanto isso a Luz vai nascendo em mim , sussurrando em meu ouvido , dizendo: Você esta se desvendando e sua existência é infinitamente feliz.Viva agora!!
"...assim como o espaço em branco é importante no poema, assim como a pausa organiza a música, o saber pode brotar do silêncio. O jorro contínuo de palavra pode ostentar apenas ansiedade. O conhecimento pode se instalar no entreato.O silêncio também fala. É isto que se aprende durante as ditaduras. E por outro lado, durante as democracias se aprende que o discurso nem sempre diz. Portanto à audácia de desaprender o aprendido, soma-se a astúcia do silêncio." (Affonso Romano Sant’Anna Em Um "Discurso proferido no Palácio Capanema )
"O silêncio numa vibração Inatingível é habitação do inominável.Como um véu ladeando o impronunciável , não há quem o interprete. Pois, é ausência dos ruído das certezas .Noite de palavras.Sossego do pensamento repousando sobre a impossibilidade do dizer .Conhece a inação dos movimentos atravessando os dias sombrios, fazendo nascer ,assim, o desconhecido. E a paixão sempre será sua aliada, pois quando tudo termina , somente ela se sustenta nessa dimensão.O silêncio é misterioso oceano submerso.As palavras são distrações. É preciso se livrar delas .O que me importa é o inominável , o que eu anseio mesmo é o impronunciável. O silêncio, o não-dito, os entrecortes da fala, o significante do desejo , os desvios anunciando o vazio , o "não-saber' se estruturando sobre o inesperado. Que seja bem(dita) a palavra!! "Mas preste atenção no que eu não digo"
Quando a cena é muda a alegria é bonita só de existir, e a coragem espontânea se apresenta , visitando a paisagem cheia de felicidades antigas. Ali os meus olhos tem todos os sonhos que não cabem em mim , e cintilam surpresas anunciando futuros, porque ali habitam os que ousam amar enquanto não falam.
" Toda arte é uma forma de literatura, porque toda arte é dizer qualquer coisa. Há duas formas de dizer - falar e estar calado. As artes que não são a literatura são as projeções de um silêncio expressivo. Há que procurar em toda a arte que não é literatura a frase silenciosa que ela contém, ou o poema, ou o romance, ou o drama."Fernando Pessoa

Andrei Tarkovsk

Segundo Rejane Borges "O Cinema de Andrei Tarkovsky é complexo. Andrei Tarkovsky era complexo. Afirmou que "por meio do Cinema era necessário apontar os problemas mais complexos do mundo". E ele, de fato, situou os problemas do mundo em seus trabalhos. Era um existencialista, queria conhecer a fundo a consciência do Homem. Assistir a um filme de Tarkovsky é como dialogar com a filosofia. Intimista, detalhista, racional. Entretanto, este excesso de racionalismo é, por vezes, compensado por uma dose de fantasia, o que deixa seus filmes ainda mais intrigantes. . Começou sua carreira com o renomado "Andrey Rublev" (1966), sobre a vida do pintor russo de ícones religiosos. Considerado por muitos críticos sua obra-prima, o filme trata sobre fé e espiritualidade. Logo após veio Solaris (1972), uma profunda análise existencial que mistura ficção científica e filosofia. Em 1974 lançou "O espelho", quase um diário de memórias do diretor, com uma narrativa amparada nas poesias do próprio pai, o que confere um ar romântico ao enredo. É neste filme que Tarkovsky atiça todos os sentidos com uma originalidade surpreendente para a época. Em 1979 lançou "Stalker", também com traços autobiográficos, e venceu o "Prêmio da Crítica do Festival de Cannes", em 1980. "Stalker" trata, com maestria, as relações entre os indivíduos. A sede pelo autoconhecimento levou o cineasta a produzir uma obra que pode ser considerada uma das mais pessoais de todo o Cinema, uma obra quase que inteiramente autobiográfica, a qual buscava conceitos absolutos como a Verdade, o Amor, a Liberdade, a Consciência.Por ser inspirador foi chamado de "Dostoievski do Cinema". ...seus trabalhos continuaram com a mesma temática e em 1983 lançou "Nostalgia", com o qual regressa à infância em uma verdadeira odisséia de lembranças. Seu último filme foi "O Sacrifício", de 1986, permeando temas como determinação e esperança, levando quatro prêmios em Cannes. À época, o cineasta já estava combatendo um cancêr de pulmão que o levou à morte naquele mesmo ano.O cineasta exige de seu público certa introspecção, por serem seus temas sempre enigmáticos e apoiados em correntes filosóficas"[1]
Andrei Tarkovsk filmando "The Mirror" 


Segundo ABATE ALEPH " A solidão é, talvez, o exercício mais natural do nosso poder. Isso é quando nós crescemos alguns dos estado mais nutritivo para a mente eo espírito, quando experimentamos as tempestades mais substanciais e quietude mais reconfortante A pratica da solidão saudável é um veículo requintado. Nosso diálogo interno tem corantes especiais e nós temos que nos confrontar, auto-regular sem intermediários. No entanto, em muitos contextos, isso não é valorizado . É menosprezado , por suspeita ou mesmo por medo; é evitada a todo custo e está associada com a ideia de derrota social ou de tédio. E essa aversão cultural à solidão acaba privando milhões de pessoas a aproveitar, os benefícios que só ela fornece.

The Mirror (Зеркало)

Um entrevistador perguntou para Tarkovsky, placidamente no cimo de uma árvore. Para que o cineasta russo, cuja obra certamente comunga com elementos tais como pausa, silêncio e solidão, Ele responde que todos deveriam aprender a cultivar a solidão:"Eu não sei, eu acho que eu só gostaria de dizer : aprendam a estar sozinho e tentar passar o máximo de tempo possível com  vocês mesmos. Eu acho que uma das falhas entre as pessoas  é que elas tentam  ficar no meio de  eventos que são barulhentos, quase agressivo. Em minha opinião, esse desejo  e   evitar  de   sentir sozinho é um sintoma de se sentir  infeliz. Cada pessoa precisa aprender desde a infância como passar o tempo cosigo mesmas. Isso não significa que a pessoa deve estar sozinho, mas não deve ficar entediado com você mesmo, porque as pessoas entediadas com sua companhia pode estar em perigo no que diz respeito à auto-estima ." [1]
The Mirror (Зеркало)

The Mirror (Зеркало)

The Mirror (Зеркало)

Andrei Tarkovsky, Sculpting in Time


Rubem Alves diz :É preciso educar os ouvidos a ouvir, e ouvir frequentemente as coisas que não são ditas(...)Há uma voz, há alguma coisa que é dita nos interstícios "

Esta reflexão me fez lembrar de texto de Everton Behenck sobre Solidão e Silêncio




"Se você se encontra sozinho, só olhe para si e espere calado.Não interrompa o silêncio.Ele é um mundo falando .E é tanto.Não importune sua solidão com agendas de telefone ,com mensagens

antigas. Elas agora são sala vazia.E uma visita seria dolorida.É gratuita.Deixe que a solidão se assente.Espere paciente que ela encontre seu lugar em você.Provavelmente levará algum tempo,e o primeiro ímpeto.Será buscar abrigo no primeiro amigo que passar a porta.Mas é provável que seja inútil . Então, não faça .Deixe sua solidão descansar .Leve-a até a janela para que possa ver a rua ,e s sentir o vento no rosto.(A ausência precisa respirar).Pode acontecer uma certa vertigem pela violência com que se impõe de súbito.Esse novo e amplo espaço ao redor de você é a solidão.O desterro de pés no chão .Não saberá jamais se ela o perdeu ou você a ela.Mas isso já não será importante.Permita que sua solidão lhe conte o que tem guardado há tanto tempo enquanto você escondia-se dela nela.Escute atentamente e seja forte e calmo.E esteja pronto para algum choro quem sabe.Uma vontade de deitar.Uma sensação de que é tarde .A solidão sabe seu limite.E não fará nada em nome de uma dor deliberada .Entenda sua solidão e a nobreza do que ela traz. Nas mãos.Torne seu olhar brando e as mãos leves .Deixe que sua solidão lhe apresente, finalmente ,ao que eventualmente ,pode vir a ser você "


"E mesmo quando o barulho de fora for alto demais, confuso e estridente,Continue a tocar sua própria melodia no seu ritmo, calma e tranquilamente...Gabriela Saad


Referências :

[1]© obvious: http://obviousmag.org/archives/2010/09/o_cinema_poetico_de_andrei_tarkovsky.html#ixzz3lS4YW8E6
[2] PUBLICAÇÃO em Vital dicas [1] em 06 de abril de 2015 por ABATE ALEPH http://www.saludypsicologia.com/posts/view/619/name:Un-mensaje-de-Tarkovsky-para-los-jovenes-APRENDAN-A-ESTAR-SOLOS
Fonte de Fotografias 
http://madmuseum.org/series/andrei-tarkovsky-sculpting-time
http://www.blogsoestado.com/emcartaz/2014/07/09/grandes-diretores-andrei-tarkovsky/
http://www.madmuseum.org/events/mirror-%D0%B7%D0%B5%D1%80%D0%BA%D0%B0%D0%BB%D0%BE

quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Eros e Psique


"... A análise é um procedimento mitopoético, ou um procedimento mítico. Fazer alma e fazer mito estão em uma relação recíproca. Se a análise é uma encenação, então torna-se necessária uma narrativa relativa a este ritual - um mito... a psique vai à terapia em busca de eros. Temos estado à procura de amor para a alma. Este é o mito da análise...". (James Hillman em "O Mito da Análise")


Uma das lendas mais belas e conhecidas da mitologia grega é a de Eros e Psiquê. O conhecimentogeral da lenda se dá pela figura bastante difundida do anjo Eros (ou Cupido). Eros era filho da deusa do amor, Afrodite, um imortal de beleza inigualável.

Já Psiquê, mortal, era uma das três filhas de um rei, todas muito belas, capaz de despertar a admiração de qualquer pessoa, tanto que muitos vinham de longe para apreciá-las. Logo, as duas irmãs de Psiquê casam-se. Apenas a jovem não casa, ainda que seja a mais bela das três, e justamente por isso era a mais temida, já que sua beleza fazia seus pretendentes terem medo. Consultando os oráculos, os pais da jovem entristeceram-se pelo destino da filha, já que foram aconselhados a vestirem-na com trajes de núpcias e colocarem-na num alto de um rochedo para ser desposada por um terrível monstro! Na verdade, tudo fazia parte de um plano da vingativa Afrodite, que sofria de inveja da beleza da moça.

La escultura de Antonio Canova. » Eros y Psique

Assim que a jovem foi deixada no alto do rochedo, um vento muito forte, Zéfiro, soprou e a levou pelos ares e ela foi colocado em um vale. Psiquê adormece exausta e quando acorda parece ter sido transportada para um cenário de sonhos, um castelo enorme de mármore e ouro e vozes sussurradas que lhe informavam tudo que precisava. Foi levada aos seus aposentos e logo percebeu que alguém a acompanhava e logo descobriu que era o marido que lhe havia sido predestinado, ele era extremamente carinhoso e a fazia sentir bastante amada, mas ele havia colocado uma condição, que ela não poderia vê-lo, pois se assim o fizesse o perderia para sempre. Psiquê concorda com a condição e permanece com ele. O próprio Eros, que tinha sido encarregado de executar a vingança da mãe, se apaixonara por Psiquê, mas que tem de se manter escondido para evitar a fúria de Afrodite.

Com o passar do tempo, ela se sentia extremamente feliz, porque seu marido era o melhor dos esposos e a fazia sentir o mais profundo amor, mas resolve fazer-lhe um pedido arriscado: o de ir visitar seus pais, mesmo com a advertência dos oráculos e o temor do esposo, ela insiste, até que ele cede.

Da mesma forma que foi transportada até o seu novo lar, Psiquê vai até a casa dos pais. O reencontro gera a felicidade dos pais e a inveja das irmãs, que enchem-na de perguntas sobre o marido, e ela acaba revelando que nunca vira seu rosto. Elas acabam convencendo-na que ela deveria vê-lo e ela se enche de curiosidade.

Quando a noite chega e ela retorna à casa, o coração dela está totalmente tomado pela curiosidade, então ela acende uma vela e procura ver o rosto do marido.

Ela fica totalmente extasiada e encantada pela beleza estonteante do marido oculto, Eros, que teria feito esse pedido para que a esposa se apaixonasse pelo que é e não pela sua beleza. Psiquê ficou tão deslumbrada pela visão do esposo que não percebeu que uma gota da cera da vela pinga no peito do amado e o acorda assustado. Ele, ao ver que ela tinha quebrado a promessa, a abandona.

Sozinha e infeliz, Psiquê começou a vagar pelo mundo. Passando, assim, por vários desafios e sofrimentos impostos por Afrodite como uma vingança por ela ter ferido o seu filho, a jovem luta tentando recuperar o seu amor, mas acaba entregando-seà morte, caindo num sono profundo. Ao vê-la tão triste e arrependida, Eros, que também sofria com a ausência da amada, implorou a Zeus que tivesse misericórdia deles. Com a concessão de Zeus, Eros usou uma de suas flechas, despertando a amada, transformando-a numa imortal, levando-a para o Olimpo.

A partir daí, Eros e Psiquê nunca mais separaram-se. O mito de Eros (o amor) e Psiquê (a alma) retrata a união entre o amor e a alma.

Em grego "psiquê" significa tanto "borboleta" como "alma". Uma alegoria à imortalidade da alma, simboliza também a alma humana provada por sofrimentos e aprovada, recebendo como prêmio o verdadeiro amor que é eterno.

Fonte:
KERÉNYI, C. Os Deuses Gregos. Trad. O.M. Cajado. São Paulo: Cultrix, 1993.
SOUSA, E. História e Mito. Brasília: Ed. UnB, 1981.
Arquivado em: Mitologia Grega
InfoEscola: http://www.infoescola.com/mitologia-grega/eros-e-psique/

terça-feira, 8 de setembro de 2015

Adélia Prado

Inspiração Divina e Inteligência Humana na Obra de Adélia Prado - um estudo sobre sua obra recente(1)



Cecília Canalle
Mestre em Educação - FEUSP

1. Vida como vocação divina

"Teodoro falou uma coisa alinhada de perfeita:
'a vocação é um afeto'. "
(Manuscritos de Felipa, p.104.)
Muitos escritores apresentam fases. Fases temáticas, fases relativas à forma, fase relativas à época. Adélia Prado, interessantemente, parece não tê-las. Sua obra é una. Sabe a que vem, em que reside sua qualidade e qual seu tema. Desde o primeiro livro, Adélia tem assinatura.
A um leitor ou crítico desatento, surgiriam frases indicando uma possível repetição. Ledo engano. Há que se discernir entre o que se apresenta em formatos estapafúrdios cheirando a plástico de cores inesperadas camuflando um conteúdo de um eu diluído, inconsistente e os temas sempre fincados nas circunstâncias cotidianas perspassados por uma ordo(2) permanente. Permanente e, esperamos, imutável uma vez que fundamento e consistência de seu trabalho ede sua experiência: “O mundo está certo! Graças a Deus dá pra continuar.”(3)
O velho está relacionado a inconsistência. O novo à revelação permanente da Verdade. Essa revelação, em Adélia Prado, se dá sempre através daquilo que ela mesmo define como sendo a única matéria da poesia: "essa vidinha besta"(4). É com ela e através dela – sempre e, nesse sentido sim, enquanto método, repetitivamente que a escritora fará metafísica. O pesquisador Gabriel Perissé define o artista como um combinador. “A arte de combinar o céu e o inferno e de fazer que vejamos entre eles um vínculo superior, inteligente – visão que nos torna lúcidos.”
Sua escrita é caracterizada pelo fluxo da consciência, unido a uma espécie de medo de chegar muito perto daquilo que o momento poético vai revelar quase à sua revelia. Quase porque o momento poético é dado divinamente como ela afirma, mas não se manifesta sem sua anuência e estilo próprio.

Direitos humanos

Sei que Deus mora em mim
como sua melhor casa.
sou sua paisagem,
sua retorta alquímica
e para sua alegria
seus dois olhos.
Mas esta letra é minha.
(Oráculos de Maio, p.73.)

Assim, cinco anos sem publicar e já tendo se distanciado de seu público outras vezes(5), Adélia Prado faz confirmar aquilo que sempre declara: “Artista nenhum gera sua própria luz.”(6) , mas esse Dom é perspassado pela sua observação humana única e próprio daquele ser. A arte como revelaçao divina não é psicografia, mas é carne do poeta humano transpassada pelo chamado divino: “Qualquer língua ao final é Deus falando, por isso nos escapa tanto, só se mostra ao desfocado olhar da poesia, à sua densa névoa, quando tudo suspende-se ao juízo e apenas cintila, em vapores d’água, orvalho, vultos movendo-se em neblina. Você pressente e teme porque a beleza é viva e te olha. Chama pelo nome ao que a procura.”
A beleza é uma das faces de Deus que chamará o homem para que o revele. Rodin esclarece que “não há , na realidade, nem estilo belo, nem desenho belo, nem cor bela. Existe apenas uma única beleza, a beleza da verdade que se revela. Quando uma verdade, uma idéia profunda, ou um sentimento forte explode numa obra literária ou artística, é óbvio que o estilo, a cor e o desenho são excelentes. Mas eles só possuem essa qualidade pelo reflexo da verdade."(7)

Mitigação da pena

O céu estrelado
vale a dor do mundo.
(Oráculos..., p.119)

Nada escapa à concepção de arte como vocação. Ritmo e a precisão vocabular: cada palavra surge precisamente posta naquele desejado lugar. Algo de fazer inveja aos parnasianos, “poetas cerebrais” que ela mesma ironiza no poema "A formalística" e reafirma nos de Oráculos de Maio:

Salve Rainha 
O intenso brilho

(..) isto é um poema – tem ritmo, ...quero ouvir tua alma,
obedece à ordem mais alta a que mora na garganta
e parece me ignorar. como em túmulos
(Oráculos..., p.17) esperando a hora da ressurreição,...
(Oráculos..., p. 51)

A formalística

O poeta cerebral tomou café sem açúcar
e foi pro gabinete concentrar-se.
Seu lápis é um bisturi
que ele afia na pedra,
na pedra calcinada das palavras,
imagem que elegeu porque ama a dificuldade,
o efeito respeitoso que produz
seu trato com o dicionário. (...)
(Poesia Reunida, p.376)


Mesmo assim, sendo graça e dom, o cumprimento da vocação, o reconhecimento e a resposta a um chamado contínuo são muito exigentes, principalmente, porque a alma parece tender à distração.

O poeta ficou cansado

Pois não quero mais ser Teu arauto.
Já que todos têm voz,
por que só eu devo tomar navios
de rota que não escolhi?
Por que não gritas, Tu mesmo,
a miraculosa trama dos teares,
já que Tua voz reboa
nos quatro cantos do mundo?
Tudo progrediu na terra
e insistes em caixeiros-viajantes
de porta em porta, a cavalo!
(...)
Ó Deus,
me deixa trabalhar na cozinha, (...)
(Oráculos..., p.13.)

2. Mirandum e theoria: o olhar admirado que não se impõe sobre o objeto

“Você da janela contempla, contempla, porque é um não-ver com os olhos,
folhas brilhando coroadas de gotas...”(Manuscritos..., p.42.)

Adélia Prado é a escritora da observação. É um ser posto no mundo sentado à porta de seu quintal, sob aqueles degraus em que se costumam descascar e comer laranjas.
Desse posto de observação, olha atentamente para aquela parte do mundo que a circunstância da hora ilumina. E para nós, leitores, que só a lemos em seus claros momentos poéticos, afirmamos que Adélia sempre se maravilhará com o que vê: seja dor, seja alegria. Entendamos que a escritora mineira não é um estado poético permanente porque isso não seria humano. Mas aquilo que nós é dado ler, ou seja, a arte de que ela é instrumento, são flagrantes desse instante de lucidez denominado momento poético.
O adjetivo participial latino neutro mirandum significa admirável, aquilo, seja o lá que for, que suscita admiração. Mas esclarece o filosófo alemão Josef Pieper que tal admiraçao não é oriunda do estapafúrdio, mas de “perceber no comum e no diário aquilo que é incomum e não-diário”.(8)
Adélia Prado traduz, perfeitamente, esse conceito milenar na maioria de seus poemas, recuperando, para o leitor, o bom assentado sobre a simplicidade.

Mater dolorosa
(...) Uma vez fizemos piqueninque,
ela fez bolas de carne
pra gente comer com pão.
Lembro a volta do rio
e nós na areia.
Era domingo,
ela estava sem fadiga
e me respondia com douçura.
Se for só isso o céu,
está perfeito.
(Oráculos..., p.47)

É, também, Josef Pieper em seu livro Felicidade e Contemplação quem explica que o termo theoria significa “atividade intelectual puramente perceptiva, afastada de qualquer utilidade ‘desinteressada’entendendo com isto a exclusão de qualquer utilitarismo ou proveito.” E ainda “theoria e contemplatio tendem única e exclusivamene a que a realidade vista se torne clara e evidente, que se manifeste e se descubra; tendem à verdade, e nada mais.”
Sem observação, sem esse olhar livre e descompromissado, a theoria do antigos, o canal de comunicação entre a ordo imanente do objeto e o ser observado, se turva.

Oficina Na terra como no céus

O mundo é ininteligível, Nesta hora da tarde,
mas é bom. quando a casa repousa
(Oráculos..., p.69.) a obra de minhas mãos
é esta cozinha limpa.
(Oráculos..., p.101.)

3. Circunstância: onde o humano e o transcendente se encontram

“Tudo que existe conta.” (Manuscritos..., p.107.)

A circunstância

As circunstâncias são fator essencial da vida, não um fator secundário. Se o transcendente se manifesta encarnadamente, como afirma a escritora: "a transcendência mora, pousa nas coisas... está pousada ou está encarnada nas coisas."(9) então a matéria-prima da arte, porque da vida, é o cotidiano na sua circunstância mais prosaica.

Domus

Com seus olhos estáticos na cumeeira
a casa olha o homem.
A intervalos
lhe estremecem os ouvidos,
de paredes sensíveis,
discernentes:
agora é amor,
agora é injúria,
punhos contra a parede,
pânico.
Comove Deus
a casa que o homem faz para morar,
Deus
que também tem os olhos
na cumeeira do mundo.
Pede piedade a casa por seu dono
e suas fantasias de felicidade.
Sofre a que parece impassível.
É viva a casa e fala.(Oráculos..., p.25.)

O importante é ressaltar que observação e circunstância são dois alicerces da poética adeliana, seu material, seu tijolo. Sem elas, dificilmente, surgiria o momento poético uma vez que, como diz a própria escritora: “Eu vejo as coisas como manifestação – até uma cadeira de plástico - ela manifesta.”(10).
Portanto a circunstância é o cruzamento do momento e do espaço precisos em que a vida acontece. A escritora se depara com a circunstância e a contempla. Essa experiência de estupor gera outra necessidade completamente humana: a busca das razões, ou seja, compreender aquilo que vê. A autora em questão reconhece aquilo que Agostinho afirmara há 1600 anos: “O tempo é um vestígio da eternidade.”(11) Esse vestígio é a força motriz de sua obra e, ousamos dizer, também de sua autora.
Adélia reconhe a eternidade à espreita dentro de qualquer aparências sua obra é a expressão de um conjunto enorme de cirucunstâncias que a convidam a reconhecer o seu destino.

A busca de razões

“Havia uma ordem no mundo,
de onde vinha?”
(Poesia Reunida, p.314)

Possivelmente, uma das características mais significativas e definidoras do homem esteja relacionada à contemplação como de busca de sentido. Platão chega a afirmar em Crátilo, ou "Sobre a justeza dos nomes", que “o nome anthropos significa que, ao contrário dos outros animais que não examinam o que vêem, nem o analisam, nem contemplam, o homem, ao mesmo tempo que vê - pois é isso, justamente, que quer dizer opôpe - contempla e analisa o que viu. Por isso, dentre todos os animais é o homem o único justamente denominado Anthropos, ou seja, anathrôn ha ópôpe, o que contempla o que vê”.(12)
O segundo passo, portanto, da contemplação será o “analisar”, o reconhecer, ou seja, conhecer novamente, agora, extraindo do que vê algo que lhe está além. Adélia Prado reconhece a ratio e a ordo no mundo descritas por Tomás de Aquino. Ou seja, a inteligência criadora nas coisas. Dessa forma, necessariamente, ocorpus adeliano afirma um mundo que não é caos, mas ordem e sentido, um mundo cujas coisas estão “marcadas por um caráter verbal, não sendo meras realidades ou significações privadas de sentido num espaço mudo” como atesta Romano Guardini.(13) Ao fazer a experiência de reconhecimento do sentido no mundo, o eu-lírico não suportará a aridez de afeto ao observador que é o mundo caos e contingência.
No poema, "Estação de maio", a escritora retoma um de seus mais freqüentes temas: a “ausência de poesia” e a consequente súplica para que Deus lhe tire dessa aridez: não perceber a conexão entre realidade circundante e transcendência.

Paixão

De vez em quando Deus me tira a poesia.
Olho pedra, vejo pedra mesmo.
O mundo, cheio de departamentos,não é a bola bonita caminhando
solta no espaço.
(Poesia Reunida, p.199.)

Ausência de poesia

Aquele que me fez me tirou da abastança,
Há quarenta dias me oprime do deserto. (...)
Ó Deus de Bilac, Abrãao e Jacó,
Esta hora cruel nào passa?
Me tira desta areia, ó Espírito,
Redime estas palavras do seu pó.
(Poesia Reunida, p.189.)


Nem um verso em dezembro

Nem um verso em dezembro,
Eu que para isso nasci e vim ao mundo. (...)
(Poesia Reunida, p.157.)

Estação de maio

A salvação opera nos abismos.
Na estaçào indescritível,
o gênio mau da noite me forçava
com saudade e desgosto pelo mundo.
A relva estremecia
mas não era pra mim,
nem os pássaros da tarde.
Cães, crianças, ladridos,
despossuíam-me.
Então rezei: salva-me, Mãe de Deus,
antes do tentador com seus enganos.
A senhora está perdida?
Disse o menino,
é por aqui.
Voltei-me
e reconheci as pedras da manhã.
(Oráculos..., p.127.)

A dor que atinge o eu-lírico e o torna um suplicante por sentido advém de uma constatação: percebia algo que, ao perder, tornou tudo árido. Além dessa súplica, no reconhecimento da miserabilidade humana, esse conjunto de poemas provoca o leitor na busca das razões últimas daquilo que sua vida intercepta: odesiderium sciendi.
Teodoro quis saber. Disse que não posso esquecer da revoada. Será que um dia saberemos a razã das coisas? Por que um bando de passarinhos resolve, sem ser por comida, defesa do ninho, ameaça extera, sobrevoar um lote vago que só tem capim alto e alicerce abandonado, produzindo felicidade em nós?(Manuscritos..., p.51.)

Bulha

(...) Como é possível que a nós, mortais, se aumente o brilho nos olhos
porque o vestido é azul e tem um laço?
(Poesia Reunida, p.116.)

Aqui, estamos nos referindo ao conceito de quidditas. “A natureza da razão (que é a de compreender a existência), define o teólogo italiano Luigi Giussani, obriga por coerência, a razão mesma a admitir a existência de um incompreensível, isto é, a existência de Algo (de um quid) constitucionalmente além de toda a possibilidade de compreensão e de medida.”(14)
O eu-lírico adeliano afirmará peremptoriamente, a cada frase, diante de todo o tipo de desconcerto de mundo: sim, o mundo é ordem, é inteligência geradora contínua.
Se há ordem no mundo?
“Que nada mude, Senhor”(15)

4. O tema da rotina: a expressão da ordem do mundo

Mural

Recolhe do ninho os ovos
a mulher
nem jovem nem velha,
em estado de perfeito uso.
Não vem do sol indeciso
a claridade expandindo-se,
é dela que nasce a luz
de natureza velada,
é seu próprio gosto
em Ter uma família,
amar a aprazível rotina.
Ela nào sabe que sabe,
a rotina perfeita é Dues:
as galinhas porão seus ovos,
ela porá a sua saia,
a árvores a seu tempo
dará suas flores rosadas.
A mulher não sabe que reza:
que nada mude, Senhor.
(Oráculos..., p.39.)


Esta escritora de versos aparentemente pacatos e piedosos estraçalha, com meia dúzia de versos, a sociedade moderna. Faz uso de certas palavras como se elas não fossem inimigas atrozes deste tempo. Observemos, por exemplo, “a rotina perfeita é Deus”. Adélia Prado coloca lado a lado: rotina, perfeita, Deus. Ora, execramos a rotina. Todas as propagandas e filmes são um convite incontrolável a que nossas vidas- sempre vistas como algo insosso - ganhem sabor pelo Hollywood de nossos cigarros e que, por fim, gozemos de nossa merecida liberdade seguindo o promissor horizonte da ponta de nosso próprio nariz.
A sociedade moderna identifica no cheiro do plástico a possibilidade de ser feliz novamente. Não encontrando sentido nas atividades simples e repetitivas do cotidiano, o homem - aquele ser da natureza que busca sentido permanentemente - vê na substituição dos elementos que já perderam seu fator de inusitado, de inesperado a possibilidade de sentir-se feliz novamente. Por isso a expressão “rotina perfeita” apresenta-se como um paradoxo, só quem tem a chave de seu sentido pode decifrá-lo.
Em um mundo conturbado e tecnológico caracterizado pelo clamor por melhores condições de toda a espécie, o que faz com que o eu-lírico de Oráculos de Maioseja razoável ao afirmar: “que nada mude, Senhor.”? Estamos diante de mais um dos aparentes paradoxos adelianos, daquilo que define sua obra, seu fio condutor: o mundo é ordo, escondida, maquiada, misteriosa; mas ordo.
Existe uma ordem no mundo? Adélia Prado responderá em cada linha de toda sua obra: Sim, há ordem, há sentido, há procedência no mundo mesmo diante da dor. Aqui, está grande parte de sua força poética expressa com clareza constrangedora em Fibrilações: “Tanto faz funeral ou festim/tudo é desejo/ o que percute em mim”(16). O sentido não se origina da oscilação entre estabilidade e quebra de rotina, não se dá pela possibilidade de se ter um mundo pessoal organizado social e financeiramente com momentos de aventura rompendo o cotidiano. Para esta escritora de raízes filosóficas profundas, a felicidade tem sua existência independente de “condições climáticas” favoráveis. Ela reside em um mundo sustentado por um Deus criador que o sustenta a cada instante.

Por isso e portanto: “que nada mude, Senhor.”

5. Dois exemplos paradigmáticos

Pelicano

Um dia vi um navio de perto.
Por muito tempo olhei-o
com a mesma gula sem pressa com que olho
Jonathan:
primeiro as unhas, os dedos, seus nós.
Eu amava o navio.
Oh! eu dizia. Ah, que coisa é um navio!
Ele balançava de leve
como os sedutores meneiam.
À volta de mim busquei pessoas:
olha, olha o navio
e dispus-me a falar do que não sabia
para que enfim tocasse
no onde o que não tem pés
caminha sobre a massa das águas.
Uma noite dessas, antes de me deitar
vi - como vi o navio - um sentimento.
Travada de interjeições, mutismos,
vocativos supremos balbuciei:
Ó Tu! e Ó Vós!
- a garganta doendo por chorar.
Me ocorreu que na escuridão da noite
eu estava poetizada,
um desejo supremo me queria
Ó Misericórdia, eu disse
e pus minha boca no jorro daquele peito.
Ó amor, e me deixei afagar,
a visão esmaecendo-se,
lúcida, ilógica,
verdadeira como um navio.
(Poesia Reunida, p.359)


Neopelicano

Um dia,
como vira um navio
pra nunca mais esquecê-lo,
vi um leão de perto.
Repousava,
a anima bruta indivídua.
O cheiro forte, não doce,
cheiro de sangue a vinagre.
Exultava, pois não tinha palavras
e não tê-las prolongava-me o gozo:
é um leão!
Só um deus é assim, pensei.
Sobrepunha-se a ele
um outro animal
radiando na aura
de sua cor maturada.
Tem piedade de mim, rezei-lhe
premida de gratidão
por ser de novo pequena.
Durou um minuto a sobre-humana fé.
Falo com tremor:
eu não vi o leão,
eu vi o Senhor!
(Oráculos..., p.139.)


Algumas estruturas são constantes em Adélia Prado.
A associação de diversos aspectos aparentemente díspares, parecendo uma sucessão de idéias jogadas;
A freqüente divisão do poema em duas partes e
O salto final no qual o transcendente explode, se revela e se oferece dentro do “varejão dos dias”.

"Pelicano" e "Neopelicano" expressam de maneira exemplar a obra adeliana: forma e conteúdo amalgamados. Não somente porque os aspectos mais característicos de seu estilo aí se concentram, mas também porque a sua maneira de observar o mundo e de juntar as pedras desse quebra-cabeças decodificando-lhe o signficado aé se apresentam. Nesses poemas, de modo particular, o transcendente toca a realidade e – sempre através dela , com ela, - grita a sua existência. A consistência, aquilo que a faz existir continuamente, que permite que a realidade continue existindo, seja produzida é identificada e revelada nesses textos.

O bom disso é que não se tratam de duas realidades díspares: navio e Deus, leão e o Senhor. Navio e leão, como já nos esclarecia Santo Tomás há sete séculos, participam do Criador(17). Não são o fogo, mas transmitem o seu calor por isso é possível identificar a ordem no mundo, por isso é possível depreender-lhe o sentido, por isso é possível cumprir uma vocação e experimentar a intensidade da vida na rotina.

Ao término da leitura de Oráculos de maio e Manuscritos de Felipa constata-se que a escritora mineira não perdeu o eixo de onde brota a força dessa obra. E mais que seu desejo fez-se livro:

Sonhava escrever um dia um livro maravilhoso, um livro como os Salmos,

os escritos de Qûmram, uma coisa que lida provocasse esta exclamação:

Existe Deus! (Cacos para um Vitral, p.75)

(1)Manuscritos de Felipa e Oráculos de Maio, São Paulo, Siciliano, 1999.

(2) Abordaremos esse tema no item "Rotina: a ordem do mundo".

(3) Encontro com escritores: “Minas além das Gerais, Rio de Janeiro,”03 de junho de 1995.

(4) Entrevista concedida por Adélia Prado ao Dr Luiz Jean Lauand em 05/11/93, São Paulo.

(5) Entre Componentes da Banda e O homem da Mão Seca passaram-se três anos.

(6) Cacos para um Vitral, p. 123.

(7) RODIN, Auguste. A arte. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1990, p. 73., cit. por Gabriel Perissé. "Beleza", Mirandum 5 neste mesmo site.

(8) Que é filosofar? Que é acadêmico?, São Paulo, EPU, p. 27.

(9) Entrevista concedida por Adélia Prado ao Dr Luiz Jean Lauand em 05/11/93, São Paulo.

(10) Entrevista concedida por Adélia Prado ao Dr Luiz Jean Lauand em 05/11/93, São Paulo.

(11) De Genesi,lib. Imperf. XII, 38

(12) In CANALLE, Cecília. Fundamentos Filsóficos da Poética de Adélia Prado, p.59.

(13) In CANALLE, Cecília. Fundamentos Filsóficos da Poética de Adélia Prado, p.59.

(14) O Senso Religioso, p.169.

(15) Oráculos..., p.39.

(16) Poesia Reunida, p.310.

(17) “Assim como o bem criado é certa semelhança e participação do Bem Incriado, assim também a obtenção de qualquer bem criado é certa semelhança e participação da felicidade definitiva.” SÃO TOMáS DE AQUINO cit. por LAUAND. In. Linguagem e Ética, p.15.




Fonte :http://www.hottopos.com.br/videtur11/aprado.htm

Eu

Por Rosangela Brunet "O meu mundo não é como o dos outros: quero demais, exijo demais; há em mim uma sede de infinito, uma angústia...